Snoopy, Eu Te Amo!

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As Histórias em Quadrinhos estão vivendo um grande momento de nostalgia no Brasil. Primeiro, tivemos a publicação da excelente coletânea do gênio da Disney, Carl Barks, pela Editora Abril há alguns meses (leia nossa resenha aqui) e, agora, a Editora Conrad, lança este Snoopy, eu te amo. Isso sem contar a coletânea completa que está sendo lançada nos EUA com TODAS as tirinhas do Peanuts (Minduim, como Charlie Brown e sua turma são conhecidos em terras gringas) que saíram nos jornais norte-americanos durante os 50 anos de existência da obra de Charles Schulz (e aliás, tomara que este livro saia por aqui em breve também).

Mas neste trabalho da Conrad, o que temos não é uma simples coletânea abrangendo um determinado período da carreira do mestre Charles Schulz, mas uma compilação temática com o cachorrinho beagle Snoopy, Charlie Brown e sua turma com historinhas abordando apenas um dos grandes mistérios da humanidade: o amor.

O livro apresenta uma série de tiras, organizadas em ordem cronológica, que vão de 1952 até 1999, abrangendo praticamente toda a carreira dos Peanuts nas populares tirinhas de jornais. E quem melhor para nos dar uma visão romântica do que nosso amado Charlie Brown, uma das pessoas mais azaradas que já pintaram por essas bandas?

Pois é, apesar da presença garantida do cãozinho mais amado do planeta no nome e nos quadrinhos das folhas desta obra, é com o seu dono, Charlie Brown, que temos todos os momentos marcantes e constrangedores da vida: a eterna espera por um cartão no dia dos namorados, a decepção por não ter coragem para falar com a garotinha ruiva na escola, a desilusão de ser menos amado do que seu próprio cachorro. O personagem parece ter nascido para o fracasso e é justamente nesse “derrotismo” que nos identificamos e criamos um vínculo tão forte, afinal quem é que nunca teve uma decepção amorosa na vida ou ficou com inveja de algum amigo por ele se dar melhor com as mulheres do que você?

A vida de Charlie Brown é, na verdade, um belo simbolismo da vida do próprio autor, Charles Schulz (que sempre assumiu ser um azarado por natureza e também nunca conseguiu conquistar a garotinha ruiva na escola onde lecionava – sim, a garotinha ruiva, na verdade, era sua aluna), e também serve como um exemplo de vida para todos nós, pois apesar de todas as adversidades, Brown nunca desistiu de receber um cartão no dia dos namorados, ou de ser justo e leal com seus amigos (Nota do Carlos: e por isso também mereceria estar na lista de personalidades mais Rock ´n´ Roll da história).

E falando nos amigos, é lógico que Snoopy, Patty Pimentinha, Marcie, Linus, Chiqueirinho, Spike e todos os personagens desta maravilhosa família, criada há mais de 50 anos, também marcam presença nos quadrinhos da coletânea vivendo as mais divertidas situações dentro do tema proposto.

O fato de a obra estar cuidadosamente organizada de maneira cronológica, também nos mostra a curiosa evolução dos personagens desde os anos 50 até a década de 90 tanto nos traços marcantes de Schulz, quanto na personalidade de cada uma de suas crias. É muito interessante observarmos, por exemplo, que logo na primeira tirinha, publicada originalmente em 1952, Charlie Brown tinha sim uma namorada, coisa inconcebível para a imagem que temos hoje do velho e bom Brown.

Apesar do preço um pouco salgado (R$25,00) para o número de páginas (96 com 1, 2 ou 3 tiras em cada uma), é um livro que vale a pena, pois eterniza a obra impecável de Schulz (falecido no começo de 2000), na minha opinião, o maior autor de histórias em quadrinhos que já passou por nosso planeta. Cresci lendo e assistindo (quando passava na TVS – atual SBT e depois na Globo) as aventuras de Snoopy e Charlie Brown, e considero este livro um tributo ao sentimento mais bonito, mas ao mesmo tempo mais perigoso dos seres racionais.

A Conrad já anunciou planos para lançar em breve outros álbuns temáticos com os Peanuts. Vamos torcer para que eles aumentem um pouquinho este objetivo e lancem a maravilhosa coletânea completa de todas as tirinhas que está saindo na terra do Tio Sam. Os fãs brasileiros merecem.

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