Ultimate Marvel vs. Capcom 3 em uma nova geração

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Quando eu era adolescente, e Street Fighter II estava no auge da sua popularidade, luta era o meu gênero preferido, e o clássico da Capcom era o jogo que eu mais gostava. Modéstia à parte, eu jogava/jogo essa versão tão bem que se existissem pro-gamers naquela época, era possível que eu tivesse virado um.

Daí os jogos de luta evoluíram. Eu ainda joguei bastante Darkstalkers e Marvel Super Heroes, mas quando chegou no Killer Instinct e nos crossovers como Marvel Vs. Capcom, o foco em combos enormes acabou me afastando, pois não tinha saco para decorar ou aprender tudo de novo. Para mim, um combo enorme era o bom e velho shoryuken quíntuplo do Ken – e se você lembra como fazia, deixe um comentário ensinando os novatos e ganhe meu respeito roots (uma das muitas categorias nas quais encaixo o respeito Corraliano).

Marvel vs. Capcom 3: Fate of Two Worlds, assim como sua versão Ultimate, saíram para a geração passada em 2011, e acabaram de receber uma remasterização para a geração atual. A versão para PS4 já saiu e, curiosamente, a de Xbox One só sai em março de 2017.

Este lançamento rola de surpresa depois de os jogos terem ficado fora de catálogo por um problema de direitos autorais. Curiosamente, uma ou duas semanas antes do lançamento, estava conversando sobre isso com o Luiz, que estava procurando pelo jogo para comprar. O timing da Capcom não poderia ter sido melhor para o nosso amigo.

Embora eu tenha paquerado o jogo original quando ele saiu, admito que acabei nunca jogando. E veja só, com jogos da Capcom, ser paciente costuma ser recompensado, pois você consegue jogar a melhor versão possível depois. Considerando que a Capcom praticamente inventou os DLCs com suas múltiplas versões de Street Fighter 2, é curioso que tanto Street Fighter 4 quanto Marvel vs. Capcom 3 tenham ganhado versões turbinadas à parte, e não apenas como DLCs que pudessem ser comprados por quem já tinha o jogo.

Felizmente, jogando Ultimate Marvel vs. Capcom 3 na geração atual, essa divisão na comunidade não deve acontecer, tornando possível curtir o jogo durante toda sua vida útil.

MAIS ACESSÍVEL, MAIS ALEATÓRIO

E vou dizer, como o jogo é divertido. Ele é ao mesmo tempo mais acessível e mais aleatório do que Street Fighter. Você não precisa necessariamente decorar um monte de golpes especiais e como cada um dos seis botões de ataque os afetam. Aqui existem apenas quatro botões, mas não é o tradicional soco/chute fraco/forte. Tem um ataque fraco, um médio, um forte e um especial, que normalmente é um gancho (não confundir com os golpes especiais, como o hadoken). Você pode fazer os especiais do tipo hadoken com qualquer botão menos com o “especial”, que serve apenas para dar ataques fortes e específicos.

Por um lado, isso facilita para quem curte um button-mashing. Por outro, deixa mais difícil para quem está acostumado com os Street Fighters da vida. O Dante, por exemplo, tem golpes especiais totalmente diferentes feitos com os mesmos movimentos de direcional, dependendo apenas do botão apertado no final da sequência.

Outros personagens com os quais eu já sabia jogar bem, como Ryu, Akuma e Homem-Aranha, foram afetados por essa mudança. Um combo que eu faço desde a época de outrora é a famosa voadora/rasteira, que sempre foi dada com um único botão: chute forte. Agora, para você dar a voadora forte desses personagens, você deve usar o botão especial, enquanto para dar a rasteira, o botão forte.

Pode parecer que não, mas na hora da pancadaria cheia de adrenalina, fazer com dois botões o que você sempre fez com um pode causar momentos constrangedores como você pular na direção do seu desafeto e, ao invés de acertá-lo com um chute, dar um soco para cima. Aliás, qual é a utilidade de um golpe aéreo que ataca para cima, dona Capcom? Isso é algo que eu nunca entendi, nem mesmo no Street Fighter II.

A verdade, e talvez seja por isso que não consegui me interessar tanto pela série na minha adolescência, é que Marvel vs. Capcom não é um jogo de luta como Street Fighter é um jogo de luta. Ele está mais para um jogo de ação competitivo caótico, como Super Smash Bros., o que faz todo o sentido se você perceber a quantidade de mascotes e de personagens diferentes que temos aqui.

ORIENTE VS. OCIDENTE

A força do jogo está justamente em quanto você gosta desses personagens. Por mais legal que seja jogar com Dante ou Wolverine, a gente já viu eles lutando em vários jogos. É bem mais engraçado e divertido lutar com o advogado Phoenix Wright, por exemplo.

Isso possibilita lutas que podem até parecer bullying. Por exemplo, jogando com camaradas, acabou rolando um time de Hulk, Sentinela e Thor contra Arthur (de Ghosts ‘N Goblins), Phoenix Wright e Rocket Racoon. Sem dúvida foi uma batalha de Davis contra Golias. Pois é, UMVC3 tinha no seu elenco o Rocket Racoon antes de ele ser modinha.

Os personagens estão todos muito bem representados. O Deadpool, por exemplo, me fez rir alto várias vezes com suas papagaiadas. Coisas como ele andar para trás fazendo o moonwalk ou gritar shoryuken quando você aperta o botão especial são simplesmente geniais (para melhores efeitos, imagine que é o Deadpool apresentando o vídeo abaixo).

Apesar de ter um monte de personagens legais, no entanto, dá para estranhar algumas escolhas. Por exemplo, colocar o desconhecido Shuma-Gorath (mesmo eu tendo lido gibis da Marvel por mais de uma década, só o conheci por causa da sua aparição em Marvel Super Heroes) e não outros mais conhecidos é um bocado absurdo. Do lado da Capcom, o mesmo pode ser dito quando percebemos que temos o Zero, e não o próprio Mega Man. Mas convenhamos que este é o tipo de coisa que pode ser dito de qualquer jogo best of, uma vez que é impossível colocar todos que todo mundo quer ver.

Uma coisa engraçada é que os personagens da Capcom são tão totalmente japoneses, enquanto os da Mavel são tão estadunidenses que se você pensar na batalha entre os dois mundos como um ocidente X oriente não estaria errado.

VERSUS ARCADE

Ultimate Marvel vs. Capcom 3 está no seu melhor quando você está jogando versus contra amigos na mesma sala. Esta é uma vantagem que ele tem sobre outros jogos de luta para mim.

Como eu joguei muito Street Fighter II e os dois primeiros Mortal Kombat, dificilmente eu conseguia um parceiro apropriado para jogar os jogos mais recentes. Com amigos presenciais, eu normalmente era muito bom, o que não tornava as lutas divertidas nem para eles nem para mim. Jogando online contra desconhecidos, no entanto, as diferenças dos jogos mais recentes para os que eu aprendi a jogar faz com que eu perca quase todas, o que também é chato. Falta um meio termo onde eu consiga lutas equilibradas.

Ultimate vs. Capcom 3, no entanto, eu jogo mal. Não adianta nem tentar fingir que não, eu estou no mesmo nível daquela priminha que pegava a Chun-Li no Street Fighter II, ficava martelando os botões e mesmo assim ganhava de todo mundo. Isso fez com que eu conseguisse ter lutas divertidas até contra a patroa, o que nunca acontece em outros jogos competitivos, nos quais ela, por não ser gamer, perde praticamente tudo. Isso faz com que Ultimate vs. Capcom 3 possa ser um jogo viável e divertido para todo mundo quando receber amigos em casa, e aí ajuda bastante seu elenco cheio de personagens conhecidos.

Ajuda também o fato de ele ocupar menos de 5Gb no HD, sendo um dos menores jogos de PS4, até mesmo se comparado a outros remasters (Darksiders Warmastered Edition, por exemplo, tem 40Gb). Comparando, por exemplo, com Mortal Kombat X e seus gloriosos 50Gb, acaba sendo muito mais fácil manter UMVC3 sempre instalado.

O modo arcade, por outro lado, é bem chatinho. A dificuldade em geral é bem adaptável, indo do very easy ao very hard, mas não interessa o nível que você escolha, a luta contra o Galactus é sempre ridiculamente difícil. Ela começa com você tendo que encarar dois personagens ao mesmo tempo. Ao vencê-los, já com a energia debilitada, Galactus aparece, e embora dê para defender alguns de seus golpes com alguma perda de energia, a maior parte de seus ataques é indefensável e tira quase toda a sua vida. Isso faz com que ele vença seus três personagens em segundos, às vezes antes de você conseguir chegar perto dele, tornando os ultra combos a única esperança realmente viável. E ele é difícil desse jeito até mesmo no very easy, no qual todas as lutas anteriores são tão fáceis que chega a ser entediante.

Assim, terminei o modo arcade algumas vezes, mas não tenho vontade de continuar jogando com outros personagens para ver todos os finais, como costumo fazer em Street Fighter. Felizmente, existe uma outra forma de jogo single player na qual você vai conquistando territórios a cada luta. Na prática, a única diferença real, no entanto, é que não tem Galactus. Ou pelo menos não tem até onde eu cheguei, o que significa que demora várias horas para ele aparecer – se aparecer – ao contrário do arcade onde ele popa depois de cinco ou seis lutas.

QUEM GANHARIA UM COMBATE ENTRE DANTE E HOMEM-ARANHA?

Ultimate Marvel vs. Capcom 3, agora na nova geração, pode tanto ser altamente frustrante quanto muito divertido. Recomendo com todas as forças para quem está procurando por um party game para jogar com amigos, que podem ou não ser gamers. Ele é menos recomendado se você quiser jogar sozinho, graças a seu chefe final, mas até aí, acho que pouquíssima gente compra um jogo de luta hoje em dia para jogar sozinho, e com os amigos o que temos aqui é muito legal.

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