Mais um filme francês… Mais uma incógnita… Será que dessa vez eu vou conseguir entender alguma coisa ou vou sair do cinema me achando um total ignorante? Em se tratando de um filme de Godard, apenas uma certeza se pode ter, ou vai-se amá-lo ou odiá-lo, sem meio-termo. E dessa vez – me desculpem os intelectuais de plantão – eu ODIEI! Até que o filme não é dos mais densos e nem dos mais ininteligíveis, mas é chato pra caramba!
Passion é o típico filme-cabeça que irrita do começo ao fim. Nem a presença de grandes estrelas do cinema europeu como Hanna Schygulla, Isabelle Huppert e Michel Piccoli salva essa produção de 1982, do rótulo de um dos filmes mais insuportáveis que já assisti.
O filme conta (ou pelo menos tenta contar) a história de Jerzy (Jerzy Radziwilowicz), um diretor de cinema polonês e temperamental, envolvido na produção de um filme sobre os grandes mestres da pintura. Durante as filmagens, Jerzy se relaciona com as personagens de Schygulla e Huppert que, não coincidentemente, têm os nomes de suas respectivas intérpretes, Hanna e Isabelle. Aliás, todos os personagens têm os nomes de seus intérpretes (modernidades de Godard…).
Eu até gosto de um filme-cabeça, daqueles bem pesadões, que fazem você sair do cinema carregando o peso do mundo nas costas; gostei – e muito – de vários filmes do próprio Godard, mas Passion extrapola qualquer limite tolerável. Godard é um cineasta conhecido pela quebra de padrões. Admiro sua estética não convencional, seu estilo de montagem anarquista, que brinca com a quebra entre os planos, usa e abusa da repetição e da disjunção entre som e imagem. Mas convenhamos, uma coisa é você quebrar os padrões nos anos 60, no auge na “nouvelle vague”, onde qualquer coisa que fosse diferente era considerada modernidade (e daí a ser rotulada como obra-prima era um passo); outra é fazer isso nos anos 80, quando já não era mais ruptura alguma de padrão.
Por exemplo, colocar diálogos de uma cena por cima de outra que nada tem a ver – dando às vezes a impressão de que imagem e som estão fora de sincronia – pode ter sido muito moderno naquela época, mas hoje em dia soa apenas como exercício intelectualóide… Assistimos e admiramos um filme daquela época com o devido distanciamento histórico, levando-se em conta toda a conjuntura do período em que foi realizado. Passion parece um pastiche do próprio Godard em cima de sua obra, mais parece o filme de um cineasta recém-saído da faculdade que resolveu “homenagear o mestre”, imitando seu estilo.
O filme só tem um ponto interessante, as cenas em que as telas de grandes pintores são reproduzidas. É legal assistir a essas cenas e tentar lembrar-se do nome de um determinado pintor ou tela. Passeiam pela nossa frente versões em três dimensões de pinturas clássicas de Goya, Rembrandt, Ingrès e Velázquez, entre outros. Fora tais cenas – que juntas não devem somar mais do que 10 minutos – só sobra tédio e pseudo-intelectualidade. E eu que fui ao cinema achando que iria assistir a uma obra no estilo do fabuloso A Noite Americana (La Nuit Américaine) de François Truffaut, saí da sala de exibição decepcionado.
Passion estréia amanhã, 23 de julho.