O Homem de Aço

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Zack Snyder é um bom diretor, conhecido por se dar muito melhor em suas adaptações do que em suas histórias originais. Isso e o alto teor nerd de toda sua filmografia até o momento fez com que toda a nação nerd levantasse seus D20s em comemoração por ele ter sido o escolhido para assumir o novo e esperado filme do Superman.

Convenhamos, independente da sua opinião sobre os longas, o respeito e reverência com o qual ele adaptou Watchmen e 300 foi palpável, e a fidelidade chegou ao ponto de ser obsessiva. O Superomão, por ser um super-herói clássico e um ícone dos quadrinhos que já foi muito bem adaptado para o cinema antes parecia uma tarefa bem mais fácil. E aí está o problema de O Homem de Aço. Mas como é moda no cinema hoje começar os filmes pelo meio e depois voltar para o início, façamos a mesma coisa nesta humilde resenha e, antes de falarmos dos problemas e qualidades do longa, me diga o que é aquilo. É um pássaro? Um avião? Não, é a…

SINOPSE DE AÇO

Cá entre nós, se você precisa de uma sinopse para um filme do Superman, está no site errado. De qualquer forma, o dever jornalístico fala mais alto, então caso você nunca tenha ouvido falar do primeiro super-herói da era moderna (afinal, antes tivemos Hércules, Aquiles, Jesus Cristo…), basta saber que ele é um alienígena, natural de um planeta chamado Krypton que foi destruído.

Seu carinhoso papai Jor-El (Russel Crowe) sabia da destruição de seu planeta natal e colocou o pimpolho em uma nave rumo ao planeta Terra, onde o Sol e a atmosfera lhe dariam superpoderes. Enquanto tudo isso acontecia, no entanto, o General Zod (Michael Shannon) estava tentando dar um golpe para tirar o poder dos burocratas que permitiram que o planeta encarasse seu crepúsculo.

KRYPTON DE AÇO

Curiosamente, Homem de Aço passa um bom tempo no início mostrando não apenas o Supinho sendo empacotado e shipado para o nosso planetinha azul, mas também desenvolvendo os habitantes de Krypton. Isso é bem legal, e demonstra que a história seria contada com calma e com bastante desenvolvimento, como é comum nos filmes de heróis recentes. E assim é.

Aliás, este começo é tão longo e tem tão pouco a ver com o que as pessoas esperam de um filme do herói que, se alguém entrar no filme começado e não souber quem são personagens como Zod ou Jor-El, é bem capaz de acharem que estão na sala errada. Ainda assim, é um bom começo, e traz grande profundidade para os personagens.

Depois disso, no entanto, a narrativa se torna deveras maçante, graças à opção por intercalar cenas do Clark Kent (Henry Cavill) adulto e superpoderoso com os dramas de sua infância. As coisas voltam a melhorar quando Zod aparece e o filme de fato começa, mas aí também vem o principal problema. Este não é o Superman que conhecemos.

INSPIRADO NO HOMEM DE AÇO

O rosto de Henry Cavill e sua grossa barba por fazer já dão a ele uma aparência que ficaria legal no Wolverine, mas que DEFINITIVAMENTE não combina com o Superomão, e essa impressão não se esvai nem mesmo depois que ele encontra um barbeador kriptoniano.

Acontece que o Clark Kent de Homem de Aço realmente é muito mais próximo do Wolverine do que daquele patetão amável que conhecemos de todas as outras encarnações do herói. Ele é um nômade que vai de cidade em cidade assumindo empregos pouco glamorosos enquanto tenta esconder seus poderes. Parece mesmo uma versão menos individualista do Wolverine no primeiro filme dos X-Men.

Este não é um Superman que engana as pessoas simplesmente colocando ou tirando os óculos (embora em determinado momento haja dicas de que a história seguirá este caminho). Este é um Superman badass, que tem barba por fazer, cara de mau e mata seus inimigos. E isso para mim, não é o Superman.

O Superman é o herói clássico, o escoteiro azul, a personificação da esperança e do que há de bom na humanidade. E, embora haja alguns traços disso aqui, não é o que vemos na tela. Fazia muito tempo que eu não fazia isso, mas quando o Superman matou um outro personagem, eu tirei uma foto do Zack Snyder do bolso e fiz pipi nela. Ali mesmo, no cinema. Simplesmente não deu para resistir, isso não se faz! Nem a versão sombria do Batman de Christopher Nolan mata outras pessoas.

Ok, prevejo os fanboys dizendo que ele precisou matar. E eu até entendo este argumento, mas essa é a diferença entre o Superman e quase qualquer outro herói: o Wolverine teria matado, o Superman teria achado alguma forma genial de conseguir seu objetivo sem assassinar alguém. E daí a plateia aplaudiria em pé, com olhos marejados e a fé na humanidade restaurada, efeitos que um filme do herói precisa causar em seu público.

AÇÃO DE AÇO

Veja só, O Homem de Aço nem é um filme propriamente sombrio. O climão dele, em geral, é bem parecido com o do primeiro X-Men, bem mais leve do que o Batman de Christopher Nolan. Ainda assim, o caminho da história e o desenvolvimento de seu protagonista o levam a caminhos que não me agradaram nem um pouco.

Não é questão de que não podem mudar nada. Uma adaptação, por definição, vai mudar o que for necessário. O próprio Batman de Christopher Nolan é bastante diferente das outras encarnações do herói. Mas ainda é o Batman. O cerne do personagem, o que o torna o Batman, não foi modificado. Infelizmente, o que temos aqui não é o Superman do qual conhecemos e gostamos. E também não é uma adaptação. É um novo personagem, inspirado no super-herói clássico, mas totalmente novo. Menos inocente, sim, mas com isso, menos heroico, menos onírico.

É um filme de ação, e disso você não precisa ter dúvidas. Aliás, a ação aqui vai a escalas dantescas, com os personagens usando caminhões como porretes e com um soco arrastando o remetente por quarteirões. É bem divertido, e visualmente esplendoroso, como é comum na obra de Snyder. Os personagens chegam até a sair voando e lutar no espaço, na luta mais parecida com Dragon Ball desde o clímax de Matrix Revolutions.

Assim, temos aqui um filme divertido, sim, desde que você esteja avisado que este Superman está bem mais próximo de um Wolverine do que do escoteiro azul que normalmente é chamado de O Homem de Aço.

IDENTIDADE SECRETA DE AÇO

A cueca por fora das calças ou a identidade secreta escondida por óculos podem ser – aliás, são mesmo – bobas e inocentes. Mas essa inocência boba faz parte do que torna o personagem tão legal. E, desta forma, são imutáveis. Tire essa inocência, e é como tirar a esperança da história em buscar o que há de melhor na raça humana. São coisas intrínsecas à mitologia da série.

Eu não acredito na bondade humana, assim como não acredito que alguém conseguiria esconder sua identidade simplesmente colocando um par de óculos. Mas super-heróis representam a vontade de sermos melhores do que realmente somos. São um sonho, e em nenhum outro isso é mais claro do que no Superman. E neste Superman de Zack Snyder, infelizmente, o sonho acabou.

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