Hoje eu aprendi uma lição. É possível respeitar uma ideia, mesmo não gostando de sua execução. Este é o caso de Chornobyl Liquidators, um jogo em primeira pessoa que visa recriar o drama do desastre de Chernobyl e das pessoas que fizeram a limpeza da região. Sem monstros, sem drama além do que realmente aconteceu. O único inimigo é invisível: a radiação. E isso basta para história e experiência marcantes e assustadoras. Isso se o jogo fosse bom, claro. Infelizmente, não é.

CHORNOBYL LIQUIDATORS

Chornobyl Liquidators, Chernobyl, Frozen Way, Live Motion Games, Delfos

O primeiro problema de Chornobyl Liquidators é que você controla pessoas que estão arriscando a vida para fazer um trabalho sacal. Tipo apagar incêndios, limpar material radiativo, esse tipo de coisa. Mas o principal problema é que ele simplesmente não funciona muito bem como jogo.

Logo na primeira fase, enquanto procurava meu caminho, entrei onde não deveria e fiquei preso. Precisei restaurar o save. Em outro momento, meu controle começou a vibrar desesperadamente e nem saindo para a tela título ele voltava ao normal. A única solução foi literalmente sair do jogo e abrir de novo.

VÁ ATÉ O WAYPOINT E FAÇA UM TRABALHO SACAL

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A primeira fase é mais digna dessa alcunha. Depois de apagar alguns incêndios, você começa a explorar a usina destruída, em uma missão mais ou menos linear. O fato de o protagonista morrer e ser substituído várias vezes no caminho mostra quão desesperador deve ter sido para as pessoas que faziam este trabalho no dia.

A partir da segunda, ele passa a ser mais chatinho. Você vai recebendo missões, como “limpe a radiação na piscina”, e daí precisa descobrir como chegar até o waypoint e cumprir a tarefa. O fato de o inimigo ser invisível deixa tudo mais sacal ainda. Você pode estar bem, sem ter errado nada, mas de repente é infectado por radiação, seu estresse começa a subir, e sua saúde a diminuir. Quando isso acontece, você precisa usar itens específicos para combater cada debuff, mas a UI é uma porcaria, com textos enormes em quantidade de palavras, mas minúsculos em tamanho de fonte, e deixa muito difícil saber o que usar. Além disso, usar itens é muito mais trabalhoso do que deveria ser.

ALL YOUR BASE ARE BELONG TO US

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Para dificultar ainda mais um jogo já obtuso, o inglês dele é nível “all your base are belong to us“, então é muito difícil entender os longos e complicados tutoriais ou mesmo seus objetivos. Ainda no aspecto UI, muitas vezes seu waypoint está numa sala ao lado, mas todas as portas estão trancadas. Daí você descobre que uma parede era na verdade uma porta. O visual de Chornobyl Liquidators é até interessante, mas carece fortemente de uma clareza maior no que é ou não interagível, e nos caminhos que ele espera que o jogador siga.

A história até fica intrigante, quando você começa a achar pistas de que o governo poderia ter evitado o desastre. Mas o ato de jogar é tão desagradável que não há história que salve. Eu passei uma tarde com Chornobyl Liquidators e sinceramente queria parar de jogar a todo momento. A ideia de representar de forma mais realista uma tragédia histórica é ótima, mas se você vai fazer isso em forma de videogame, o ato de jogar não pode ser sofrível, ou ninguém vai aguentar ir até o fim. Admito, eu não aguentei, e a tarde que passei com ele foi mais do que o suficiente para nunca mais querer rodar o jogo.