Que Viva Eisenstein! – 10 Dias Que Abalaram o México

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O cineasta russo Sergei Eisenstein é uma das figuras mais importantes da história do cinema. Foi responsável, ao lado do conterrâneo Dziga Vertov, por revolucionar e modernizar o uso da montagem (ou edição, se preferir), tornando-a um elemento essencial e dinâmico da narrativa cinematográfica. Sua obra, principalmente os filmes O Encouraçado Potemkin (1925) e Outubro (1928) são estudados até hoje em cursos de cinema.

Pois em 1931 ele viajou ao México para rodar lá um novo trabalho, Que Viva México!, de 1932. E este é o tema de Que Viva Eisenstein! – 10 Dias Que Abalaram o México, contar de maneira ficcionalizada o período que Eisenstein passou na terra da tequila.

Poderia ser um bom filme para quem gosta da história do cinema ou mesmo de boas comédias e filmes de época, e de fato ele até começa bastante interessante e promissor. Contudo, isso não demora a se revelar como uma falsa impressão.

Isso porque o excêntrico Eisenstein logo se deslumbra com a terra exótica, tão diferente de seu lugar de origem e acaba por deixar sua visão artística pelo filme meio de lado, preferindo vagar pela cidade de Guanajuato e bater papo com o guia designado para acompanhá-lo, Palomino Cañedo.

E ainda pinta um clima especial entre os dois, se é que você me entende. Aliás, se você não se sente confortável com nudez frontal masculina, melhor passar longe, pois este filme tem uma quantidade bem grande de ferramentas lusitanas balançando ao vento. Quem avisa amigo é.

Logo, o que poderia ser uma boa comédia sobre um estranho numa terra estranha não se concretiza. Ao invés disso, temos um filme de arte um tanto pretensioso, daqueles que, no fim das contas, vão do nada ao lugar nenhum, cheio de diálogos meio desconexos. Alguns, é preciso dar o braço a torcer, são bons, principalmente os que envolvem as histórias pregressas de Eisenstein e seu envolvimento com figuras artísticas do cinema estadunidense.

Outros, no entanto, são do tipo que não fazem lá muito sentido para o que está acontecendo e parecem totalmente aleatórios. E esse tipo de conversa começa a cansar depois de um tempo e vai arrastando o longa – que como disse, até começa promissor – para baixo a cada minuto passado.

Sua grande qualidade e única característica realmente forte, não por acaso, é justamente a montagem, bastante criativa e caprichada, totalmente inspirada e emulando a edição das obras do verdadeiro Sergei Eisenstein. Contudo, claro que ninguém, nem mesmo estudiosos, vão ao cinema para ver um filme só pela sua edição. Isso dá uma ideia da qualidade geral da coisa.

É uma pena, pois a temática e a premissa são realmente legais e poderiam render uma boa comédia estrelada por uma figura tão importante da sétima arte. No entanto, o que temos aqui é apenas mais um filme de estética rebuscada, um tanto afetado e ao mesmo tempo sem muitos atrativos. Nesse caso, Que Viva Eisenstein! é o tipo de filme bem esquecível, completamente o oposto da obra de seu protagonista.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
que-viva-eisenstein-10-dias-que-abalaram-o-mexicoPaís: Holanda / México / Finlândia / Bélgica / França<br> Ano: 2015<br> Gênero: Comédia<br> Duração: 105 minutos<br> Roteiro: Peter Greenaway<br> Elenco: Elmer Bäck, Luis Alberti e Maya Zapata.<br> Diretor: Peter Greenaway<br> Distribuidor: Esfera<br>