Dexter – A Mão Esquerda de Deus

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Dexter, a série de televisão, acabou. E como disse na minha resenha do programa, terminou bem por baixo, deixando saudade de suas excelentes primeiras temporadas. Mesmo com os últimos anos bastante ruins, contudo, ainda assim o assassino serial mais legal da cultura pop me deixou saudade.

Fato é que mal terminei de assistir à série e já estava me sentindo órfão. Por isso, resolvi conferir se o livro que deu origem a ela poderia aplacar este sentimento. E também bateu uma curiosidade mórbida para saber se a adaptação era fiel ou não.

Bem, Dexter – A Mão Esquerda de Deus, o primeiro livro da saga literária dexteriana, é sim bastante fiel à primeira temporada do programa e uma leitura divertida e até mesmo leve, considerando-se o tema abordado. A má notícia é que, assim como sua contraparte televisiva, também tem seus problemas.

Todos os personagens principais estão no livro, embora alguns com pequenas mudanças de nome. Debra aqui é Deborah e o primeiro nome de LaGuerta é Migdia ao invés de Maria, por exemplo. Mas as essências e personalidades da maioria deles permanecem as mesmas.

Já Dexter Morgan possui uma personalidade um tanto diferente da série de TV, chegando a ser até mais interessante. No livro, ele domina muito melhor o seu disfarce e interage de forma mais descontraída e brincalhona com as pessoas. Chega a ser até um pouco sacana, ao invés do tímido retraído com pitadas de cinismo que conhecemos da telinha.

A trama do livro, contudo, é muito mais rápida e, portanto, menos desenvolvida. Um bom exemplo disso é a inexistência da presença de Harry como voz da consciência do personagem (embora o personagem apareça em um flashback). Este é um caso onde essa simplificação não atrapalha, pois como Dexter é o narrador da história, não precisamos de um fator externo para saber o que se passa em sua cabeça. Ele mesmo já nos diz e nos mostra seus conflitos morais.

Por outro lado, toda a trama do Assassino do Caminhão Refrigerado ficou simplificada demais, tendo sua resolução bastante apressada nos últimos capítulos, como se o autor Jeff Lindsey fosse obrigado a encerrar tudo naquele momento do jeito que desse. Ficou a sensação de que ele tinha um número delimitado de páginas para trabalhar e não poderia (ou não estava a fim de) estourar esse limite. Bem estranho.

O estilo de escrita de Jeff Lindsey é outro quesito bastante irregular. Ao mesmo tempo em que consegue contar uma história cheia de elementos pesados de forma surpreendentemente leve, com um bom senso de humor negro, às vezes ele escorrega no excesso de metáforas e adjetivos cafonas, tão típicos da literatura barata.

O verdadeiro fetiche de Dexter pela lua (cheia, linda, gorda, etc) torra a paciência, e o pior é que dá as caras em vários dos capítulos. É algo que a série resolveu com maestria ao substituir pela sensacional frase “tonight’s the night”.

Assim, para encerrar minha comparação, e também a resenha, Dexter – A Mão Esquerda de Deus é muito similar, embora ocasionalmente diferente da primeira temporada televisiva. Pega um interessante caminho mais abertamente cômico e tem um protagonista melhor adaptado à situação em que se encontra. Contudo, às vezes peca pela falta de desenvolvimento e pelos cacoetes ruins do escritor.

Para quem já assistiu à série, é uma leitura boa, embora desnecessária, que nada acrescenta. Para quem nunca viu, no entanto, já se torna uma opção muito mais interessante.

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