24 Horas

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Jack Bauer é um sujeito muito azarado. De 2001 para cá ele já teve cinco dias do cão (o sexto começou recentemente), sem tempo para dormir, fazer uma boquinha ou mesmo atender ao famoso chamado da natureza. Tudo porque um monte de terroristas insiste em atacar o seu país, o qual ele defende com unhas e dentes (às vezes literalmente). E mais, se Jack Bauer não tiver seu sono da beleza, ele fica mal humorado. E se Jack fica mal humorado, os malfeitores hão de sofrer.

De forma bem humorada, basicamente essa é a trama básica de 24 Horas (24, em seu título original), uma das séries mais legais e comentadas dos últimos tempos. Responsável por dar novo fôlego aos seriados de ação, à carreira do ator Kiefer Sutherland (visto recentemente nos cinemas em Sentinela) e até por gerar discussões sobre o nacionalismo exacerbado e o estado constante de medo de terrorismo dos estadunidenses.

Quando a série estreou em 2001, muito se falou de seu formato “original”, com cada temporada retratando apenas um dia na vida de Jack Bauer (Sutherland), um agente da UCT, a Unidade de Contra-Terrorismo de Los Angeles, às voltas com ameaças terroristas ao país.

O tal do diferencial é que cada episódio representa uma hora do dia e se passa em tempo real. Primeiro, esse formato não é nem de longe uma novidade. O filme Tempo Esgotado, de 1995 e protagonizado por Johnny Depp, também se passava em tempo real (e a trama inclusive tinha muitas semelhanças com a primeira temporada de 24 Horas). Segundo: cada episódio tem na verdade apenas 42 minutos. Os outros 18 minutos são ocupados pelos famigerados intervalos comerciais. Faça um teste: sincronize seu relógio com o da série (o famoso reloginho que fica bipando e aparece em momentos tensos é uma marca registrada do programa). Em algum momento o relógio da série irá se adiantar ao seu, e não é pouca coisa.

Infelizmente, comerciais são necessários para a sobrevivência das emissoras. E quando entram os anúncios, o que a série faz é dar uma parada na trama com ações menos importantes. Por exemplo, Jack precisa se deslocar de um ponto a outro. Ele entra no carro e sai. Entra o comercial. Quando o episódio volta, ele já está chegando ao destino. Infelizmente a limitação do formato TV dá essa “matada” na experiência do chamado “tempo real” de verdade, mas mesmo assim a sensação de que está tudo acontecendo no tempo correto permanece, tornando a experiência quase perfeita. Nesse ponto, o seriado é mais semelhante ao filme clássico de Hitchcock, Festim Diabólico, que também ocorre num falso tempo real, um pouco mais acelerado que a realidade. Se analisarmos por esse ângulo, aí sim 24 Horas apresenta uma narrativa diferente da que estamos acostumados nos outros enlatados estadunidenses.

O que é legal no programa não é essa balela de tempo real, mas o enorme ritmo e tensão que cada temporada consegue passar ao telespectador. Utilizando-se para tal de telas divididas (em duas, três, quatro ou mais imagens) em momentos chave para mostrar as diversas subtramas que estão acontecendo simultaneamente e câmeras na mão nervosas, quase como se fosse o olhar do espectador no meio da ação. É impossível não roer as unhas de nervoso em determinados momentos.

Outro ponto forte é que, como cada temporada é um dia só, são arcos fechados, com começo, meio e fim. Nada de ficar criando mistérios para temporadas futuras, embora uma ou outra temporada acabe num eventual cliffhanger (como a 5ª, por exemplo), que geralmente gira em torno do destino de Jack e não da trama em si. Isso também ajuda quem não acompanha a série desde o começo. Embora haja personagens recorrentes além de Jack Bauer e uma cronologia, é possível assistir, por exemplo, à 4ª temporada, sem ter visto as anteriores e sem correr o risco de ficar boiando.

E no fim das contas, Jack Bauer é um tremendão. O sujeito, um ex-agente da Swat e diretor da UCT na primeira temporada, é casca-grossa. Faz o que for necessário para evitar os ataques terroristas. Tortura, mata, desobedece a ordens superiores e até age fora da lei para atingir seus objetivos. Sério, o cara pode matar você com o dedinho do pé se achar que está em seu caminho. O cara é tão tremendão e letal que eu tenho fortes suspeitas de que ele seja o filho perdido do Chuck Norris!

Mas e a trama? O que aconteceu nos cinco dias anteriores, e o que irá acontecer no sexto (atual temporada)? Muita calma. Abaixo vai um resuminho das temporadas passadas e uma pequena sinopse do começo da nova, para você refrescar a memória ou, se não acompanha a série, ter todas as informações para entrar de cabeça no violento mundo de Jack Bauer.

1º Dia

Jack Bauer tem de impedir um atentado contra o senador David Palmer (Dennis Haysbert), candidato à presidência dos EUA. Ao mesmo tempo, precisa encontrar sua esposa Teri Bauer (Leslie Hope) e sua filha Kim (Elisha Cuthbert, de Show de Vizinha), seqüestradas pelo mandante do atentado, para distrair Jack de sua missão principal.

Essa primeira temporada é marcada pela reviravolta final, que pegou todo mundo de surpresa. Nina Myers (Sarah Clarke), colega de trabalho e ex-amante de Jack revela-se uma traidora e mata Teri. Decisão corajosa dos produtores.

2º Dia

David Palmer, já presidente dos EUA, pede ajuda de Jack Bauer para tentar evitar a detonação de uma bomba atômica em solo estadunidense e capturar os responsáveis pela ameaça nuclear. Para isso, terá de contar com a ajuda da traidora Nina, a quem Jack está louco para apagar como vingança pela morte de sua mulher.

Enquanto isso, numa trama paralela, Kim Bauer, só pra variar, comete uma série inacreditável de burradas ao desobedecer à ordem do pai de sair da cidade. Nem parece filha de quem é!

3º Dia

E viva o nepotismo! Para fazer com que a filha Kim tome jeito, Jack lhe arranja um emprego de analista na UCT. Mas a guria está namorando em segredo o novo parceiro de Jack, Chase Edmunds (James Badge Dale).

David Palmer ainda é o presidente, em seu segundo mandato e a ameaça ao país agora é com armas químicas. É a pior temporada da série, mostrando sinais de cansaço no formato “precisamos evitar um ataque terrorista”.

4º Dia

Jack agora trabalha para o secretário de Defesa dos EUA e namora a filha do patrão. Um terrorista (sempre eles!) turco coordena uma série de ataques e incapacita o novo presidente, fazendo com que o vice, Charles Logan (Gregory Itzin), um tremendo banana, assuma o posto.

Para pegar o meliante, Jack extrapola e invade uma embaixada chinesa, numa operação não reconhecida pelo governo. Durante a missão, um cônsul morre e, ao final da temporada, os chineses exigem que Bauer seja entregue a eles. Para escapar dessa fria, Jack forja sua própria morte com a ajuda dos amigos Tony Almeida (Carlos Bernard) e Michelle Dessler (Reiko Aysleworth) e desaparece.

5º Dia

Um novo ataque terrorista (e como dizia um velho amigo, isso já está ficando chato e redundante), dessa vez com um gás letal (insira aqui sua própria piada), obriga Jack a sair do anonimato para ajudar a UCT. O problema é que o próprio presidente Logan pode estar envolvido na conspiração. Não que isso seja um problema para Jack, é claro.

A melhor temporada da série, sem dúvida. Corajosa ao mostrar o presidente dos EUA como o grande vilão e ao matar três personagens importantes e queridos dos fãs. Ao final, Jack é seqüestrado pelos chineses, que não esqueceram o que ele aprontou na temporada passada.

6º Dia

A atual temporada, que estreou recentemente no Brasil. Os EUA sofrem com uma série de atentados. No clima de medo, cidadãos muçulmanos são confinados em campos de detenção só por serem muçulmanos.

Mas a UCT negocia com um dos terroristas o paradeiro do líder dos ataques, o que pode acabar com a crise. O que o sujeito quer em troca? Jack Bauer, responsável pela morte de seu irmão.

E lá vai o presidente Wayne Palmer (DB Woodside), irmão de David e apresentado na terceira temporada, negociar a libertação de Jack das mãos da China. E está armado o cenário para a nova aventura.

Pronto, agora você já sabe todo o necessário para mergulhar de cabeça no violento mundo de Bauer e da UCT. E não deixe o tom excessivamente patriótico e o clichê “terroristas malvados atacam em todas as temporadas” desanimá-lo, pois se você gosta de ação, a série, mesmo com esses pequenos defeitos, é o supra-sumo do gênero na TV.

24 Horas é exibida pelo canal por assinatura Fox, todas as terças, às 22h. A Rede Globo passa a temporada mais recente todo começo de ano. Então, a atual 6ª só irá ser exibida no começo de 2008. Ah, e quem quiser rever as antigas sem os intermináveis comerciais e emendando um episódio atrás do outro, é só comprar em DVD, clicando aqui.

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