Eu comecei a curtir Green Day lá em 2004, com o lançamento de American Idiot – um clássico instantâneo para a geração que cresceu assistindo à MTV. Apesar do álbum ter servido como porta de entrada para que eu tivesse contato com a banda, a verdade é que gosto muito mais dos trabalhos anteriores dos caras, e meio que parei de acompanhar o que estão fazendo desde 21st Century Breakdown.
Dito isso, o show que rolou neste último domingo (05/11) em Curitiba me fez ter certeza de que a base de fãs do Green Day se divide agora em dois grupos: as pessoas que só sabem cantar as músicas mais antigas e aquelas que só conhecem as mais recentes. O que não é bom, nem ruim, apenas admirável: não é qualquer banda que com seus 30 anos de estrada pode se gabar de conseguir prender os fãs das antigas enquanto atrai novos.
Foi a primeira vez que os caras tocaram aqui na Rússia brasileira, e não poderiam ter feito um trabalho mais gratificante. Foram duas horas e meia de muita pirotecnia e discursos inflamados enquanto o trio californiano (e outros três músicos de apoio) intercalava hits como Longview, Jesus of Suburbia e Welcome to Paradise com uma porção de músicas mais atuais que nunca ouvi na vida.
O som estava bem equilibrado, e a acústica do local (cercado por paredões de pedra) valorizou cada canção. Eram 19h quando o Green Day subiu ao palco, depois da apresentação bacaninha do The Interrupters, a banda de abertura – e ponto para eles por não terem atrasado o início do show.
As primeiras três músicas foram um tanto mornas (para mim, pelo menos, que não as conhecia). Mas assim que a banda chegou à quarta canção, Holiday, os fãs de longa data – que pareciam maioria – puderam se sentir em casa e cantar a plenos pulmões.
A primeira metade do show foi praticamente um compilado de músicas novas e antigas, enquanto a segunda se focou um pouco mais em sucessos já consagrados como King for a Day, She e Basket Case. Rolou até uma versão saxofonizada de Garota de Ipanema (meio desnecessária, devo dizer) e um medley com Always Look on the Bright Side of Life, (I Can’t Get No) Satisfaction e Hey Jude, culminando em um acertadíssimo encerramento com o vocalista Billie Joe Armstrong sozinho no palco, tocando Good Ridance ao violão enquanto uma chuva de papeizinhos coloridos caía sobre a multidão.
O setlist contou com 26 músicas, além de demoradas conversas com o público, elogios mil e algumas piadas. É inegável o fôlego de Armstrong para agitar a plateia e manter todos ligados no espetáculo. O cara fala bastante entre (e até mesmo durante) as músicas, e soltou tantos “Viva Brazil” e “Curitiba” quanto era possível. Enrolou-se na bandeira nacional, gritou palavras de ordem contra a homofobia e mandou um “Fuck Donald Trump”, isso tudo já nos primeiros 30 minutos.
Ao longo da apresentação, o vocalista chamou ao palco não um, mas três espectadores – dois para assumirem o vocal e o terceiro para tocar alguns acordes na guitarra. O guitarrista escolhido de improviso foi um garoto de 13 anos, o Serginho, que roubou a cena tocando o riff ensinado a toque de caixa por Billie Joe. E o melhor: quando a música terminou, Armstrong disse ao menino que ele podia ficar com a guitarra. O Serginho subiu ao palco como um garoto, mas saiu de lá como um homem!
Apesar da menina berrando nas minhas costas e do cara ao meu lado que achou uma boa ideia usar o chão como mictório, o show foi uma experiência completa, e maior e melhor do que eu esperava. Rolou até um “Fora, Temer” coletivo entre as 15 mil pessoas que lotavam a Pedreira Paulo Leminski, como você pode conferir neste vídeo:
Não saiu na filmagem, mas a resposta de Billie Joe foi: “Não sei o que vocês disseram, mas entendi o sentimento”.
CURIOSIDADE:
O valor cheio da entrada para a pista premium era de R$ 640,00 por aqui. Planejei ir na pista comum, que estava custando R$ 400,00. Mas me enrolei tanto que só fui comprar os ingressos dois dias antes do show. Por sorte, no mesmo dia a Livepass (empresa responsável pela venda dos ingressos) anunciou uma promoção para vender as entradas restantes. A pista premium saiu por R$ 160,00 e a pista comum por R$ 100,00, provando que a vida é verdadeiramente injusta. Ainda bem que fui empurrando com a barriga e deixei para comprar os ingressos de última hora. Se fosse o contrário, e tivesse comprado antes de o valor cair, tenho certeza de que ficaria bem puto. Por isso, a todos vocês que compraram antecipadamente, minhas empáticas condolências. Foi mesmo uma sacanagem.