Nem preciso dizer aqui no DELFOS que o Sepultura é a maior banda nacional de heavy metal, tendo rompido as fronteiras de nosso país e se tornado um grande sucesso lá fora, angariando respeito no mundo todo. Entre altos e baixos, eles já somam mais de trinta anos de carreira.

Sepultura Endurance documenta as passagens mais importantes desta longa carreira, traçando um panorama geral da história da banda, que é capaz de agradar tanto aos seus fãs mais apaixonados quanto a leigos como eu. Ele é bastante honesto em seu tratamento dos envolvidos na história e até foge de um excesso de didatismo, ao preferir não seguir uma ordem cronológica linear.

De fato o longa começa no período de gravação e turnê do disco Kairos (2011) e até documenta de forma bastante aberta, a então iminente saída do baterista Jean Dolabella (substituído por Eloy Casagrande), que não aguentou os longos períodos de estrada longe da família. Há uma conversa franca entre ele e o guitarrista Andreas Kisser, captada pela câmera, que muitas bandas jamais permitiriam que fosse parar num documentário.

Só depois deste longo trecho mais recente, o doc volta no tempo para contar a história da banda, desde sua formação, passando pelos primeiros discos, o sucesso de Arise (1991) e Chaos A.D. (1993), que angariaram atenção internacional, culminando na explosão de popularidade com Roots (1996), que os jogou em outro patamar.

E, claro, você sabe bem o que acontece imediatamente depois. Em depoimentos, Andreas Kisser dá sua versão da saída de Max Cavalera, contando tudo de maneira bastante tranquila e sem ressentimentos. Já a saída de Igor é coberta muito por alto, tendo faltado mais aprofundamento na questão. Infelizmente, não há o outro lado da história, visto que os irmãos Cavalera se recusaram a conceder entrevistas para o filme.

É uma pena, pois a ausência deles evita que este seja um documentário com a história completa da banda. Eles aparecem em imagens de arquivo, mas ainda assim é muito pouco para dois dos membros fundadores, que estiveram presentes no período de maior sucesso do grupo. Teria sido legal ouvi-los falar sobre sua história com o Sepultura, mas já que eles não quiseram, paciência…

Contudo, uma coisa é eles não quererem participar do documentário, eles têm todo o direito a isso. Mas beira a mesquinhez pura eles terem proibido o uso das músicas Attitude e Roots Bloody Roots no filme. Caramba, são faixas do Sepultura, que seriam usadas num filme sobre a história do Sepultura (a história toda, não só das formações mais recentes). Negar o direito de uso é uma sacanagem com o próprio legado do grupo e com os fãs, para quem esse documentário foi feito.

A versão mostrada na cabine ainda contou com essas faixas, mas a assessora de imprensa da distribuidora avisou que para o lançamento comercial elas seriam cortadas. É uma pena, pois um dos momentos mais tremendões e poderosos do filme era justamente quando a banda toca Roots Bloody Roots inteira num show mais recente.

Sepultura Endurance cobre muito bem a história geral da banda. Claro, não é completo porque não conseguiu a participação de duas figuras centrais de sua história, mas dentro do que podia fazer, o fez com muita competência. E como disse lá no segundo parágrafo, creio que certamente vai agradar tanto aos admiradores do grupo quanto aqueles que talvez nem sejam tão fãs, mas querem saber um pouco mais sobre o tema. Um ótimo documentário sobre uma das bandas mais importantes surgidas neste país.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
sepultura-endurance-traca-um-panorama-dos-mais-de-30-anos-da-bandaTítulo original: Sepultura Endurance<br> País: Brasil<br> Ano: 2016<br> Gênero: Documentário<br> Duração: 100 minutos<br> Distribuidora: O2 Play<br> Direção: Otavio Juliano<br> Elenco: Andreas Kisser, Derrick Green, Paulo Xisto, Eloy Casagrande, Jean Dolabella e Jairo Guedez.