The Wolf Among Us

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Hoje vamos falar sobre a primeira incursão da Telltale no mundo dos games após o estrondoso sucesso da sua primeira temporada de The Walking Dead. Na verdade, os primeiros dos cinco episódios desta série começaram a sair antes mesmo da Season 2 do The Walking Dead, do qual falamos há alguns dias.

As versões que analisei, no entanto são as que saíram para o PS4 em novembro, ao mesmo tempo. E você já sabe o que eu acho do jogo dos miolentos, então hoje vamos falar sobre o mundo das fábulas.

FABLES

The Wolf Among Us é baseado no gibi da Vertigo intitulado Fables, de autoria de Bill Willingham. É uma prequência para a história contada nos gibis e, segundo a Wikipédia, vale como cronologia oficial, ou seja, não é uma história à parte como os excelentes jogos do Batman.

Devo admitir que eu não conhecia os gibis, desta forma os jogos foram minha primeira imersão no mundo de Fables. E, se você também não conhece, vou fazer uma introdução.

UMA INTRODUÇÃO

Fables acontece em uma comunidade chamada de Fabletown. É lá que todas as criaturas de contos de fadas e folclore (chamadas de fables, ou fábulas) moram, ou pelo menos os que têm aparência humana. Os que não têm essa sorte devem comprar glamour, um feitiço que cria a ilusão de que são humanos. Só que o feitiço é caro, e aqueles que não podem comprar são enviados para morar na Fazenda, o que é encarado pelas fábulas como uma prisão.

No jogo você controla Bigby Wolf, um apelido carinhoso para Big Bad Wolf ou, em bom português, o Lobo Mau. Ele é o xerife de Fabletown e é chamado para investigar uma confusão que está acontecendo na casa do Lenhador – aquele mesmo que encheu sua barriga de pedras para proteger a Chapeuzinho Vermelho.

Horas depois, uma garota que ele acaba de conhecer é assassinada. Quando uma segunda vítima aparece, fica claro que alguém está matando Fábulas, o que não acontecia em Fabletown há muito tempo.

O início da história lembra muito uma graphic novel clássica que você provavelmente leu. Falo, é claro, de Watchmen. Afinal, o clássico de Alan Moore começa com as suspeitas do Rorschach de que alguém está matando super-heróis.

Até o visual de ambos é parecido. The Wolf Among Us tem cores saturadas e bastante vivas, lembrando bastante o visual de Watchmen. É praticamente um gibi animado e deve agradar bastante a qualquer delfonauta que se preze.

Voltando à história, assim como no gibi adaptado para a tela grande por Zack Snyder, a coisa logo demonstra ser muito mais do que obras de um serial killer. E cabe a você investigar o que diabos está acontecendo.

O JOGO

Se jogos como o próprio The Walking Dead levam os adventures a um novo patamar, mais semelhante a histórias interativas do que a jogos propriamente ditos, este aqui dá um passinho atrás, e lembra mais os clássicos que tanto inspiraram a Telltale, como Monkey Island ou Full Throttle.

Isso porque em vários momentos você deve realmente investigar o cenário, e passa por muitos locais várias vezes. Não chega a ter puzzles complexos como nos antigões, mas você realmente é muito mais detetive aqui do que em The Walking Dead. O que faz todo o sentido para a sua história, é claro.

Se fosse compará-lo a um outro jogo, portanto, não o compararia à história da menina Clementine, mas com L.A. Noire. Embora aqui não seja exatamente possível fazer uma investigação falhar, o feeling de ambos é bem parecido.

Uma coisa que me chamou a atenção é que The Wolf Among Us é bastante engraçado. Ok, não é uma comédia, como Monkey Island ou Grim Fandango, mas o humor sem dúvida faz parte dele, e muitas vezes o absurdo me fez rir alto. Ou vai dizer que você não riria quando chega na casa do Lobo Mau e encontra um dos Três Porquinhos dormindo no sofá?

Apesar de o feeling ser bem diferente de Walking Dead (afinal, esta é uma história de detetive, não de sobrevivência), a qualidade do trabalho da Telltale se mantém alta por toda a temporada, ainda que existam alguns pontos altos (o último episódio, em especial) e outros um pouco mais baixos (como o terceiro).

INCONSISTÊNCIA

Uma coisa que me incomodou um pouco é que nem todos os personagens são fábulas propriamente ditas. Ok, Lobo Mau, Pequena Sereia, Branca de Neve… todos eles fazem sentido estar aqui. Mas e o Ichabod Crane, de Sleepy Hollow? Este é um conto escrito por Washington Irving. Se formos colocar qualquer história com um pouco de fantasia nela, até o Harry Potter ou o Frodo poderiam morar em Fabletown. Nesse ponto, que é mais em relação ao gibi em si do que ao jogo, considero que o mundo de Shrek é mais consistente, pois lá de fato só temos fábulas.

Um grande pecado da Telltale, a meu ver, foi a adição de colecionáveis. Dependendo de algumas das suas decisões, você vai liberar entradas no Book of Fables, uma espécie de mini-enciclopédia. Até faz sentido ela existir, para explicar de quais histórias cada um dos personagens vem. Porém, para pegar todas elas você vai ter que jogar a história várias vezes tomando decisões diferentes, o que obviamente só serve para ter um troféu Pokemon (pegue todos eles!), o que ninguém gosta. Curiosamente, a ausência disso foi inclusive um ponto que eu elogiei na resenha de The Walking Dead e é uma pena que não posso fazer o mesmo elogio aqui.

Outro problema grave, que também imagino vir do gibi, é a inconsistência na questão do Lobo Mau em si. Segundo as histórias da Chapeuzinho Vermelho e dos Três Porquinhos, ele é um lobo, não um lobisomem. Aqui, no entanto, ele se transforma de humano para lobo a hora que quer, independente de glamour, um luxo que os Três Porquinhos, por exemplo, não têm. Isso me incomodou durante toda a jogatina, e só foi explicado na última entrada a ser liberada no Book of Fables, ou seja, algo tão vital para a história sequer é explicado na narrativa principal.

A última coisa chata que eu queria comentar é a ausência de fábulas muito conhecidas. Ok, tem a Bela e a Fera, tem a Branca de Neve, tem o Lobo Mau, mas nenhum deles é vítima do assassino, por exemplo. Um personagem extremamente importante para a história é um tal de Crooked Man, do qual eu nunca ouvi falar. Até achei que isso fosse uma alcunha e que, na hora que ele aparecesse, ele se revelaria alguém famoso, mas não foi o caso. Isso provavelmente se deve ao fato de a história vir antes e se encaixar à do gibi, pois obviamente eles não poderiam matar ou fazer nada realmente radical com uma fábula importante do gibi, o que leva a pensar que talvez seria mais legal se a história fosse contada de forma mais livre, sem ser amarrada pela cronologia do gibi. Ei, deu certo nos jogos do Batman, não deu?

UM FINAL EXTREMAMENTE SATISFATÓRIO

Durante toda a jogatina, que levou cerca de 10 horas (cada episódio tinha quase exatamente duas horas), eu estava gostando bastante do jogo, mas não o considerava melhor nem tão impactante quanto as duas temporadas de The Walking Dead.

Mas daí veio o último episódio e, meu amigo, a Telltale conseguiu virar o jogo, criando um dos finais mais satisfatórios desde o primeiro God of War.

Mais da metade do último episódio é a conclusão da história, o que permite que tudo seja feito de maneira muito bem elaborada e nada apressada. A cena do julgamento, em especial, já seria excelente se fosse um gibi ou um filme, mas sendo interativa se tornou ainda mais intrigante.

Na cena em questão (pode ficar tranquilo, sem spoilers por aqui), o criminoso se defende e você tem opções para acusá-lo, ficar quieto ou até concordar com ele. E ele se defende tão bem que conseguiu até mesmo me deixar inseguro se de fato ele merecia ser punido. Um excelente desfecho, que mais uma vez volta a lembrar também o desfecho de Watchmen.

Com isso, The Wolf Among Us foi elevado na nota de “um bom jogo” para um “excelente jogo”, colocando-o no mesmo nível da segunda temporada de The Walking Dead. Claro, são histórias diferentes, com pegadas diferentes, mas se você está no DELFOS, muito provavelmente gosta dos dois gêneros, e também de histórias interativas, então dá para recomendar sem medo. The Wolf Among Us é tão bom quanto você espera que ele seja.

ENQUETE PARA DEFINIR O FUTURO DO DELFOS:

– Está sendo comum lançar jogos em episódios, então o DELFOS quer saber: você prefere que a gente analise baseado no primeiro capítulo, publicando uma resenha o mais rápido possível, como fizemos com Life Is Strange ou analisamos apenas após termos jogado a temporada inteira, como fizemos com este e com The Walking Dead? Deixe sua resposta nos comentários e ajude a deixar o DELFOS mais com a sua cara.

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