O Cavaleiro Solitário

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Atenção: A resenha abaixo foi planejada para ser lida ao som da seguinte música. Leitura fora das condições recomendadas pode causar alergia, ataque do coração ou o inexplicável não aparecimento da vontade de cavalgar.

Agora que estamos com o clima devidamente acertado, caso sua memória estivesse falhando, você já deve ter se lembrado de quem é O Cavaleiro Solitário. Trata-se daquele cavaleiro mascarado (Armie Hammer) amigo de um índio chamado Tonto (Johnny Depp) e que tem um cavalo chamado Silver que atende por Aiô! E o clássico do Rossini que estamos ouvindo neste momento é o seu tema.

O personagem surgiu no rádio no longínquo ano de 1933, e a partir daí se espalhou pela cultura pop mais do que o Wolverine. O cara foi pra TV, gibis, cinema, videogame e até discos. Este filme é a reimaginação do personagem para a nova geração acostumada a ter tudo reimaginado para ela.

BANGUE!

O filme dispensa qualquer conhecimento prévio e sua história é bem direta. Um criminoso escapa do trem que o estava levando para a forca e está espalhando o terror. Nosso herói, então um advogado, se junta ao irmão e a seu time de cavaleiros para pegar o maledeto. Quando todo mundo morre, ele se torna um Cavaleiro Solitário (Hein? Hein?), acompanhado apenas do famoso índio Tonto. Pois é, ele não é assim tão solitário.

A primeira coisa que você vai perceber é que o Tonto nada mais é do que uma versão indígena do Capitão Sparrow. Pois é, eu sei que o ator é muito querido aqui no DELFOS, mas assim como seu parceiro Tim Burton, ele também anda bem limitado. Lembre-se dos seus últimos personagens, e verá que o ator sempre está coberto de maquiagem, e seus papéis sempre são o de um sujeito excêntrico, atrapalhado e engraçadinho.

Não me entenda mal, no entanto. O personagem é legal, responde pelas melhores cenas e tenho certeza que as crianças vão adorá-lo. Mas a semelhança com o pirata baseado em Keith Richards, Willy Wonka e tantos outros personagens da carreira de Depp é inegável.

Depois de alguns minutos de projeção, no entanto, você vai perceber que não é apenas o personagem do Joãozinho Proffundo que lembra Piratas do Caribe, mas o filme inteiro. A impressão que dá é que, depois da decepção do último filme, o trio Gore Verbinski, Jerry Bruckheimer e Johnny Depp decidiu fazer um “sucessor espiritual”, e foi daí que surgiu este reboot.

BANGUE!

Isso significa que O Cavaleiro Solitário traz muitas das características de Piratas do Caribe, tanto as boas quanto as ruins. Das boas, temos o visual belíssimo e o fato de ser uma aventura descompromissada e bastante divertida. Por outro lado, sofre de uma edição por deveras misericordiosa, que prejudica consideravelmente a diversão a que o filme almeja.

Acontece que quando é legal, ele é MUITO legal. As duas cenas no trem, uma de cada canto da projeção, em especial, são engraçadas, divertidas, empolgantes e trazem basicamente tudo que um bom filme pipoca deve trazer. No entanto, entre elas temos momentos de puro tédio e que nada acrescentam à história, que poderiam ser cortados sem dó, especialmente ao lembrarmos que temos aqui um longa de duas horas e meia sem ter material para tudo isso.

Toda aquela parte do Tonto contando a história para o menininho, por exemplo, não tem nenhuma razão para existir. No início, passa a impressão de que eles vão usar a técnica do “narrador não confiável” que contribuiu para deixar Call of Juarez: Gunslinger tão legal, mas não é o caso. No final das contas, sua presença acaba apenas abrindo rombos no roteiro, e levanta as perguntas: “como diabos um índio de verdade se passou por uma estátua por tanto tempo e de forma convincente para que toda uma exposição tenha se formado em volta dele? Ele não come ou vai ao banheiro?”.

Com uma edição mais impiedosa, O Cavaleiro Solitário poderia ser digno de um Selo Delfiano Supremo. Do alto de suas duas horas e meia, no entanto, temos um filme legal, porém deveras irregular, alternando momentos de altíssima qualidade com tédio. Recomendado para fãs de Piratas do Caribe e/ou de faroeste, gênero tão raro no cinema de hoje em dia.