“Nada se cria, tudo se copia”. Isso pode ou não ser verdade, mas eu digo mais. Muitas vezes algo completamente novo pode vir de uma simples mistura de gêneros. Pense no Holy Land do Angra, um disco único por misturar música brasileira e heavy metal. Obviamente, Yoku’s Island Express se encaixa nesta categoria.
Em seu cerne, trata-se de um metroidvania. Você explora o mapa, adquire novas habilidades e estes upgrades possibilitam a exploração de novos caminhos. Porém, ao invés de atirar, pular, planar e outras mecânicas comuns ao gênero, você deve encarar e vencer mesas de pinball. Cuma?
YOKU’S ISLAND EXPRESS
É isso mesmo. Se liga neste screenshot tirado nos primeiros minutos do jogo.
Você controla um besourinho que fica o tempo todo arrastando uma bolinha. A bolinha é sua principal ferramenta para navegar os cenários. Em um momento, você não faz nada além de andar para os lados. Porém, encontre os pinballs e tudo muda. Com a ajuda deles, você pode pular, usar grapples, explodir pedras e muito mais, tudo apresentado com calma ao longo de toda a campanha.
Impossível não pensar em Sonic Spinball, né? Pois é, acredito que este tinha sido a mistura mais bem sucedida de um jogo de plataforma com um de pinball até o momento, mas eu arrisco dizer que Yoku’s Island Express é ainda mais interessante. E, para completar, ele é muito bonitinho.
ENSAIO SOBRE A FOFURA
Cada personagem que você encontra ao longo da sua jornada é absurdamente fofinho, mas a maior fofura está nos detalhes.
Por exemplo, logo no início do jogo, você pega um horn (eu traduziria como “buzina”, mas não há opção para português no jogo). A explicação é que você pode usá-la para chamar a atenção de outras criaturas. Ok. Daí você aperta o botão e descobre que a tal buzina é uma língua de sogra. E, para completar, a animação ao utilizá-la é muito engraçada.
Este tipo de surpresinha se alastra ao longo de toda a campanha, e sempre colocava sorrisos no meu rosto. Um dos objetivos colecionáveis é colocar cartas em todas as caixas de correio. Ok, normal, mas é impossível não sorrir na primeira vez que você faz isso e vê a animação e a forma como as cartas entram nas caixas.
MAS TEM MAIS COISAS ÚNICAS
Duas coisas que todo bom metroidvania tem: mapa e fast travel. E Yoku’s Island Express consegue inovar em ambos. Se liga no mapa:
Não sei se você percebeu, mas este mapa não é um mapa tradicional, desenhado. Trata-se simplesmente de um zoom out no próprio mundo do jogo. É bem impressionante, mas seria ainda mais se o zoom fosse livre (penso que poderia ser controlado com a alavanca direita). Já pensou que coisa linda você poder controlar a distância da câmera livremente, podendo ver de pertinho ou então ver o mapa todo na mesma tela? O que temos aqui, no entanto, são três níveis. A câmera tradicional, um que mostra o mundo inteiro e outro intermediário. Funciona bem, mas eu senti falta de um zoom que estivesse entre o intermediário e a câmera de jogo para poder planejar meus caminhos melhor.
O fast travel, como você já deve imaginar a essa altura, também é muito legal. Basicamente, são saquinhos que te cospem de um para outro.
Os saquinhos estão espalhados na maior parte do mapa, mas você sempre precisa encontrar um específico para abrir o caminho relacionado a ele. Uma vez que isso esteja destravado, pode ser cuspido à vontade. A maioria dos caminhos leva você até a vila central, mas você pode sair a qualquer momento simplesmente apertando o X. Mas cuidado, nem sempre é possível voltar para o mesmo saquinho, uma vez que é necessário ter um pinball abaixo dele para jogar seu personagem para dentro.
Criativamente, o negócio já é mais impressionante, mas mais incrível ainda é que, uma vez que todos os caminhos estejam abertos, dá para fazer uma volta ao mundo sem absolutamente nenhum loading.
AS MESAS DE PINBALL
Claro, as mesas de pinball são o grande diferencial do jogo. Ao longo de sua exploração, você passará por dezenas delas, e só poderá progredir depois de cumprir um desafio específico. Este desafio pode envolver usar minhocas explosivas para destruir pedras, descobrir onde fica a saída ou então coletar chaves suficientes para abrir a porta.
Estes talvez sejam os desafios mais fracos, pois é comum você ter que coletar muitas chaves para abrir o caminho. E, em alguns casos, como na imagem acima, é necessário abrir mais de uma porta para sair da mesa.
O principal problema, no entanto, acaba sendo algo comum em pinballs. É meio aleatório conseguir fazer a bola ficar no ponto certo para que você possa mirar. Em especial, tive bastante dificuldade para mudar a bola do lado esquerdo para o direito da mesa e vice-versa.
Isso também acontece em pinballs tradicionais, mas nestes você sempre tem uma miríade de objetivos ao mesmo tempo. Aqui é comum você ter que acertar a bolinha num túnel específico para progredir, e se torna meio chato quando ela teima em não ficar onde você quer.
ACERTA ALI!
Isso pode ser uma picuinha, mas admito que acabou sendo o que mais atrapalhou minha diversão com Yoku’s Island Express. Não é algo que diminui consideravelmente as muitas coisas que ele faz bem, mas é o suficiente para deixar partes dele um tanto frustrantes. Pelo lado positivo, não é possível morrer, então você nunca perde progresso (a não ser que caia de uma plataforma alta durante uma escalada).
Yoku’s Island Express sem dúvida teve uma grande inspiração de Sonic Spinball, mas consegue criar o suficiente em cima desta fórmula para ter uma cara e um feeling próprio. Se você é fã de metroidvanias ou de pinballs (melhor ainda se curtir os dois) e está a fim de uma experiência como nenhum outro jogo proporciona, não deixe este passar. Yoku’s Island Express merece a sua atenção e seu tempo.
