Famílias já são complicadas por natureza. Famílias que têm seu passado envolvendo tragédias, segredos e mentiras, então, nem se fala. E este é o tema de Neve Negra, mais um bom exemplar do cinema argentino (este em coprodução com a Espanha) a chegar às nossas telas.

Marcos (Leonardo Sbaraglia) vai com sua mulher Laura (Laia Costa) até a Patagônia com dois objetivos em mente. O primeiro, enterrar as cinzas do pai, que acaba de morrer. O segundo, convencer seu irmão Salvador (Ricardo Darín), um recluso de temperamento difícil, a vender por uma fortuna as terras que eles herdaram.

Salvador, que possui um passado trágico tendo sido culpado de uma desgraça familiar, não parece muito interessado nisso, o que faz voltar à tona velhos ressentimentos. Ao mesmo tempo, vemos através de flashbacks o que aconteceu tantos anos antes.

Apesar de até poder ser considerado um suspense, ele está muito mais para um drama, visto que grande parte de sua duração é gasta com o desenvolvimento da história da família fraturada. Ele passa uma sensação de desconforto conforme os pedaços da história pregressa vão se juntando, mas não é algo feito para te deixar agarrando os braços da poltrona.

Assim, sob a ótica de um pesado drama familiar, ele funciona melhor. Ajuda muito a ambientação gelada e isolada da Patagônia, e também a formas simples e eficiente de como os flashbacks são integrados à trama principal, o que nunca faz com que o interesse na história se perca.

Contudo, é preciso dizer que o filme é um pouco desconjuntado, sobretudo no terceiro ato, quando acontecem grandes reviravoltas e revelações. O problema é que é muita coisa para pouco tempo de filme, o que deixa este final deveras corrido em comparação aos dois atos anteriores.

Fora que uma grande revelação, quando acontece, acaba deixando as atitudes anteriores dos personagens envolvidos, no mínimo estranhas, para não dizer sem sentido. Não dá para dizer o que é, pois é um grande spoiler, mas embora não possa ser considerado algo inverossímil, acaba prejudicando o desenvolvimento prévio dos personagens.

Claro, como disse lá no começo, família é algo complicado, e nem sempre suas atitudes têm o sentido mais claro, mas mesmo levando isso em conta é algo que acabou me incomodando e deu uma prejudicada na condução geral da trama, em minha humilde opinião.

Ainda assim, Neve Negra é muito mais positivo que negativo e, se não é dos melhores exemplares vindos da Argentina, também não faz feio. Para quem gosta de uma história mais densa e pesada, vale uma assistida.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
neve-negra-e-mais-um-competente-exemplar-do-cinema-argentinoTítulo original: Nieve Negra<br> País: Argentina/Espanha<br> Ano: 2017<br> Gênero: Drama<br> Duração: 90 minutos<br> Distribuidora: Paris Filmes<br> Direção: Martin Hodara<br> Roteiro: Leonel D'Agostino e Martin Hodara<br> Elenco: Leonardo Sbaraglia, Ricardo Darín, Laia Costa e Dolores Fonzi.