The Witcher 3: Blood and Wine

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Eu tenho um problema com DLCs, especialmente de jogos mais complexos. Eu costumo esquecer como se faz coisas importantes dele nos meses que passo sem jogar e levo um bom tempo para voltar a me acostumar. Isso aconteceu quando fui jogar a expansão Hearts of Stone e novamente quando voltei para Blood and Wine. Amigo delfonauta, devo dizer que não me lembrava nem como chamar o cavalo.

Aos poucos, claro, você vai se lembrando de tudo naturalmente, e o que não se lembrar pode ser resolvido com uma rápida busca na internet. Assim, não demora para você estar totalmente investido em Blood and Wine, o derradeiro capítulo de The Witcher 3: Wild Hunt, um dos jogos mais elogiados dessa geração.

Eu não revisitava Geralt of Rivia desde outubro, quando resenhei a expansão anterior, e logo reparei que os patches que o jogo recebeu desde então melhoraram muito um dos principais problemas do jogo: os menus. Eu não diria que eles estão perfeitos. Ainda demoram muito para carregar e era comum eu querer encontrar um item específico e não conseguir, mas é inegável a evolução em relação ao jogo que resenhei no ano passado.

Uma coisa que infelizmente não foi melhorada é que ainda não há possibilidade de pausar nas cutscenes e diálogos. Considerando que este é um RPG focado na história, no qual você passa mais tempo conversando com outros personagens do que explorando ou lutando, isso é um erro grave. Quando precisava pausar para atender o telefone ou algo assim, costumava forçar uma pausa abrindo o painel do PS4, mas é uma solução bem capenga para um problema que não deveria existir.

MONEY, MONEY, MONEY

Essas foram as primeiras coisas que eu pensei, logo que rodei Witcher 3 pela primeira vez em meses, antes mesmo de começar a expansão, mas é claro que agora é hora de falar do que realmente importa.

Assim que você carrega seu save após instalar Blood and Wine, pode iniciar uma nova quest na qual você é convocado pela duquesa de Toussaint para caçar um monstro que está matando cavaleiros (também é possível jogar a expansão como se fosse um jogo à parte, sem interferir no seu save principal). Parece mais um contrato como as dezenas que você resolveu ao longo da aventura do ano passado, mas é claro que vai ser um tanto mais complexo, envolvendo várias missões e uma investigação considerável.

A CD Projekt Red criou uma nova área para o já extenso mapa de Wild Hunt. Trata-se de Toussaint, uma região bem grande (especialmente considerando que é um DLC), completa com vários pontos de interrogação a serem explorados e vários notice boards com dezenas de sidemissions e contratos.

Se Hearts of Stone era um DLC mais focado em uma única história, com as missões basicamente te empurrando de uma para a seguinte, Blood and Wine é mais um típico jogo de mundo aberto, com seus próprios colecionáveis e desafios. Basicamente, o que temos aqui é um mini Witcher 3. E um mini Witcher 3 ainda é mais longo do que alguns outros jogos de mundo aberto, como Shadow of Mordor.

Tem até um novo nível para as armaduras de Witcher, chamadas de grão-mestre, que vão envolver novas caças aos tesouros e a necessidade de encontrar um artesão capaz de construí-las. Mas não ligue ainda, pois tem mais. Um novo sistema de mutações possibilita uma nova árvore de upgrades que vão deixar Geraldão ainda mais poderoso.

Há um porém neste aspecto: todos esses upgrades são muito caros. As mutações exigem não apenas um número plural de ability points, como um nímero também plural de Mutagens do tipo greater, que são bem raros de encontrar e complicados para construir.

Já as armaduras, você até consegue achar os diagramas sem dificuldade, mas para construí-las você precisará de dezenas de milhares de moedas, pois todas exigem componentes raros e caríssimos. Para você ter uma ideia, durante todo meu tempo em Blood And Wine, eu consegui comprar apenas duas mutações e passei todo o jogo acumulando dinheiro para criar uma das armaduras.

Só consegui completar um dos sets usando o prêmio que você recebe por completar a história. E sabe o que mais? Nem vale a pena, pois o acréscimo estatístico do equipamento do nível grão-mestre é bem pequeno, coisa de dois ou três pontos a mais de defesa. Quando você tiver dinheiro suficiente para construir um deles, já vai ter achado equipamentos melhores pelo caminho.

Uma mudança bacana em relação às histórias anteriores é que agora você vai poder negociar seu pagamento em quase todas as sidemissions, não apenas nos contratos. Eu gosto do minigame de negociação, então foi uma boa surpresa, mas não espere que isso lhe forneça uma quantia considerável de bufunfa.

Outra novidade – e que também custa caro – é que Geraldo Ribeiro agora ganha uma propriedade. Para ser mais específico, o seu próprio vinhedo. Assim, você também pode investir seu rico dinheirinho em ter uma casinha mais tchubiruba, o que traz benefícios como maior resistência para o seu cavalinho ou mais vitalidade para o herói.

VAMPIROS E BRUXAS

Eu gostei muito da campanha principal de Blood and Wine. Já as sidemissions são um tanto mais inconsistentes do que o que vemos no jogo original. Há algumas que são realmente legais e elaboradas, como um torneio de cavaleiros. Outras são divertidas pelo absurdo, como quando você é contratado para recuperar os testículos roubados de uma estátua que, segundo a lenda, aumentam a virilidade daquele que os esfrega.

No entanto, há também uma quantidade considerável de sidequests mais filler, que basicamente envolvem ir de um lugar a outro no mapa. É curioso, uma vez que o jogo original se destacou pela qualidade de seus sidequests, e a própria campanha deste já mais do que justifica o preço de admissão. Colocar tanto conteúdo menos inspirado apenas o desvalorizou.

Ajuda nisso o fato de que, quando você chega em Toussaint, todas as sidemissions já estão no mapa e você não tem os pontos de fast travel liberados. Ou seja, você vai passar suas primeiras horas basicamente ativando missões e cavalgando pelo mapa para poder se teleportar. E ao terminar isso, vai ter dezenas de missões no seu log para fazer.

Particularmente, eu prefiro quando o jogo vai liberando as sidemissions aos poucos, conforme eu vou avançando a história, pois não me agrada ficar com tantas missões pendentes ao mesmo tempo.

Felizmente, isso não incomoda nem um pouco enquanto você está fazendo a excelente história de Blood and Wine, que traz de volta alguns personagens de jogos anteriores que não tinham aparecido em Wild Hunt e que desenvolvem relações bem interessantes com nosso bruxeiro preferido.

O vampiro Regis, em especial, é um personagem excelente e muito bem escrito. Ele tem diálogos bastante elaborados e filosóficos com Geraldão, abordando coisas como a finitude da vida e a felicidade, com um nível de profundidade que simplesmente não é comum vermos em games.

FADAS E FÁBULAS

Lendo textos sobre este DLC, eu vi que a imprensa em geral disse que Toussaint parecia um lugar saído de fábulas e que esta expansão trazia mais mágica e mais humor do que Witcher 3 em geral.

Eu discordo. Toussaint é um lugar lindo, mas não é tão diferente de Velen, por exemplo. Sim, há muita mágica e muito humor espalhado por Blood and Wine, mas estas já eram características presentes no jogo original e no DLC anterior. Eu não diria que há uma inconsistência temática aqui. Pelo contrário, todo o desenvolvimento e conclusão desta nova história parecem um epílogo natural para o que foi mostrado em Wild Hunt e Hearts of Stone.

No entanto, há um certo quest em sua história que, este sim, é totalmente tirado de fábulas. Aliás, literalmente, pois ele coloca Geraldão interagindo com personagens como os Três Porquinhos ou o João (aquele do pé de feijão). E por pouco eu nem vi esse quest.

Acontece que quando o final se aproxima, você tem duas opções de caminho. Em uma delas, você é colocado em rota de colisão contra um personagem poderosíssimo. Em outra, você deve libertar um prisioneiro. Senti que a primeira opção geraria quests mais legais e escolhi esta.

Felizmente, após terminar o jogo, restaurei meu save e fui ver o outro caminho, que é onde está esta missão de contos de fadas. E quem diria, ela é a parte mais legal de todo o jogo, incluindo os pacotes anteriores.

Para esta longa quest, você vai a um novo mapa, muito mais colorido e bonito do que os principais, vai encontrar vários chefes bacanas e vai provar a virilidade de Geraldão cavalgando um unicórnio cor-de-rosa.

Isso sem falar as diversas referências e piadas espalhadas ao longo da missão. Por exemplo, enquanto explorava o mapa, passou um cara de cueca, desfilando todo pimpão, e a personagem que me acompanhava comentou “olha lá, é o imperador mostrando sua roupa nova”. Coisinhas assim acontecem a toda hora nesta missão, dando a sensação de você estar explorando o mundo de Shrek.

É simplesmente bizarro que a CD Projekt Red tenha colocado uma missão tão bacana e tão elaborada em um caminho que metade dos jogadores simplesmente não vai ver. Especialmente sendo que o outro caminho não traz nada tão marcante. Assim, se você quiser garantir, fique ligado: quando tiver que escolher entre perseguir um vilão ou libertar um prisioneiro, escolha esta segunda opção.

GLITCHES

Há alguns glitches bem malvados em Blood and Wine. Malvados do tipo que chegam a simplesmente impedir você de completar alguns sidequests. Em um deles, eu fui obrigado a parar no meio, enquanto outro eu simplesmente não consegui ativar.

O primeiro foi na quest Mutual of Beauclair’s Wild Kingdom. Eu a encontrei no mapa por acaso durante minha exploração e comecei a fazê-la. Ao longo da investigação, percebi que era uma missão a ser feita muitos níveis acima do que eu me encontrava. Então parei por ali na intenção de terminá-la mais tarde, após alguns level ups.

Quando voltei, no entanto, o cheiro que eu deveria seguir para encontrar o monstro simplesmente não estava mais lá, bem como o NPC que deveria me acompanhar ao longo da missão. Tentei me teleportar para outros mapas e voltar lá outras vezes e não adiantou, esta quest ficará para sempre incompleta no meu save.

O outro caso foi durante a missão dos contos de fadas. Neste mapa exclusivo, há um notice board, aquelas placas onde você pega sidemissions. Eu encontrei a placa, mas o jogo não me deixava interagir com ela. Fazendo uma busca online, descobri que deveria ter um sidequest ali, a ser realizado dentro do mundo de contos de fadas, mas algum erro não me deixou ativá-lo.

SANGUE E VINHO

Podemos dividir Witcher 3 em três capítulos. Wild Hunt, o jogo principal; Hearts of Stone, a expansão anterior; e esta Blood and Wine. Das três, Hearts of Stone é a mais concisa. Uma história com começo, meio e fim, sem grandes distrações ao longo dela.

Blood and Wine e Wild Hunt são mais parecidas entre si. Claro, Blood and Wine é mais curta, mas é grande o suficiente para ser um jogo de mundo aberto à parte, que outras desenvolvedoras colocariam no mercado a preço cheio.

Ela também traz as sidemissions menos inspiradas, mas por outro lado tem o melhor momento de toda a saga de Witcher 3. Se você quer mais uma história no mundo do bruxeiro Geraldão Ribeiro, fique com Hearts of Stone. Agora se você quer mais daquela experiência de um RPG de mundo aberto fornecida por Wild Hunt, Blood and Wine foi feito para você. Mas diga lá: por que não pegar tudo? Witcher 3, sendo analisado em sua versão completa, com todos os DLCs, é um jogo fantástico, que vale todo seu investimento.

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