Sabe aquele joguinho N+? Claro que sabe. Ele está disponível para praticamente tudo que roda jogos, e sua simplicidade é igualada apenas por sua dificuldade. Pois eu costumo dizer que ele é o mais puro exemplo de gamedesign. Basicamente, o jogo é uma série de desafios lúdicos, e não perde tempo com coisas como apresentação. Ele é focado apenas na jogabilidade e se dá muito bem nisso.

Talent Not Included é muito menos hardcore e muito mais cheio de enfeites e charmes, mas devo dizer que ele me lembrou bastante o clássico N+. Até rola uma historinha, ou melhor, três historinhas, mas embora elas sejam cheias de referências e piadinhas que apenas gamers vão entender, elas nunca entram no caminho da ação.

Em seu espírito, TNI é o mais puro jogo de plataforma. Pule de uma plataforma para outra. Cuidado com as armadilhas. Pegue balinhas. O charme e a sacada estão no fato de o visual emular teatro de bonequinhos. Assim, o cenário e os obstáculos vão mudando com frequência.

Nos momentos mais simples, você está em um lado da tela e deve chegar ao outro, onde está uma engrenagem dourada. Ao pegar a engrenagem, o cenário se desmonta e um novo aparece, com outra engrenagem ao ser coletada. Vá pegando engrenagens até que apareça um pódio com bandeirinhas, que é o sinal de que você venceu a fase ou, como o jogo a chama, a cena.

Este é o básico, mas não demora para as coisas ficarem cada vez mais complicadas. Em alguns momentos, aparece um pavio na parte inferior da tela. O pavio mostra quanto tempo vai demorar para a engrenagem aparecer. Seu objetivo é se manter vivo até lá, enquanto obstáculos, plataformas e inimigos vão sendo construídos no cenário. É tudo muito rápido e dinâmico, exigindo reflexos ágeis para pular entre plataformas assim que elas aparecem e antes que elas sumam. Shigeru Miyamoto ficaria orgulhoso com o nível de cuidado que TNI recebeu em cada uma das muitas telas que compõem suas 45 fases.

UMA TRINDADE DE HERÓIS

Há três personagens jogáveis por aqui, cada um deles representando uma peça de teatro com uma história independente. Mas o legal mesmo é que os três personagens são bem distintos, e o design das suas fases explora isso.

O cavaleiro, por exemplo, é o primeiro. Ele tem um ataque de espada, bastante life e um dash que possibilita atacar e atravessar pequenos buracos sem cair ao mesmo tempo. Ele é um personagem bem padrão dos jogos de plataforma.

A segunda é a rogue, que tem life mediana e um dash que a torna invencível tanto a inimigos quanto a obstáculos e pode ser ativado a qualquer momento. Tem espinhos no teto, mas não tem jeito de evitar bater a cabeça lá? Use o dash no meio do pulo e mande os espinhos ouvirem um pagodão suado.

O último é o mago, que é o mais diferente. Ele tem apenas três coraçõezinhos de vida, mas solta um projétil que pode atacar inimigos de longe. Não para por aí, pois seu dash é um teleporte e ele ainda tem a possibilidade de planar.

Com esta lista de habilidades, você pode imaginar os desafios que vai encontrar. O mago pode precisar planar entre armadilhas para coletar as balinhas, enquanto a rogue tem que se habituar a usar a dash nos momentos certos.

As balinhas dão pontos e, se você pegar várias sem ser atingido, seu multiplicador vai subir, o que vai possibilitar melhores classificações ao final da cena. Essas classificações servem apenas para desbloquear uma conquista de 50 pontos, e se isso pode parecer alcançável enquanto você estiver jogando com o cavaleiro, quero ver manter esta opinião nas fases da rogue. Pois é, o negócio realmente fica bem complicado. Vai chegar a hora em que você não mais vai se preocupar com a classificação, mas apenas com sobreviver até o final.

Cada personagem tem 15 cenas, sendo que a cada cinco rola um chefe. Cada história tem um único chefe, com o qual você luta três vezes, e a luta vai ficando mais complicada e difícil a cada novo encontro.

Embora eu tenha gostado muito do gamedesign em geral, achei um dos obstáculos específicos bem chatinho. Em algumas cenas dos três personagens, há canhões que ficam atirando na sua direção, e você deve pular nas balas para alcançar plataformas mais altas. É algo até tradicional em jogos 2D, mas aqui é bem complicado. O clímax é em uma fase do mago em que você não pode pisar no chão e tem que ficar apenas pulando de bala em bala até o pavio queimar por completo e o jogo considerar o desafio cumprido. Acredite, é bem menos divertido do que parece.

Felizmente, essas fases com canhões representam um pedaço bem pequeno do jogo, e embora quando você esteja em uma delas seja difícil não ficar de saco cheio, quando você consegue passar, normalmente as fases seguintes voltam a ser bacanas.

TALENTO INCLUÍDO

Apesar de se chamar Talent Not Included, claramente muito talento foi investido por aqui. O jogo é simplesmente muito divertido e consegue ser retrô sem ser pixelado, o que é sempre uma ótima combinação. Aliás, o visual é caprichado e muito bonitinho, além de ser complementado por excelentes músicas. Se você gosta de jogos como Super Mario Bros. – e quem não gosta? – não perca Talent Not Included.

REVER GERAL
nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
talent-not-included Plataformas: Xbox One e PC<br> Versão analisada: Xbox One<br> Desenvolvedora: Frima Studio<br> Editora: Frima Originals<br> Ano: 5 de abril de 2017<br> Gênero: Plataforma 2D