Fe é mais um daqueles jogos que não tem a intenção apenas de divertir o jogador, mas de emocioná-lo. Você já deve ter jogado alguns desses, como Journey ou os mais recentes Abzû e Last Day of June. Particularmente, eu adoro jogos assim, e justamente por isso estava bastante empolgado para Fe.
FE DE… FERNANDO?
Fe é um bichinho protetor da floresta, que está sendo atacada por criaturas silenciosas. Fe tem o mais poderoso dos poderes: o dom da música. Em outras palavras, ele canta. Assim, conforme você avança, vai cantando em harmonia com os outros bichinhos da floresta. E você sabe, assim como na vida real, cantar em harmonia com alguém = amizade eterna. Não é à toa que os Beatles gostavam tanto uns dos outros.
A ideia do jogo é ser um plataforma 3D, mas na prática eu não o classificaria como sendo do mesmo gênero de Skylar & Plux, por exemplo. Embora seja um jogo bastante linear, ele é bem aberto. Para avançar a história, você deve chegar em pontos específicos do mapa, mas há muito mais a ser explorado se desejar, bem como algumas centenas de colecionáveis. Os colecionáveis dão novas habilidades ou liberam cutscenes elaborando a história do jogo.
Pois é, é perfeitamente possível terminar Fe sem ter liberado todas as habilidades. As duas primeiras, escalar árvores e planar, são inescapáveis e necessárias, mas depois disso rola uma corridinha estilo Turtles in Time e sabe mais Deus o quê, já que eu só liberei até aí.
FE DE… FERDINANDO?
O gameplay funciona assim: em cada uma das fases, você canta em harmonia com alguns filhotes que, com suas vozes, podem afetar as plantas da região. Com isso, eles vão abrindo o caminho. Após cumprir o objetivo da fase, você vai cantar junto com o animal adulto, o que libera o idioma deles e a possibilidade de encantar as plantas por conta própria.
Os idiomas, codificados em cores e símbolos, afetam plantas específicas. Algumas servem como trampolim, outras soltam um ventinho permitindo que você plane sobre elas. Quanto mais idiomas você dominar, melhor pode explorar o mundo e pegar mais colecionáveis.
Eventualmente, seu caminho vai cruzar com o dos silenciosos e, se eles olharem para você por alguns segundos, bau-bau, volta para o checkpoint. Em geral estes encontros são puzzles que precisam ser resolvidos para avançar.
O início de Fe é lento e, convenhamos, não muito interessante. No entanto, o jogo melhora consideravelmente após adquirir a habilidade de planar, e continua melhorando a cada novo idioma que você aprende. É uma pena que estes upgrades sejam tão parcimoniosos e que, quando você ganha o último deles, o jogo acaba.
Claro, depois de terminar, ainda dá para continuar explorando o mundo com todas as suas habilidades e pegar todos os colecionáveis, mas aí já é coisa de quem tem TOC mesmo (tipo eu).
FE DE… UHN… FEDERICO?
Fe tenta bem forte entrar no panteão dos jogos considerados arte. Em partes, ele é bem sucedido. O som, em especial, é excelente, não apenas os cantos dos animais, mas destaco a trilha sonora, repleta de arranjos de cordas daqueles que puxam as cordas dos nossos corações.
O visual, embora inegavelmente gere screenshots bonitas, não é tão interessante em movimento. É tudo em um low-poly bastante monocromático (sempre tem uma cor dominante na tela, geralmente azul, roxo ou vermelho) e os cenários não são muito variados.
Quem acompanha o DELFOS já sabe que eu não sou muito fã de pixel art, e os jogos da minha infância eram pixelados, então low poly, que já remetem ao visual de uma época em que eu meio que abandonei os games, não trazem nenhuma relação afetiva para mim, mas imagino que a estética tenha alguns fãs por aí.
A campanha tem alguns momentos pontuais bem fortes, como quando você escala um cervo gigante. Além disso, ela melhora conforme você avança e termina de forma bem bacana, mas o saldo geral ainda fica no campo do bom, mas não excelente.
FE DE… FELIX?
Fe é um jogo bem diferente do que a Zoink fez antes. Eles eram conhecidos por jogos cartunescos, cheios de diálogos e bem humorados (Zombie Vikings, por exemplo, é deles). Aqui temos um jogo em 3D quase totalmente não verbal e que, ao invés de fazer rir, quer fazer a gente sentir.
De fato, ele aparenta ser mais artístico do que Zombie Vikings ou Stick It to the Man (também da Zoink), mas nem por causa disso é automaticamente melhor. Eu poderia dizer que emocionar é difícil, mas fazer rir também é difícil e é algo no qual a Zoink se dava muito bem.
Fe é um bom jogo, mas não me empolgou em nenhum momento e está bem longe de alcançar o nível de jogos como Journey ou Abzû. Até aí, poucos conseguem esta proeza, mas é raro vermos uma obra que se esforçou tanto para entrar neste panteão. E bateu na trave.
