Astro Bot Rescue Mission, tal qual Portal, começou como um acompanhamento cujo sucesso o tornou um jogo completo. E tal qual Portal 2, este jogo completo é maravilhoso. Confira nossa análise de Astro Bot Rescue Mission.
THE PLAYROOM
Se você tem um PS VR, provavelmente já jogou The Playroom. Trata-se de uma coletânea de minigames gratuita, que colocam jogadores no VR para competir ou colaborar com outros jogando pela TV. É interessante, e rende umas horas de diversão quando você estiver recebendo amigos em casa.
Jogadores mais tradicionais, como eu, gostaram especialmente de Robot Rescue. Ao contrário dos outros presentes na coletânea, este era um jogo de plataforma bastante parecido com Super Mario. Tinha apenas uma fase, que podia ser completada em 10 minutos. Mas era uma fase muito legal. Quando joguei pela primeira vez, exclamei com meus amigos que deveriam transformar Robot Rescue em um jogo completo. Pois veja só.
ENTRA ASTRO BOT RESCUE MISSION
Daí a comparação com Portal e sua continuação. O sucesso de algo que fazia parte de um pedacinho de uma coletânea fez com que um jogo completo fosse desenvolvido, aproveitando-se do mesmo conceito e melhorando onde necessário, tornando-se, portanto, uma obra essencial.
Astro Bot Rescue Mission é um jogaço de plataforma 3D, feito com um carinho e um capricho que dificilmente vemos no gênero fora dos jogos da Nintendo. Acredite em mim, se você é fã de franquias como Super Mario ou Donkey Kong Country, este é um jogo que justifica a aquisição de um PS VR. E digo mais, eu gostei mais de Astro Bot Rescue Mission do que de Super Mario Odyssey, por um simples motivo.
ESTE NÃO É UM COLETATON!
Embora sua missão seja salvar os oito robozinhos espalhados por cada fase, as fases são exatamente isso: fases, com um começo, meio e fim. Pense em Rayman Legends e seus teenies escondidos. É bem por aí. Quando um está por perto, você até pode ouvir uma vozinha gritando “help!”, exatamente como no clássico da Ubisoft.
A sensação de jogar Astro Bot Rescue Mission é bastante semelhante à que teríamos jogando uma nova IP da Nintendo. E isso é ótimo. Tem vários pequenos toques por aqui que, ao serem somados, tornam a experiência toda um prazer. Eu levei mais de 10 horas para passar por todas as fases, e quase todo este tempo estava com um sorrisão estampado no rosto.
Refiro-me a detalhes que vão desde o design dos personagens à forma como eles se mexem. Tudo beira a perfeição. Ao não optar pelo visual realista tradicional em VR, as limitações da plataforma ficam menos evidentes, e este se torna um dos jogos mais bonitos que já joguei no PS VR.
E ele usa muito bem a tecnologia VR, especialmente o 3D e a escala. Tipo isso:
Quando você salva um companheiro então, a coisa é de uma alegria contagiante. Ao se aproximar de um deles, ele arrebita o bumbum. Aperte quadrado e você literalmente dá um pé na bunda do seu amigo, que o faz voar pertinho da sua visão, fazer alguma coisa bonitinha e depois mergulhar na segurança do seu controle (que existe no mundo do jogo). E mais, enquanto essa animação rola, os robôs que você salvou antes aparecem no controle e ficam cantando, dançando e chamando o novo amigo para se juntar a eles.
É simplesmente adorável. Nível Pixar de fofura.
CONTROLO, LOGO EXISTO
Mas tem mais. Você, o jogador, existe no jogo, no papel de um robô gigante que controla o robozinho protagonista e eventualmente interfere na ação. Alguns momentos específicos das fases, inclusive, colocam telas onde você pode se olhar.
Na maior parte do tempo você é basicamente a câmera. Para evitar enjoos (o que não existe por aqui, mesmo jogando por várias horas seguidas), a câmera se move sempre em uma linha reta. A ação, no entanto, acontece ao seu redor. É comum o herói estar muito abaixo ou muito acima de você e, em vários momentos, ele fica dos lados, em um típico sidescroller.
A existência do jogador dentro de Astro Bot Rescue Mission possibilita que os upgrades não sejam para o robozinho, mas para o robozão. Ou melhor, para o seu controle. Estes upgrades são no esquema das roupas de Super Mario Galaxy. São habilidades necessárias para concluir fases específicas, e podem ser usadas à vontade até o fim delas.
A mais comum, por exemplo, envolve um gancho que conecta uma corda do seu controle até um ponto do cenário. Isso possibilita que o robozinho ande por essa corda e alcance lugares antes inalcançáveis.
Há vários outros tipos de habilidades além desta, que envolvem coisas como jogar água pelo controle ou soltar shurikens. Todas são bacanas, mas assim como em Super Mario Galaxy, algumas aparecem bem menos do que eu gostaria.
Aliás, quase todas as fases trazem surpresas e novidades, adições bem-vindas à jogabilidade. Você vai passar por cenários típicos dos jogos de plataforma (como florestas, minas e praias), mas a variedade e o capricho no design são notáveis. Isso porque ainda não falamos dos chefes.
ENTÃO FALEMOS DOS CHEFES
No final de cada mundo, há uma batalha épica. Estes são alguns dos melhores momentos de um jogo que parece composto apenas de melhores momentos.
Estes confrontos seguem exatamente a fórmula da Nintendo. Sobreviva a ataques cada vez mais complexos até o chefe mostrar a vulnerabilidade. Ataque. Repita três vezes. Cá entre nós, eu adoro esta fórmula, e com a ajuda do VR e da participação do jogador, temos aqui os momentos mais inesquecíveis de Astro Bot Rescue.
Todos os chefes são enormes. Pelas imagens desta matéria eles não parecem maiores do que o tradicional, mas acredite, em VR a sensação de escala é bastante diferente. Além disso, todos eles têm uma entrada triunfal e impressionante. Não teve um único desses encontros que eu não tenha soltado um “caray!” quando o chefe popou. Ao mesmo tempo, não teve um único que eu não simpatizasse imediatamente com o bicho, graças ao design bacana e seus movimentos cheios de personalidade.
Além da escala dos chefes, há outros pequenos usos do VR que são bem bacanas e únicos. Astro Bot Rescue até poderia existir como um jogo tradicional em 2D – e continuaria excelente. Porém, é inegável que ele perderia parte do charme.
DESAFIOS QUE ACRESCENTAM
Em cada uma das fases principais, há um camaleão escondido. Se você olhar diretamente para ele por alguns segundos, ele se assusta e foge, em um dos melhores e mais divertidos usos de colecionáveis que já vi. O mais interessante é que fazer isso libera uma nova fase, mais especificamente um desafio.
Astro Bot Rescue Mission é um jogo bem suave. Daqueles que não querem te desafiar, mas te divertir, sabe? Pois os desafios são a área do hardcore. Normalmente eu odeio esse tipo de coisa, porém aqui eles foram muito bem implantados.
Alguns deles são literalmente fases inéditas (com nada de requentado), que devem ser atravessadas no menor tempo possível para salvar um robozinho dourado e/ou um prateado, se você for mais lento. Outros são minigames que usam mecânicas de gameplay que não aparecem no resto do jogo. Podem ser desafios de tiro ao alvo ou usos inéditos dos poderes do controle.
Verdade, há uma certa irregularidade. Não são todos tão legais, mas felizmente a maioria é bem divertida e merece ser experimentada.
NÃO É UM JOGO PERFEITO
Você deve ter percebido o quanto eu gostei de Astro Bot Rescue Mission e do seu uso de VR. Porém, ele não é perfeito. Lembra quando eu falei que a ação acontece ao seu redor? Pois é exatamente aí que reside o principal problema.
Em geral a coisa funciona bem, mas de vez em quando você é obrigado a se mexer demais. Tipo olhar literalmente para trás. Eu jogo em uma poltrona reclinável, o que significa que este movimento é bem desconfortável e, se você não joga em uma cadeira giratória, provavelmente também vai te incomodar.
Isso se torna mais grave pelo fato de que não é possível voltar. Você pode olhar para trás e fazer o robozinho andar por onde já passou, mas a câmera não o acompanha. Eventualmente, ele fica pequeno demais para controlá-lo apropriadamente.
Felizmente, estes movimentos mais desconfortáveis são necessários apenas para achar alguns dos robozinhos mais escondidos, ou especialmente os camaleões. Ainda assim, em um jogo tão polido e caprichado, acaba sendo uma falha considerável.
Eu debati bastante internamente se deveria ou não conceder a Astro Bot Rescue Mission o cobiçado (rufem os tambores) Selo Delfiano Supremo. Nunca foi tão difícil decidir isso, porque este é um jogo que chega muito perto da perfeição dentro do seu gênero. No final das contas, optei por presenteá-lo “apenas” com a nota máxima, porque eu fiquei realmente desconfortável com os malabarismos que ele me obrigava a fazer.
O PRIMEIRO KILLER APP DO PS VR
Dito isso, eu quero fazer um adendo. Em geral, quando jogo algo em VR, mesmo que esteja curtindo, eu acabo torcendo para os jogos acabarem logo. Cansa ficar muito tempo com o óculos, sem falar da quase inevitabilidade de enjoo em sessões prolongadas. Em geral, eu considero que a curta duração dos jogos em VR é bem-vinda.
Apenas com dois jogos isso não aconteceu. O primeiro foi Resident Evil VII, que você pode jogar em 2D normal, mas fica muito melhor em VR. O segundo foi Astro Bot Rescue Mission, e este só pode ser jogado no PS VR. Este é um jogo com duração de AAA. São 52 fases (contando os desafios), e vai levar mais de 10 horas para você ver tudo. E MESMO ASSIM, eu fiquei triste quando ele acabou, e estou doido para ter tempo de jogar de novo.
Astro Bot Rescue Mission é um jogo que usa muito bem tudo que tem de legal no VR, ao mesmo tempo que evita a maioria de suas armadilhas. É a definição de um killer app. Custando 40 dólares, ou R$149,90 no Brasil, ele é mais caro do que a maioria dos lançamentos em VR. Mas acredite em mim, este valor é uma pechincha.
Ele tem valores de produção, visual, música e jogabilidades dignos de um AAA (e estes normalmente são vendidos a valores mais altos). Se você tem qualquer apreço pelo gênero plataforma 3D, este é um jogo que você definitivamente quer jogar. É o tipo de jogo que dificilmente vemos fora da Nintendo, e espero que ele faça sucesso suficiente para virar uma franquia e incentivar outras desenvolvedoras a fazer jogos semelhantes. Astro Bot Rescue Mission, eu estou torcendo por você.