A Dona Morte nunca descansa, e em 2017 está sendo especialmente cruel para com os fãs do cinema de terror. Pouco mais de um mês após a morte de George A. Romero, agora foi a vez dela levar outra figura importante e influente do gênero, o cineasta Tobe Hooper.

O diretor e roteirista estadunidense morreu no sábado, 26 de agosto, aos 74 anos, em Los Angeles, Califórnia. Até o momento do fechamento desta matéria, a causa da morte ainda não havia sido divulgada.

Mesmo tendo comandado um dos filmes seminais do gênero e que fez seu nome, O Massacre da Serra Elétrica, ele nunca conseguiu passar em definitivo para o primeiro escalão dos nomes do gênero, como Wes Craven, John Carpenter ou o próprio Romero.

Sua carreira resultou irregular, com muitas produções abaixo da média, outros tantos que caíram no nicho dos filmes B e alguns outros que conseguiram alcançar um status cult. Até por essa irregularidade nos filmes, foi buscar estabilidade financeira na televisão, tendo dirigido inúmeros episódios dos mais variados seriados.

Como forma de homenageá-lo, resolvi selecionar cinco de seus melhores e/ou mais conhecidos trabalhos, que valem a pena ser revistos. Ou descobertos, caso você não os conheça. Vamos lá:

MENÇÃO HONROSA: A MANSÃO MARSTEN (Salem’s Lot – EUA – 1979)

Delfos, A Mansão Marsten
Dá um abraço!

Antes de entrar na lista propriamente dita, convém citar esta minissérie televisiva que adapta o segundo romance de Stephen King, A Hora do Vampiro (ou Salem, como foi rebatizado em edições mais recentes publicadas no Brasil).

Com cerca de três horas de duração, conta a história de um escritor que se estabelece numa pacata cidadezinha da Nova Inglaterra com a intenção de desfrutar da calma e tranquilidade do lugar para escrever seu novo romance. Só que a tal calma e tranquilidade logo desaparece quando um vampiro também decide que aquele é um bom lugar para morar.

Hooper foi bastante elogiado por seu trabalho na adaptação para a obra de King, e voltaria décadas depois ao universo do mestre do terror com o filme Mangler, Grito de Terror (1995). Infelizmente, ao escolher um dos contos mais imbecis de King (sobre uma máquina industrial de passar roupa assombrada. Sério!) para levar ao cinema, não tinha como não ficar uma porcaria. Agora sim, passemos a seus cinco trabalhos mais emblemáticos no cinema.

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA (The Texas Chain Saw Massacre – EUA – 1974)

Não daria para não incluir o filme que fez sua fama. Em seu segundo longa da carreira, e inspirado livremente na história real do serial killer Ed Gein (o mesmo que também inspirou Psicose), Tobe chega com os dois pés na porta e concebe um clássico do cinema de terror de baixo orçamento.

Delfos, O Massacre da Serra Elétrica
Uma das cenas mais icônicas do terror.

Com uma linguagem crua e documental (mais um caso da criatividade sobrepujando as limitações técnicas/financeiras), retrata de maneira visceral a singela história de um grupo de jovens chacinados por uma família de caipiras psicopatas e canibais.

O filme deixou um grande legado. Seja na forma de um dos personagens mais famosos do gênero, Leatherface, o maníaco da serra elétrica com uma máscara de pele humana. Seja por ter virado uma franquia que perdura até hoje. Seja por constar frequentemente em listas dos melhores longas de terror de todos os tempos.

PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR (The Funhouse – EUA – 1981)

Delfos, Pague Para Entrar Reze Para Sair
Coisinha linda, sô!

Este aqui era um verdadeiro clássico das madrugadas da TV aberta na virada dos anos 80 para os 90. Hooper concebe um slasher eficiente sobre um grupo de amigos adolescentes numa noite infernal na casa maluca de um parque de diversões macabro, perseguidos por um maníaco mascarado (e não é o Leatherface!).

Pode não ter causado o mesmo impacto de O Massacre da Serra Elétrica, e nem se tornado tão famoso quanto, mas ainda assim é divertidão e fez a alegria de muitos fãs mais velhos do gênero que, como eu disse no parágrafo acima, só podiam contar com os canais abertos para ter sua dose de sustos.

POLTERGEIST: O FENÔMENO (Poltergeist – EUA – 1982)

Tobe se alia a ninguém menos que Steven Spielberg e cria mais um grande clássico do medo. Trata-se da notória história da família que se muda para uma casa construída sobre um cemitério e que passa a vivenciar fenômenos paranormais causados pelos espíritos inquietos.

Delfos, Poltergeist
Palhaços. Sempre palhaços…

O longa apresentou diversas situações que se tornariam clichês nos filmes seguintes sobre assombrações e sofreu até sua própria maldição, já que duas atrizes da produção morreram precocemente após participarem dele (incluindo a garotinha).

Além desta ocorrência macabra, há certa polêmica envolvida na produção. Reza a lenda que Spielberg, que escreveu e produziu o filme, e era muito presente no set, não ficou muito contente com o estilo de direção de Hooper e teria ele próprio assumido o comando de grande parte das filmagens. Claro que nenhum dos lados nunca esclareceu essa história. O longa ganhou uma refilmagem sem pegada recentemente.

FORÇA SINISTRA (Lifeforce – Reino Unido/EUA – 1985)

Delfos, Força Sinistra
Essa força é mesmo sinistra!

O cineasta junta forças com a Cannon, uma das produtoras mais folclóricas e podreiras do cinemão estadunidense, que teve seu período de glória nos anos 80. E faz esse filme que mistura terror e ficção científica sobre vampiros espaciais que invadem Londres.

Não há como esquecer a vampirona principal, que perambulava, sem o menor pudor, totalmente peladona. Ou os efeitos especiais bagaceiras. Vale citar também a presença de ninguém menos que Patrick Stewart no elenco, pagando mico. Este era um dos casos que o negócio era tão tosco que era bom. Não deu outra, acabou virando cult.

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA PARTE 2 (The Texas Chainsaw Massacre 2 – EUA – 1986)

Ainda pela Cannon, o cineasta retorna para fazer a continuação de seu grande clássico. De quebra, trouxe o doidaço Dennis Hopper para protagonizar como um sujeito em busca de vingança pessoal contra a família de canibais.

A intenção do diretor era fazer uma produção de tom completamente diferente do longa original, trilhando um caminho de sátira social. No entanto, alguma coisa não deu muito certo e este aqui entra fácil na minha lista pessoal de piores filmes de todos os tempos.

Seja como for, o histrionismo exacerbado da produção encontrou sua parcela de admiradores e este acabou se tornando o último filme digno de nota do cineasta. Não deixa de ser apropriado, afinal, acaba fechando um ciclo iniciado justamente com o Massacre original.

Essa família é muito unida. E também muito canibal.

Todos esses filmes são relativamente fáceis de se encontrar e, se tudo mais falhar, uma rápida viagem à Argentina sempre dá jeito. Se você já assistiu, vale a pena dar uma revisitada. E se não os conhece, fica a recomendação para conhecer a fatia mais representativa da obra de mais uma importante figura do cinema que nos deixa neste ano.