Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é baseado em um gibi francês que existe desde 1967 chamado Valérian et Laureline. Embora aqui no Brasil ele não usufrua da mesma popularidade do herói francês Asterix, ele é bem popular entre os gauleses modernos.

Valerian and Laureline, delfos
Uma imagem do gibi, desenhada por Jean-Claude Mézières.

Não à toa, Luc Besson, cineasta que se especializou em dirigir e/ou produzir filmes franceses falados em inglês, resolveu usar a HQ como base para sua superprodução intergaláctica. E se tem uma coisa que você percebe imediatamente é quanto dinheiro foi investido aqui, principalmente no visual e nos efeitos especiais.

GROUND CONTROL TO MAJOR TOM

O filme se passa num futuro muito distante, no qual viajar pelo universo é mais tranquilo do que ir para outra cidade hoje.

Valerian (Dane DeHaan) e Laureline (Cara Delevingne) são dois soldados humanos encarregados de impedir uma transação no mercado negro e recuperar a muamba.

A muamba em questão é um bichinho fofo em extinção capaz de copiar coisas. Pois é, ele é uma mistura entre uma máquina Xerox e uma impressora 3D. E parece que no futuro uma praga ou algo do tipo eliminou todas as impressoras 3D, o que torna o bicho muito valioso.

– Leia também: entrevista com o diretor Luc Besson em 2007

Obviamente, a história não termina aí, ou o filme teria menos de meia hora. A coisa acaba se desenvolvendo de forma um tanto rocambolesca. Não é difícil de entender, mas é o tipo de narrativa com tanta viradinha que acaba ficando engraçado de forma não intencional.

Valerian, Delfos
O que a gente está olhando lá em cima?

VISUAL ESPETACULAR

Se a história em si não é grande coisa, o filme é simplesmente de encher os olhos. Os cenários são vivos e coloridos. Há diversos planetas, cada um com uma cara própria, bem como vários ETs diferentes com suas próprias culturas.

Tem também uma grande influência de videogame. Por exemplo, logo no início, visitamos um mercado que fica em outra dimensão. Isso significa que ele só pode ser visto e tocado pelos turistas se estes estiverem com óculos e luvas. É bacana, mas impossível não lembrar de realidade virtual, e acredito que esta tenha sido bem a intenção.

Valerian, Delfos
ET. Phone. Home.

As cenas de ação também têm bastante do nosso entretenimento interativo preferido. Não é difícil pensar que Valerian tem potencial de agradar as mesmas pessoas que gostaram de Sucker Punch. E de desagradar aquelas que não gostaram da homenagem de Zack Snyder aos games. Afinal, ambos os filmes são praticamente apenas visual e espetáculo, sem sustância alguma.

Valerian, DelfosPROTAGONISTAS MEH

Talvez o pior problema do filme seja o protagonista e sua sidekick. Eles simplesmente não convencem nos papéis. Valerian deveria ser um cafajeste pintudão não tão diferente de Han Solo, mas Dane DeHaan está longe do carisma de um Harrison Ford. Além disso, ele não tem porte nem visual para um herói de ação, além de ser jovem demais para o papel.

Cara Delevingne vai pelo mesmo caminho. Ela tem cara e voz de menina, enquanto a personagem deveria ser uma mulher confiante e bem resolvida. Claro, existem meninas confiantes, mas o papel carece de uma certa maturidade.

Provavelmente a ideia do Luc Besson foi pegar atores jovens para fazer uma franquia longa e rentável, mas ele não precisava ter exagerado tanto. Afinal, não estamos falando de um adolescente nerd, mas de soldados de ranking alto. E o filme sofre por isso.

Curioso também é que os atores mais famosos aparecem em papéis que são basicamente pontas, como o sempre canastrão Clive Owen e o Ethan Hawke. Tem até a cantora Rihanna, fazendo uma personagem que é bem carismática e divertida.

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é daqueles filmes que, analisando friamente, são bem ruinzinhos, mas que você acaba não percebendo em meio a tanto espetáculo visual. Isso faz com que ele até divirta, mas provavelmente só vai ficar na cabeça da galera mais jovem. Para os mais escolados, beira um filme nada.

CURIOSIDADE:

  • Fazia muito tempo que eu não via um evento de imprensa tão mal organizado quanto este. Teve confusão na fila, pessoas convidadas que foram desconvidadas, assessoria passando sua responsabilidade para jornalistas (teve gente que foi obrigada a mostrar o e-mail de confirmação para poder entrar porque eles esqueceram de colocar o nome na lista) e um atraso que beirou uma hora.