The Walking Dead: A New Frontier

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A série de jogos de The Walking Dead foi o que transformou a Telltale de um estúdio nostálgico que fazia novos jogos com os personagens da saudosa Lucasarts para uma verdadeira contadora de histórias, o principal nome dos adventures modernos, ainda que tudo que ela faça seja com material licenciado de terceiros.

A primeira temporada de The Walking Dead nos apresentou a Lee e Clementine, e ao que viria a ser a fórmula da Telltale, por sua vez amplamente inspirada pelo que a Quantic Dream vinha fazendo.

Muitos jogos vieram depois, mas a fórmula se manteve a mesma. Assim, a novidade e o desespero causados pela primeira temporada de The Walking Dead perderam muito do seu impacto ao longo dos anos, agora que a gente sabe que as nossas decisões pouco ou nada afetam a história em si. Felizmente, se há algo que a Telltale sabe fazer muito bem é contar histórias. E, com tantos jogos bacanas no currículo, hoje me assumo como um fanboy da Telltale sem medo.

IMPORTAÇÃO

Uma das minhas grandes críticas à segunda temporada de The Walking Dead era direcionada ao fato de que não era possível importar os saves da geração passada. Provando que a turminha da Telltale lê o DELFOS, eles deram um jeito de resolver o problema.

Se você jogou a segunda temporada na mesma máquina em que vai jogar a terceira (no meu caso, no PS4), o jogo pode simplesmente ler seu save. Se está jogando em outro equipamento, é possível importar seu save criando uma conta da Telltale. Aparentemente, isso possibilita que você transfira seu save do Xbox 360 para o PS4 ou do celular para o computador, o que é bem bacana.

Uma outra opção é “recriar a história”. Antes de começar, o jogo te faz algumas perguntas sobre as decisões mais importantes. Isso acaba servindo para refrescar sua memória ou mesmo mudar alguma coisa se não ficou satisfeito com o final que recebeu.

COMEÇO TREMENDÃO

Em A New Frontier, você joga com um novo personagem chamado Javier. Ele e sua família sobrevivem no mundo pós-dia Z sendo nômades, e é claro que não demora para eles encontrarem a boa e velha Clementine.

A introdução, no entanto, rola no próprio Dia Z, e conta uma história que é difícil acreditar que até hoje não tivesse sido contada. As coisas começam com a morte do pai de Javi após uma longa doença. Como The Walking Dead segue as regras do Romero, de que qualquer presunto que não tiver dano no cérebro volta à vida, não demora para o papai levantar e atacar sua família, deixando todos confusos com o que está acontecendo.

Gostei tanto dessa abertura que é uma pena que ela seja apenas uma curta introdução. Eu simplesmente queria ver a reação dos personagens quando chegassem ao hospital com uma pessoa mordida e como lidariam com o que estava acontecendo.

Isso não é mostrado, pelo menos não nos dois primeiros episódios que estão disponíveis no momento. Ah, sim, e isso é mais uma novidade. É comum que os primeiros ou os últimos episódios de uma temporada na TV sejam duplos, e aqui a Telltale brinca com isso pela primeira vez, lançando de uma vez os dois primeiros episódios de sua série de cinco.

Eles são mais curtos do que o padrão Telltale, no entanto. Ambos podem ser jogados em pouco mais de duas horas, então não espere uma overdose de história só porque são dois episódios em um.

DECISÕES DIFÍCEIS

A história continua boa. O clima pós-apocalíptico de Walking Dead se encaixa muito bem com a forma Telltale de contar histórias, pois é bem natural pessoas boas tomarem decisões “malvadas” para sobreviverem.

Lembro que na primeira temporada, quando tinha que tomar aquela decisão relacionada ao personagem Duck, joguei várias vezes a cena para achar uma que me apetecesse. Foi aí que percebi que, não interessa o que eu fizesse, a história continuava mais ou menos do mesmo jeito. Saber disso diminui o impacto das suas decisões. Não mais eu fico preocupado com o que escolher ou fico frustrado se tomar uma decisão ruim, pois sei que a história que vou ver é virtualmente a mesma.

Ainda assim, há decisões pesadas a serem tomadas. Na primeira temporada, você protegia Clementine. Na segunda, você era a Clementine. Agora, na terceira, você pode ficar contra ela. Um caminho muito bem traçado pela Telltale, que é craque nesse tipo de coisa. Afinal, agora você é responsável pelo bem estar do Javi, e nem sempre o bem estar dele vai estar alinhado com a garotinha do boné.

Se na primeira temporada tivemos a presença de personagens do gibi e da TV, como Herschel e Glenn, nestes dois primeiros episódios temos também uma participação especial de um personagem conhecido.

Curiosamente, o New Frontier, grupo que dá nome à temporada, parece até agora bastante com os “salvadores”. Seria uma boa amostra de sinergia entre as mídias se a Telltale tivesse se aproveitado do hype dos novos vilões da TV para utilizá-los também no jogo. E faria todo o sentido, uma vez que, pelo que foi estabelecido na TV, os salvadores afetam grupos em uma área muito grande. Não que a Telltale precise disso, mas seria legal.

A história em si tem vários momentos marcantes. A Telltale não se furta de matar crianças para aumentar o impacto de sua história e impacto é o que não falta por aqui, ainda que os dois episódios sejam bem curtinhos.

O JEITO É ESPERAR

Por mais que eu seja fanboy da Telltale, eu odeio a estratégia de lançamento deles. Vai demorar pelo menos três meses para a história de A New Frontier atingir a sua conclusão, e até lá eu já vou ter praticamente esquecido o que aconteceu nestes primeiros episódios.

Particularmente, eu prefiro jogar tudo depois que já estiver disponível, o que obviamente não é uma opção quando eu tenho a responsabilidade de resenhar o primeiro lançamento.

Ao contrário de Batman, última aventura da Telltale, cuja abertura não foi muito marcante (mas que ficou legal ao longo da temporada), A New Frontier já começa com tudo, e espero que mantenha este fôlego nos três episódios restantes. Isso, no entanto, só saberemos ao longo dos próximos meses. Miolos…

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