O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

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Foi uma novela de quase uma década. Para você ter uma ideia, a primeira notícia sobre O Hobbit que publicamos aqui no DELFOS data de julho de 2004. De lá pra cá, o filme passou pelas mãos de vários diretores, processos rolaram, e no final das contas, em 2012, finalmente vemos a prequência de O Senhor dos Anéis no cinema.

É como se toda essa polêmica não tivesse acontecido, pois com Peter Jackson na direção, os mesmos roteiristas (com a adição de Guillermo Del Toro), Howard Shore na trilha sonora e boa parte do elenco de volta, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada se encaixa como uma luva nos filmes anteriores, no visual, e na história.

DO NOT MISTAKE ME FOR A CONJURER OF CHEAP TRICKS!

Para aqueles que não estão familiarizados com O Hobbit, a história aqui acontece sessenta anos antes da mostrada em O Senhor dos Anéis. Em uma pacífica noite, o pacífico Bilbo Bolseiro recebe a visita de 13 anões fanfarrões e de um mago que animava as festas da região. Acontece que os anões foram expulsos de seu reino pelo maligno dragão Smaug, e agora eles precisam de um ladrão para completar um time de 15 e chutar algumas bundas escamosas e flamejantes. Obviamente, o senhor Bolseiro será o 15º.

O Hobbit literário é um livro infantil lançado originalmente em 1937. Admito que não o li, mas conheço bastante gente que leu tudo do Tolkien e a opinião parece ser unânime quando dizem que O Hobbit é muito mais agradável e divertido do que O Senhor dos Anéis.

Gosto bastante de toda a saga do anel cinematográfica, mas admito que a parte que mais gosto entre todos os filmes é em A Sociedade do Anel, do início até Moria. É visível a mudança de tonalidade na história a partir daí, que se torna muito mais sombria e perde boa parte do humor e do charme que temos nesta primeira metade.

Você que leu o livro me corrija se estiver errado, mas a sensação que sempre tive é que J.R.R. Tolkien começou a escrever O Senhor dos Anéis pretendendo fazer um livro para crianças, assim como o anterior, mas mudou de ideia na passagem da turminha por Moria, e por isso a tonalidade do filme muda a partir daí. Sinto que não foi uma mudança vinda da mente de Peter Jackson, mas do próprio Tolkien. Assim, imaginava que o filme de O Hobbit traria aquele charme tão presente no início de A Sociedade do Anel em toda sua duração. Eu estava certo.

GOLLUM! GOLLUM!

O Hobbit realmente tem um clima mais leve e mais divertido que O Senhor dos Anéis, a começar pela própria representação dos personagens. Os Goblins, por exemplo, aqui são bem menos ameaçadores, bem mais próximos do que costumamos ver em vilões de filmes animados. Até o Gollum está mais “bonitinho”, e a cena entre ele e Bilbo é engraçadíssima!

Na maior parte do tempo, essa transição é bem vinda, mas traz consigo alguns furos de roteiro. Por exemplo, em O Senhor dos Anéis, é estabelecido que os trolls são criaturas selvagens e irracionais, praticamente como um leão ou um elefante. Aqui eles não apenas falam, como cozinham e usam roupinhas. Imagino que seja assim no livro, e se tiver alguma explicação para isso, coloque nos comentários, mas no filme o motivo para eles terem ido de criaturas “civilizadas” para animais irracionais não é explicado e, portanto, é um furo tão grande quanto os que temos nas prequências de Star Wars.

Há muito humor por aqui. Também pudera, praticamente todos os heróis são anões, e você sabe, é um mais fanfarrão que o outro. O próprio Gandalf parece mais relaxado e mais bem-humorado do que antes, e isso é positivo.

Infelizmente, o filme parece se arrastar um tanto. Dividir O Senhor dos Anéis em três filmes longuíssimos faz todo o sentido, considerando que são três livros, e são enormes. Agora dividir as 300 páginas de O Hobbit em três filmes é claramente uma decisão comercial, não artística. E as três horas de duração desta primeira parte cheiram como um problema da turma do Peter Jackson, que parece incapaz de fazer qualquer filme em duas horas.

Normalmente eu não me importo com filmes longos demais. A meu ver, um filme deve ter a duração necessária para contar sua história. O problema aqui é que não parece haver história suficiente para tanto filme. E considerando que aqui já temos as partes mais famosas do livro (o Gollum e os trolls), penso o que ficou faltando para os próximos dois filmes, além do Smaug, é claro.

CONCERNING HOBBITS

O começo é legal, mas acaba se arrastando por tempo demais. Para você ter uma ideia, demora mais de uma hora para a primeira cena de perigo real acontecer (a dos trolls, é claro). Tanto diálogo e tanta exposição torna a projeção um pouco cansativa, especialmente porque aqui a história não tem a mesma profundidade de O Senhor dos Anéis.

O filme engrena bastante na sua segunda metade, no entanto. Quando eles chegam a Valfenda, vários personagens conhecidos aparecem, e assim que eles saem dali, vem a importantíssima parte do Gollum, e a partir daí é ação desenfreada. E ação da boa, delfonauta. A cena de porrada nas minas, perto do final, por exemplo, tem um monte de momentos hell, yeah que poderiam ter até Blind Guardian de fundo.

SLOW DOWN AND I SAIL ON THE RIVER

Na primeira vez que assisti A Sociedade do Anel, admito que não gostei muito. Minha opinião era bem semelhante à que tive hoje durante a projeção de O Hobbit. Porém, a cada vez que o assistia, gostava mais dele, e hoje adoro o filme e suas duas sequências. Não duvido nada que O Hobbit siga o mesmo caminho: um tanto cansativo na primeira vez, mas que fica melhor com repetidas assistidas. É uma pena que eu só tenha tido oportunidade de vê-lo uma vez antes de escrever esta resenha. No entanto, durante a manhã desta quinta, terei uma nova chance de assistir ao filme, desta vez em 3D e, assim que terminar, volto aqui e atualizo este texto.

THERE AND BACK AGAIN. IN 3D!

Após assistir pela segunda vez, posso dizer que minha opinião não mudou tanto quanto aconteceu em A Sociedade do Anel. Dessa vez achei o começo mais forte, e senti que o filme esfria bastante após o encontro com os trolls. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada se beneficiaria bastante de uma edição mais implacável.

O 3D, por outro lado, é daqueles poucos que vale a pena. Com a quantidade de cenários enormes e belíssimos, a tridimensionalidade segue aquela linha de Prometheus, deixando o mundo do filme ainda mais mágico e impressionante. Assim, se tiver oportunidade, prefira assistir em 3D.

Dito isso, eu diria que se você já é fã do livro, provavelmente vai pirar como um hobbit ao encontrar um depósito cheio de erva. Se não leu o livro, provavelmente encontrará aqui as mesmas sensações de quando assistiu à Saga do Anel pela primeira vez. Afinal, o timing e a condução da história são bem parecidos. O que temos aqui é uma espécie de O Senhor dos Anéis light: mais simples, mais engraçado, mais bonitinho. E só um pouquinho mais curto.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
o-hobbit-uma-jornada-inesperadaPaís: EUA / Nova Zelândia<br> Ano: 2012<br> Gênero: Fantasia<br> Duração: 169 minutos<br> Roteiro: Fran Walsh, Phillipa Boyens, Peter Jackson e Guillermo Del Toro.<br> Elenco: Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Ken Stott, Graham McTavish, Elijah Wood, Ian Holm, Hugo Weaving, Christopher Lee, Cate Blanchett e William Kircher.<br> Diretor: Peter Jackson<br> Distribuidor: Warner<br>