O Virgem de 40 Anos

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Cara, fazia tempo que eu não via uma boa comédia. Daquelas que são realmente engraçadas, capazes de fazer o pessoal do cinema rir a valer. Imagine então fazer uma sala cheia de críticos – como já devo ter dito antes, um bicho chato por natureza – rachar o bico abertamente. Parece difícil de acontecer, mas foi o que O Virgem de 40 Anos conseguiu.

Não há como não ficar indiferente à triste história de Andy (Steve Carell, de O Âncora – A Lenda de Ron Burgundy). O sujeito é gente boa, nerd assumido, com um apartamento cheio de pôsteres e action figures (que eu chamo de bonequinhos mesmo), se locomove de bicicleta e tem um emprego sossegado numa loja de aparelhos eletrônicos. Mas, como nem tudo é perfeito, Andy tem um grande problema (que por sinal ele nem enxerga dessa forma): ele já tem 40 anos e ainda é virgem.

Quando seus colegas de trabalho ficam sabendo deste fato, decidem que é hora de acabar com a seca do rapaz. Cada um passa a aconselhar o sujeito a partir de seu ponto de vista, para que, como dizia aquela música dos Raimundos, “ele seja inaugurado”. E é a partir das tentativas atrapalhadas de Andy de ganhar mais confiança com a mulherada, que se desenrola uma bela comédia sobre relacionamentos e a importância do sexo para o homem.

Com essa temática, o filme tinha tudo para ser uma baixaria só. Mas não é o que acontece. O que há são situações embaraçosas enfrentadas por nosso virgem e diálogos abertos e bem francos sobre o tema. Taí a prova de que sexo e piadas de mau gosto não precisam andar juntos.

O grande trunfo do filme são justamente os diálogos, muito bem construídos e em sua grande maioria, hilários. Por sinal, Steve Carell é co-roteirista do filme. E a química entre Carell e os três atores que interpretam seus amigos é ótima. Realmente parece que eles se conhecem há tempos. Tirando Paul Rudd (que interpretou Mike, que se casou com Phoebe no final de Friends), os outros dois, Romany Malco e Seth Rogen, são desconhecidos, mas roubam a cena assim como fizeram os dois vendedores da loja de discos de John Cusack em Alta Fidelidade.

Completa o elenco Catherine Keener (Quero Ser John Malkovich) como a quarentona enxuta, proprietária da loja da frente à de Andy, como seu interesse amoroso que pode livrá-lo de seu fardo.

Entre os grandes momentos deste filme que tem tudo para conseguir um lugar dentre as grandes comédias favoritas do público nerd, destaco: o flashback em que Andy se recorda de suas tentativas passadas e fracassadas de mandar brasa; Andy tentando colocar uma camisinha e a cena final, que é sensacional, ótima maneira para se terminar um filme.

O único “porém” fica por conta do final, que não escapa às fórmulas das comédias românticas. Se bem que neste caso não tinha como ser diferente, afinal não dá para não torcer para que dê tudo certo para nosso herói. Em suma, não compromete a totalidade da obra.

E agora, um momento de reflexão. Pode parecer um pouco preconceituoso que o tal virgem de 40 anos seja um nerd, afinal a maioria das pessoas nos vê como sujeitos estranhos que adoram videogames e bonequinhos e que nunca namoram. Para esclarecer a questão, aqui vai uma pequena Introdução aos nerds. Sim, gostamos de videogames, HQs, bonequinhos e outras coisas, mas isso não nos torna aberrações, mas pessoas com bom gosto.

Temos sentimentos e gostamos de namorar e de sexo. Aliás, somos bem românticos, algo que nossas namoradas podem comprovar. Outro mérito deste filme é justamente desmistificar essa imagem errônea em torno de nós. O protagonista do filme é um nerd, mas não é um clichê ambulante. Aliás, a história do filme poderia acontecer numa boa com qualquer outro tipo de pessoa. Mas realmente fica bem mais engraçada com um nerd, pois temos um senso de humor bem peculiar, vide Monty Python) por exemplo. Olha aí mais uma qualidade do filme, aliar divertimento e prestar um serviço de informação muito útil a nós.

Comédias realmente engraçadas ultimamente são escassas. Se surgem duas por ano, é muito. Portanto, quando um filme como O Virgem de 40 Anos estréia, seja você nerd ou não, corra para o cinema. Você vai se divertir do mesmo jeito.

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