Tudo e Todas as Coisas é um romance jovem adulto sem sal

Meninas da bolha também amam.

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Romances adolescentes se popularizaram bastante na dita literatura jovem adulta. O passo seguinte, óbvio, é ser adaptado para o cinema. E como toda mídia cooptada pela sétima arte, nem tudo que eles pegam para fazer essa transposição necessariamente é o melhor que o gênero tem para representar. Eu diria que este é o caso com Tudo e Todas as Coisas.

Maddy é uma adolescente que possui uma rara doença do sistema imunológico. Como consequência, ela tem de viver confinada em casa, sem qualquer contato com o mundo exterior. Pois é, ela é uma autêntica bubble girl. Só que aqui, diferente de Seinfeld, não aparece o George Costanza para arranjar treta com ela por causa de um jogo de tabuleiro.

É uma pena, pois isso renderia um filme bem mais divertido. Ao invés disso, ela se apaixona pelo novo vizinho da casa ao lado, Olly. O raparigo também fica caído por ela e eles passam a se relacionar através de trocas de mensagens pelo celular. Afinal, que melhor cupido da era digital que o Whatsapp, não é mesmo?

Obviamente, este não é um gênero que eu aprecie, mas se dá para dizer uma coisa do longa, é que o roteiro realmente parece ter sido escrito por uma adolescente, pois é uma historinha de amor bem bobinha e idealizada, e não faria feio aqui mesmo em nossa terra, como uma temporada de Malhação.

Há todos os clichês do gênero. O moleque é bonitão, meio rebelde, mas ao mesmo tempo inteligente e bastante sensível, do jeitinho que uma menina idealizaria. Há bastante sacarose e situações típicas saídas diretamente das fantasias românticas mais açucaradas e ingênuas possíveis.

O andamento da trama também é bastante previsível e não é difícil imaginar que ele vai fazer de tudo pra driblar a limitação autoimposta do relacionamento sem contato físico, mas ele sequer se esforça muito para pensar num jeito decente de resolver tais problemas.

Aliás, uma das coisas mais legais dele é o modo como encontrou para transformar em imagens as conversas virtuais dos dois pombinhos. Só que se ateve ao básico. Dava para dar uma boa pirada e transformar essas partes em coisas ainda mais interessantes.

Só que quando a história dá uma reviravolta, ela deveria imediatamente virar um filme policial, tamanho o absurdo das questões que acontecem. Mas claro, o filme não segue nenhuma lógica fincada na realidade, e prefere não abordar esses assuntos, focando mesmo na historinha de amor.

Mesmo bobo ao extremo, o filme não é ruim, principalmente se você desligar o cérebro e mandar a lógica para o espaço. Contudo, também está longe de ser bom, e mesmo dentro desse filão já apareceram produções muito mais competentes e redondas. Sendo assim, Tudo e Todas as Coisas resulta num filme nada que só vai ter apelo mesmo com os apreciadores mais passionais desse tipo de história e olha lá.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
tudo-e-todas-as-coisas-e-um-romance-jovem-adulto-sem-salTítulo original: Everything, Everything<br> País: EUA<br> Ano: 2017<br> Gênero: Drama/Romance<br> Duração: 96 minutos<br> Distribuidora: Warner<br> Direção: Stella Meghie<br> Roteiro: J. Mills Goodloe<br> Elenco: Amandla Stenberg, Nick Robinson e Anika Noni Rose.