Super Hydorah é um joguinho hardcore

Feito para quem tem paciência e muita habilidade.

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Mesmo passando bastante tempo em frente ao PS4 (até mais do que acredito ser saudável), não me considero um jogador hardcore. Nem perto disso, na verdade. Até arrisco fechar um Uncharted 4 ou The Witcher 3 em dificuldades mais altas, mas não vou muito além disso.

Este ano, por exemplo, resolvi finalmente encarar Bloodborne, e o abandonei pela metade. Comprei o game da From Software já sabendo o que me esperava, mas encontrei um desafio que estava além da minha paciência e dedicação. Reconheço todos os méritos do jogo, mas ele não é para mim – infelizmente.

Pois posso dizer o mesmo de Super Hydorah. Prestando uma homenagem à era 8-bits, o jogo emula a proposta de clássicos de navinha como R-Type, mas apostando em uma dificuldade digna de Dark Souls. Tão difícil que, após quase uma semana jogando, fui obrigado a admitir para mim mesmo – e para nosso editor-chefe, que muito gentilmente relevou minhas inabilidades – que jamais terminarei Super Hydorah nesta vida.

Super Hydorah, Delfos
Perdi as contas de quantas vezes vi essa imagem.

Sem mentira: estipulo que eu tenha jogado pelo menos cem vezes a segunda fase do jogo antes de aceitar a derrota. Sim, a segunda fase. Aquela que vem depois da primeira. E falando em primeira fase, ela também não foi fácil: precisei convocar meu cunhado para me ajudar a passá-la. Sim, a primeira. Aquela que inicia o jogo. Não, não tinha um tutorial antes dela. Mas, se tivesse, com certeza eu teria passado um bom tempo nele até finalizá-lo.

Não olhe assim para mim. Eu disse lá no começo que não sou um jogador hardcore. Não tenho muita paciência para jogar a mesma coisa 300 mil vezes. Posso fazer uma tentativa, duas, cem, mas chega uma hora em que um homem precisa admitir que não é bom o suficiente – ao contrário do meu vizinho flautista, que ensaia todos os dias há mais de um ano e não consegue acertar três notas seguidas.

SUPER HYDORAH

A boa notícia é que Super Hydorah é um excelente jogo – ao menos julgando pelo pouco que consegui experimentar dele. Os gráficos remetem diretamente aos jogos de fliperama, assim como a trilha sonora montada em sintetizadores. Existe um total de 21 fases, divididas em 35 subfases, e eu só posso imaginar que tipo de armadilhas intransponíveis reservam os 33 níveis que provavelmente jamais conhecerei.

Super Hydorah, Delfos
Isso foi o mais longe que consegui chegar.

Os controles são simples, mas responsivos. Além dos botões direcionais para navegação, existe um botão para disparos comuns e outro para um ataque especial. A arma principal atira infinitamente, enquanto a especial precisa ser carregada (sendo que poucas vezes consegui usá-la).

Como em um tradicional side-scroller, você deverá avançar para a direita enquanto os inimigos brotam de todos os lados. No caminho haverá diversos itens para recolher, cada um servindo a um propósito bastante específico. Há orbes para aumentar o poder da arma primária, outros da secundária, enquanto alguns fornecem escudos ou revivem seu parceiro de batalha.

Super Hydorah pode ser jogado em modo cooperativo local, o que facilita um pouco as coisas – mas não muito. Parte da dificuldade do jogo está no fato de que você possui apenas três vidas em cada fase, e morre com um único tiro. Jogando em dois, cada um terá três vidas. Existem alguns poucos checkpoints dentro de cada fase, como ao encontrar ou derrotar um chefe. Mas, se morrer três vezes, você volta para o início da fase.

Super Hydorah, Delfos
E você vai morrer bastante.

Falando assim, pode não parecer tão difícil (e aposto que jogadores mais habilidosos realmente não teriam tanta dificuldade, ao menos no início), mas há sempre muita informação na tela e você acaba morrendo por qualquer besteira – exatamente como em Bloodborne. Sem contar que não foram poucas as vezes em que, antes de chegar à metade da fase, eu já havia perdido duas vidas, o que é praticamente uma sentença de morte.

O pior de tudo é que Super Hydorah consegue ser bem viciante. É gostoso de jogar, mesmo com a frustração respirando no seu cangote. Assim, eu não o recomendaria para qualquer um. Se você gosta de entretenimento descompromissado e quer apenas se divertir um pouco depois de um árduo dia de trabalho, passe longe. Mas se você procura uma dose generosa de desafio e curte a nostalgia da era 8-bits, pode pegar sem medo: Super Hydorah vai te ocupar por bastante tempo.

* Se você é meu vizinho flautista e por uma coincidência cósmica está lendo isso, saiba que não precisa provar nada para nós, seus queridos vizinhos. Ninguém – ninguém mesmo – vai achar ruim se você desistir dos seus ensaios no domingo à tarde.