Uma das grandes revelações em termos de mangá e animação japonesa nos anos 90, a obra Yu Yu Hakusho, de Yoshihiro Togashi, só não fez mais sucesso na terra do Sol nascente porque, quando foi lançada, estava competindo com nomes de peso como Macross Plus e Dragon Ball Z (ambos em sua melhor fase), no entanto, ele tem todos os elementos que fazem os fãs dos traços japoneses vibrarem: história envolvente com toques de humor, belos desenhos, batalhas épicas e magias enormes.
Curiosamente, o desenho não demorou a chegar em nosso país e começou a passar na extinta TV Manchete por volta de 1996. Na época, a cultura de animação japonesa ainda era novidade em nosso país logo após a febre de Cavaleiros do Zodíaco e pouco antes da febre Dragon Ball. É verdade que os primeiros desenhos japoneses chegaram muito antes, ainda na década de 70, com Sawamu e na década de 80 com Pirata do Espaço, Zillion e o primeiro Macross, mas o boom da animação japonesa só chegou mesmo com Cavaleiros do Zodíaco em 1994, que abriu as portas de nosso país para a cultura oriental dos animes.
Talvez por este “momento ressaca” da ótima repercussão de Cavaleiros do Zodíaco, quando Yu Yu Hakusho chegou, ele não obteve uma recepção tão forte, mesmo sendo infinitamente superior tanto no quesito enredo, quanto em animação e efeitos. Com o tempo, porém, ganhou seus adeptos e formou uma boa legião de seguidores. O desenho, infelizmente, acabou engavetado no Brasil com a falência da Manchete alguns anos depois e o seu futuro parecia incerto já que os seus direitos de exibição ainda pertenciam aos falidos empresários da emissora.
A Editora JBC, no entanto, não quis saber dos problemas jurídicos envolvendo a obra e aproveitou os antigos fãs para arriscar e lançar o mangá original da série em nosso mercado assim como a Conrad fez com Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. A recepção, mais uma vez, foi excelente.
Assim como ocorre com Dragon Ball, o mangá de Yu Yu Hakusho também possui pequenas diferenças em relação à versão animada da série. Mas enquanto a saga de Goku é bem mais enrolada no anime do que em seu “gibi japonês”, com a obra de Togashi ocorre um curioso processo inverso, onde a versão mangá tem alguns pontos a mais e complementos que não existiam no desenho. Não que estes quadrinhos adicionais sejam importantes para entender todo o contexto. Na verdade, quem já acompanhou a primeira exibição do desenho no Brasil não irá se surpreender ao encontrar a mesmíssima história e os mesmos personagens divertidos que nos encantaram há quase uma década.
A respeito da história, ela nos conta um pouco da vida de Yusuke Urameshi, um garoto de 14 anos, arrogante e brigão, que só pensa em curtir e nunca leva nada a sério. A vida de Yusuke se transforma completamente quando ele morre ao salvar uma criança de um atropelamento. Por ter cometido um ato tão nobre segundos antes de morrer e ter surpreendido até mesmo Deus (a versão japonesa que se chama Emma e também aparece em Dragon Ball), ele ganha a chance de ressuscitar, mas para isso precisa se tornar um detetive sobrenatural, ou seja, ele recebe certos poderes e capacidades e deve ajudar o Céu a livrar a Terra dos demônios (conhecidos como Youkais).
Exatamente como grande parte dos trabalhos japoneses, Yu Yu Hakusho também é dividido em capítulos (sagas) que, quase sempre, mostram a luta de Yusuke contra vários inimigos até chegar em um demônio mais poderoso para uma daquelas batalhas que duram páginas e mais páginas de golpes mirabolantes e muita criatividade. A primeira saga é a luta de Yusuke para ressuscitar, onde ele tem que provar seu valor ao Céu e recuperar alguns objetos roubados por Youkais em um determinado período de tempo. A segunda saga é o Torneio das Trevas, que funciona exatamente como os grandes torneios de artes marciais já apresentados em Dragon Ball. Considero esta a saga mais desinteressante. A terceira é a luta contra Shinobu Sensuy, o detetive sobrenatural que precedia Yusuke e que hoje é um inimigo da raça humana por não se conformar com as atrocidades que podemos cometer (esta é a saga mais legal, na minha opinião). A quarta e última, é a busca de Yusuke pelo seu verdadeiro Pai e seu passado misterioso (qualquer ligação com Dragon Ball, de novo, não é mera coincidência).
Além de Yusuke Urameshi, marcam presença na equipe também o seu colega de colégio, Kuwabara, o frio e calculista, Hiei, o puro, mas poderoso Kurama, e a mestra arrogante, Genkai, além de outros personagens de menor importância para a trama.
Uma grande pedida para os fãs dos mangás japoneses e para qualquer pessoa que esteja atrás de uma história envolvente, com várias reviravoltas e um leve toque de humor negro. O mangá da JBC está com o preço tabelado em R$ 4,90 e, atualmente, está no número 31 (saga do Sensuy). O anime também voltou a figurar em nossa televisão, desta vez pelo Cartoon Network, que aparentemente comprou os episódios novamente do Japão e refez todo o processo de dublagem com grande parte da equipe que dublou o original na TV Manchete.