Os livros digitais

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Entrar na livraria e ir direto à seção da sua preferência. Olhar livro por livro em busca de algo interessante, seja por um título que lhe chame a atenção, seja pela capa bem feita ou até mesmo buscando o novo livro daquele autor que você tanto gosta ou que alguém lhe indicou.

De posse do livro, ler as informações no verso e na aba, geralmente um resumo da história do livro e do autor. Sentir o cheiro de livro novo e ter aquele momento só seu e do livro, onde você decide se vai levá-lo ou se vai dar a chance a algum outro. Ou até mesmo, quem sabe, levar dois, afinal, ir a uma livraria e sair só com um livro é difícil.

O ritual acima é praticado diariamente por milhares de pessoas. Tá, eu sei que é uma visão um pouco romântica do simples ato de comprar um livro, mas se você gosta de ler e tem vício em comprar livros, sabe que realmente é assim. Não é só o ato de comprar. Tem algo a mais nisso tudo, que envolve o prazer em ir à loja, escolher, quem sabe conversar com alguém que está na mesma seção que você. Enfim, cada um tem o seu motivo.

Mas isso está deixando de ser um ritual para algumas pessoas. Assim como o ato de ir a uma loja e comprar um CD ou Vinil deixou de ser um hábito para muita gente (eu incluso) por conta do MP3 e toda sua revolução digital, o ato de ir a uma livraria e comprar o livro pode estar com os dias contatos para muita gente. Tudo por causa dos e-books e os seus já famosos leitores digitais, os e-readers, que nesse caso pode ser facilmente substituído por um tablet ou celular.

Mas será que vale a pena fazer essa troca? Bem, vamos descobrir.

E-BOOK NO BRASIL – É UMA BOA?

No Brasil, a média de livros lidos por uma pessoa não passa de cinco por ano. Pouco, pois aposto que o delfonauta que está lendo essa matéria agora deve devorar mais do que isso, certo?

Então, seria interessante para as editoras investirem nesse mercado? A resposta, meu amigo, é sim. E o que reforça essa resposta são as lojas virtuais de e-book que abriram as portas aqui no Brasil no final de 2012. Em novembro de 2012, os brasileiros puderam ter acesso à iBook, loja da Apple. E menos de um mês depois, no começo de dezembro, de uma só vez fomos presenteados com o lançamento do Kobo, e-reader trazido ao país pela Livraria Cultura, junto com a venda de livros pelo site; a Amazon inaugurou seu site brazuca, com foco total na vende do seu e-readers, o Kindle, e uma imensidão de títulos. E até a PlayStore, do Google, seguiu a onda e começou a vender e-books. Com quatro grandes nomes apostando no mercado brasileiro, com certeza coisa boa vem por aí.

E prova disso é que, em um levantamento feito pela revista Veja, considerando do final de 2012 para cá, a venda de e-books no Brasil cresceu bastante e já representa algo entre 2% e 4% do faturamento total das editoras. Pode parecer pouco, mas de acordo com a reportagem, a porcentagem apresentada foi bastante comemorada pelas editoras. Para se ter uma ideia, o primeiro ano de vendas dos livros digitais nos EUA, 2007, mal atingiu 1% do mercado. Hoje em dia, a participação no mercado já passa de 25% do faturamento anual.

E o número poderia ser bem maior, se levarmos em conta que, para ler um e-book, a pessoa tem que ter um e-reader como o Kobo ou Kindle, ou então um tablet ou celular com o aplicativo correto, o que acaba encarecendo o produto no começo do uso. E isso sem contar a parte de downloads ilegais, pois é muito fácil baixar um livro no formato que você quer (ePub, Mobi, PDF). O arquivo é bem menor que um MP3 e a variedade tem sido cada vez maior.

Esse assunto sobre pirataria de livros é algo que renderia um texto (quem sabe mais para frente?), mas acho que consigo resumir a minha opinião com esse vídeo do Neil Gaiman. Saca só a opinião dele:

Concorda, delfonauta?

MUDAR OU NÃO MUDAR?

Eu recentemente adquiri um Kindle. Mesmo sendo fã do livro físico, alguns fatores me fizeram optar por essa mudança. E a principal foi a falta de espaço no apartamento em que moro. O sonho de ter uma parede cheia de livros não será possível no momento. E como a vontade de ler é constante, eu não podia parar. E a melhor opção foi a compra de um e-reader.

Opção arriscada, confesso, pois a chance de não se adaptar a essa mudança existe. Mas estou me adaptando bem. Já se foram alguns livros lidos e a adaptação foi tranquila.

Mas você deve estar se perguntando quais são as vantagens (e destantagens) de se ler em um livro e em um e-reader, certo? Vou tentar colocar aqui o que acho ser o mais importante, para ajudar você a se decidir se vai ou não mudar.

VANTAGENS DE UM E-READER

– Uma das principais é o peso e tamanho do aparelho. O aparelho, mesmo que seja um tablet, é pequeno, fino e leve. Já um livro pode pesar bastante e isso incomoda um pouco na hora de carregar. Se você é como eu e sempre anda com uma mochila que é praticamente a sua segunda casa nas costas, colocar um livro dentro a faz estufar e aumentar o seu peso consideravelmente. Já em um tablet ou e-reader, a situação é bem diferente.

– Você pode levar a sua coleção de livros aonde quiser. Tá, é um motivo meio besta, pois você não vai ler todos ao mesmo tempo, no máximo uns dois por vez. Mas se você acompanha os noticiários, viu que está na moda ostentar. E uma das poucas coisas que nós nerds podemos ostentar são os nossos livros.

– Pessoas com problemas de visão podem se adaptar aos e-readers com muito mais facilidade. A possibilidade de alterar o tamanho e formato da fonte resolve o problema de muita gente que acha a letra dos livros pequena. Isso sem contar que, com o aparelho certo, você pode ler no escuro sem precisar incomodar a patroa acendendo a luz do quarto.

– Você sempre teve dó de emprestar os seus livros? Eu tive e tenho. Lembro até hoje quando emprestei o meu Crônicas de Nárnia a uma amiga e ele voltou com um aspecto de livro que molhou e a pessoa deixou secando para depois devolver. Depois desse dia, raramente empresto livros. Lendo em um e-reader, é só mandar o arquivo para a pessoa que ela vai ter o livro pronto para ler e você vai ter a sua cópia guardada, sem perigo de molhar, rasgar ou o Alfredo queimar.

– Adeus, marcadores de página. Muitos são bonitinhos, outros você pega de graça na livraria, algumas pessoas usam um papel qualquer e outras têm a coragem de usar a aba do livro como marcador. Mas com o e-reader isso não existe mais. Ele salva automaticamente a página na qual você parou.

– Eu nunca fiz nenhuma anotação nos livros que tenho. Nunca sublinhei uma citação/frase de que gostasse. E se você é dessa turma, que gosta da frase, mas não risca em hipótese alguma um livro, ler um e-book tem as suas vantagens. Você pode copiar o trecho que quiser do livro e salvá-lo. E ainda tem a opção de compartilhar o trecho online. Essa função, alias, é bem legal, e ajuda muito na hora de lembrar algum detalhe do livro, principalmente se você vai resenhá-lo.

– Espaço. Se você não tem mais espaço físico para guardar livros, ter um e-reader é o que você precisa. Se precisar, é só criar uma conta no Google Drive, Skydrive, iCloud ou qualquer outro serviço de nuvem e guardar todos os livros lá. Pode ter certeza que todos os livros que você já leu e vai ler na vida vão caber, e ainda sobra espaço.

– O preço. Por enquanto a diferença não é tão grande e às vezes você pode até encontrar a versão física com um preço bem mais em conta, mas acredito que é só questão de tempo até os preços dos e-books ficarem bem abaixo da versão física. Enquanto escrevo este texto, fiz uma rápida pesquisa e comparei os preços dos cinco livros de Guerra dos Tronos – Crônicas de Gelo e Fogo. Enquanto os cinco livros saem por R$129,90, os cinco e-books custariam R$119,70.

É uma diferença pequena, verdade. Mas por enquanto, ela não é maior pois ainda existe um interesse das editoras nas vendas dos livros físicos. Acho que seria ingênuo demais acreditar que em pouco mais de um ano após a aparição das gigantes do ramo de e-books, os livros digitais teriam uma diferença de preço tão grande. Mas com certeza vai acontecer.

– Lendo em um leitor digital, a sua privacidade está garantida. Pelo menos em parte. Ninguém vai saber qual é o livro que você está lendo, pois o leitor digital não tem capa, como os livros tem. É, delfonauta, você finalmente vai poder ler 50 Tons de Cinza sem ninguém saber. Mas lembre-se: ninguém mais vai ver o livro que você está lendo pela capa, mas isso não lhe deixa livre das pessoas que adoram dar uma esticada de pescoço para ler o que você está lendo. Então cuidado ao ler algo polêmico, tipo um hentai de dragões.

DESVANTAGENS DE TER UM E-READER

– O aparelho é frágil. Enquanto um livro resiste facilmente a uma queda, o seu celular, tablet ou e-reader pode muito bem não sobreviver, principalmente se a tela for de encontro ao chão. Ah, ele também pode molhar, explodir na tomada, dar pau…

– Quem lê um e-book, tem um pouco mais de privacidade. Mas e as outras pessoas ao redor, como elas vão conhecer um autor diferente? Como vão saber se um livro virou tendência depois de ver 10 pessoas no mesmo dia lendo aquele título? Confesso que sou do tipo de pessoa que, quando vê alguém lendo, procuro ver a capa do livro para ver se conheço, se é algum lançamento ou apenas um livro que já li. Já conheci autores muito bons assim e aposto que você também.

– Cheiro de livro novo. Quem é fã de leitura digital dificilmente vai sentir cheiro de livro novo. A não ser que passe em uma livraria. Isso faz parte de um dos prazeres de comprar um livro, rasgar a embalagem e folheá-lo.

– Ler em um e-reader deixa a leitura mais “fria”. Não é a mesma coisa que ler um livro físico. Novamente volto a falar dessa magia que existe em ler um livro físico e isso é algo difícil de esquecer.

– Com o e-reader, você corre o risco de acabar a bateria no meio da leitura se você não for uma pessoa atenta. Apesar da bateria de um Kindle durar semanas, se você não prestar atenção, já era! E se você estiver lendo em um celular ou tablet, a sua situação é mais crítica, pois nos aparelhos de hoje, bateria que dura o dia todo é raridade.

– Suas opções de presente vão diminuir. Se você costuma dar livros aos seus amigos, seja em aniversário, amigo secreto ou porque ele simplesmente merece, não terá mais essa opção se ele for fã de e-book. É sempre bom presentear alguém com um livro e ver a cara da pessoa ao desembrulhá-lo. Ver a sua surpresa ou decepção é algo sem igual. E se a pessoa é fã de e-book você vai fazer o quê? Mandar o presente dele por e-mail? Pendrive? Ou vai dar uma cueca? Como já disse antes, tenho um e-reader e gosto dele. Mas mesmo assim, se quiser me deixar feliz, é só me dar um livro. Não vou abandonar 100% os livros físicos. Anotou a dica, delfonauta?

– A disponibilidade em formato digital é limitada. Os novos títulos estão quase todos disponíveis nas duas plataformas, física e digital. Mas e os livros antigos? Será que vão ser relançados no formato digital? Como saber se determinado livro vai vender se for relançado? Alguns títulos só serão encontrados na versão digital se alguma boa alma transformá-lo em PDF. Mas aí você cai na dúvida levantada no começo do texto: é pirataria? Ou seria a mesma coisa de ir a um sebo e comprar o mesmo livro usado?

O mercado de e-books e dispositivos ainda está no começo e é difícil ver no que vai dar todo esse principio de revolução. Será que vai ser igual à revolução do MP3, que enfraqueceu a venda de CDs?

Pelos resultados apresentados em somente um ano de vendas aqui no Brasil, eu duvido muito que seja uma moda passageira. Livros e e-books vão conviver pacificamente e um não vai extinguir o outro. Vai ter pra todo mundo.

E você, delfonauta? Tem um e-reader e já aderiu ao e-book ou não vai sair do livro físico nem a pau? Conta aí pra gente!

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Allan Couto
Viciado em música, tem um gosto musical bastante eclético, indo de Brujeria a Jewel. É fanático pela Marvel, mas confessou, sob tortura, que já teve uma camiseta do Lanterna Verde. É nerd, mas nunca viu nenhum episódio de Star Wars ou de Lost. Gosta de filmes blockbusters e seriados do tipo Prison Break e Friends. Vai dizer que você nunca percebeu como os dois são parecidos? Allan Couto nos deixou cedo demais. Ele perdeu a batalha contra o covid em março de 2021.