Antes de ser um astro da televisão e do cinema, Bruce Lee ensinava kung fu em São Francisco. Reza a lenda que seus compatriotas chineses não ficaram muito felizes por ele ensinar arte marcial para os ocidentais e enviaram um mestre shaolin até os EUA para lutar contra Lee.

Se o mestre ganhasse, Bruce deixaria de ensinar aos brancos e negros. Se perdesse, Lee continuaria ensinando a quem quisesse aprender. Seja esse ou não o verdadeiro motivo, fato é que realmente rolou um embate entre Bruce Lee e o mestre e monge shaolin Wong Jack Man, algo que virou um dos capítulos mais míticos de sua biografia.

A Origem do Dragão é um recorte biográfico bastante ficcionalizado sobre esse confronto. Lee, antes de se tornar astro, possuía uma academia de kung fu e tentava provar sua supremacia desafiando lutadores de outros estilos de luta. Já Wong Jack Man chega aos EUA para fazer penitência por um erro do passado. Óbvio, o caminho dos dois vai se cruzar e eles irão lutar.

Delfos, A Origem do Dragão, CartazBom, obviamente essa história tinha todos os elementos para render um grande filme de pancadaria. Ou ao menos uma cinebiografia decente sobre um trecho da vida de Bruce Lee. Acabou que não resultou em nenhum dos dois. Ele cometeu um dos erros mais primários que uma narrativa pode cometer.

Ele deixa aquele que deveria ser o protagonista em segundo plano, transformando-o em coadjuvante de seu próprio filme. Acontece que a coisa toda é contada do ponto de vista de um dos alunos de Bruce, Steve McKee, que é inspirado no ator Steve McQueen, que de fato foi um dos alunos de Lee.

Parabéns a quem teve a ideia de jerico de jogar o protagonismo para um cara branco num filme sobre o Bruce Lee! Como resultado, todo o arco de McKee, que é um grande pedaço do filme, é a parte mais chata e desinteressante dele.

Todo o conflito entre os dois artistas marciais fica relegado a segundo plano. Também erra ao retratar Lee como um provocador vaidoso e em busca de autopromoção. Em contraste com o calmo, sereno e centrado Wong Jack Man, ele acaba parecendo aqueles lutadores marrentos e falastrões de MMA que você torce para que percam feio.

Delfos, A Origem do Dragão
Bruce Lee era letal no uso de colheres de pau.

Bom, quando a pancadaria rola, é legal, embora não seja nada particularmente marcante. Você já viu tudo isso antes, mas ao menos as lutas são coreografadas de maneira competente e levantam o filme. Pena que são poucas.

No geral, A Origem do Dragão rende apenas um filme nada. Pisou na bola sobre qual deveria ser o foco óbvio da história, mas quando o pau come, é divertido o suficiente para valer uma assistida, embora no geral seja bastante esquecível.

Para dizer a verdade, mais legal mesmo é rever Dragão: A História de Bruce Lee (1993), outra cinebiografia do astro extremamente romanceada, mas que é muito mais divertida que isso aqui. Ou parta logo para as cabeças e reveja os filmes de Bruce Lee. Certamente você se divertirá mais.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
origem-do-dragaoTítulo original: Birth of the Dragon<br> País: China/Canadá/EUA<br> Ano: 2016<br> Gênero: Ação<br> Duração: 95 minutos<br> Distribuidora: Imagem<br> Direção: George Nolfi<br> Roteiro: Stephen J. Rivele e Christopher Wilkinson<br> Elenco: Philip Wan-Lung Ng, Xia Yu e Billy Magnussen.