Por que abandonei a Nintendo

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A notícia que mais passou despercebida neste final de ano poluído de informações foi o anúncio da Nintendo de que o Wii U deixará de ser produzido no Japão. A notícia é de 11 de novembro, nove dias depois da mesma informação ter vazado pela imprensa e a Nintendo, claro, ter negado tudo. Pois é, a empresa afirmou ser verdade uma coisa que havia negado uma semana antes. É a velha história de que uma coisa só é verdade na indústria até decidirem que é verdade, um jeito muitas vezes surreal e até arrogante de negar coisas óbvias. Mas não estou aqui para falar sobre isso.

O fato é que, agora, o Wii U está mais do que oficialmente morto. O fim do console é uma das coisas mais deprimentes para o mundo dos games nos últimos anos. Os fãs da Nintendo que compraram o console continuam em stand-by, como estão há um ano, pelo menos. Para mim, recebi a notícia com bastante desinteresse, tédio e apatia.

A equipe do DELFOS com frequência me pergunta o que diabos aconteceu. Por que um fanboy da Nintendo, que nunca tinha comprado um console de outra empresa e preferia um Wii a investir em jogos da Steam, resolveu abandonar o Zelda?

Depois desta notícia triste, mas esperada, e dos questionamentos dos meus amigos delfianos (eles precisam saber o que aconteceu, ou morrerão de ansiedade), refleti bastante e cheguei à conclusão de qual foi o ponto em que falei: “ok, já deu para mim”. E o ponto foi o mal-uso do gamepad do Wii U.

BARRIS E BANANAS SÓ APARECEM NA TV!

A diferença do Wii U é o gamepad, mas a Nintendo não tinha a menor ideia do que fazer com ele. Posso ter sido injusto ao colocar as coisas assim, mas não consigo pensar de outro jeito hoje em dia.

Quando a Nintendo anunciou o Wii U, a minha percepção é de que esse seria um console de possibilidades, o que de fato se concretizou, quando você enxerga todos os jogos originais e cheios de métodos de controle diferentes (Pikmin 3 tem mais de três deles). Porém, isso parece ter ocorrido muito mais pela falta de direcionamento da Nintendo do que pelos desenvolvedores terem, de fato, feito as melhores escolhas.

A longo prazo, o gamepad provou ser o maior problema. Ao contrário do Kinect para Xbox One, por exemplo, a Nintendo não pôde abandonar o gamepad no meio do caminho. Um acessório caro e obrigatório para vários jogos, ele dividiu opiniões e, pior, provou ser um empecilho para os desenvolvedores, que várias vezes não sabiam o que fazer com ele.

Vamos pensar nos melhores ou mais icônicos jogos do Wii U. Quantos deles realmente precisavam do gamepad, ou seja, sem ele, não seriam possíveis? A resposta é: pouquíssimos. O único da própria empresa que definitivamente utiliza bem todos os recursos é Super Mario Maker, que saiu em 2015, três anos depois do lançamento do Wii U. Vários dos outros jogos, inclusive, ficariam melhores sem o controle! Super Mario 3D World, Pikmin 3 (o melhor jeito de jogar é com o nunchuk e wiimote), Bayonetta 2, Splatoon (sério, com poucas mudanças, não faria falta), Super Smash Bros. For Wii U, Mario Kart 8 e Donkey Kong Country: Tropical Freeze. Aliás, vamos falar sobre este último.

Quando você joga Donkey Kong Country: Tropical Freeze na TV, o gamepad fica apagado. Não acontece nadica de nada lá. Então, a qualidade que diferencia um Wii U de outro console, ou do PC, foi totalmente ignorada pela Retro Studios, o estúdio talentoso que trouxe Metroid Prime e Donkey Kong Country Returns à vida. Original do Wii, o jogo dos macacos de novembro de 2010 obrigava você a balançar o controle para rolar, o que tornava um jogo bom em uma experiência frustrante por conta da imprecisão trazida pelo método de controle. Tropical Freeze é excelente, claro, mas porque a Retro Studios não soube o que fazer com o controle e preferiu não estragar a experiência do jogo com algo desnecessário. Outros jogos não tiveram tanta sorte.

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A Nintendo deveria ter entendido que algumas coisas do Wii U deveriam ser padronizadas e, as funcionalidades do controle, priorizadas. Isso para desenvolvedores internos e externos. O legado do videogame é uma salada mista. Alguns jogos mudam a transmissão da TV para o gamepad (o tal do off-tv play) ao apenas pressionar um botão. Outros, como Assasin’s Creed III, exigem que você aperte start, procure pela opção no menu e, aí, o jogador já ficou com sono e se perguntou por que está jogando um Assassin’s Creed e, pior ainda, por que no Wii U.

Quando Pikmin 3 saiu, não existia método de controle pela touchscreen do gamepad, com auxílio da stylus. Apenas um ano depois essa função foi adicionada. Para conectar um Nintendo 3DS a um Wii U, nos jogos que são compatíveis, há procedimentos diferentes para cada jogo. De novo, sono.

O Wii U precisava de consistência, de jogos que eram melhores com o gamepad, não o contrário. Afinal, não é disso do que se trata? O Wii U não é um Wii U sem o gamepad. Foi por esse motivo que Shigeru Miyamoto afirmou que tomaria a responsabilidade de criar jogos que utilizassem os recursos do gamepad.

Uma vez, li um comentário na internet que sintetiza bastante o que acredito ser o maior problema da Nintendo nos últimos 10 anos. A empresa tem cada vez ficado mais interessada com o que acontece fora da tela do que na tela em si. Qual é o problema? Videogames são geniais, até que se prove o contrário, quando o que ocorre na tela é mais interessante do que fora dela. As poucas exceções, que devem continuar como exceções, e não se tornarão regras, são jogos como Wii Sports e Just Dance, que são muito, muito raros. É por esse motivo que não acredito muito na realidade virtual como o próximo grande passo de evolução nos jogos.

TUDO QUE É NOVO É BOM?

Por enquanto, não acredito mais que a Nintendo terá uma ideia bacana e saberá executá-la do começo ao fim. Se as pessoas não jogarem o Switch fora de casa porque a bateria não dura, ou porque os jogos são mais interessantes na TV, ou porque preferem levar um 3DS, tablet ou celular para o aeroporto, o console irá perder seu sentido de existência. E, aí, teremos os problemas frequentes dos consoles da Nintendo, que são difíceis de engolir (falta de jogos de third parties, preços altos, funções online limitadas). Nesse cenário, é fácil ver muito mais valor no que a Microsoft e a Sony estão fazendo, ou nos benefícios enormes que o PC traz. E é por isso que abandonei a Nintendo.