No dia seguinte à cabine de Transformers: O Último Cavaleiro, o diretor Michael Bay e a atriz Isabela Moner deram uma coletiva de imprensa no chique Hotel Unique, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Após meia hora de atraso, o jornalista Roberto Sadovski, atuando como mediador do evento, anunciou Isabela.

Foto: Carlos Eduardo Corrales

A atriz novata (que no longa interpreta uma adolescente que entra no caminho de Cade Yeager), claramente ainda sem jeito para a atenção da mídia, entrou tímida. Depois, foi anunciado Michael Bay e uma coisa muito estranha aconteceu. Nada explodiu! A enorme sala da coletiva não foi aos ares, numa chuva de pólvora e fogos de artifício.

Ao invés disso, um senhor loiro com a maior cara de tiozão entrou, tomou seu lugar e a entrevista começou oficialmente, sem maiores alardes, bem diferente de qualquer filme da série Transformers. Ah, fica o aviso: há leves spoilers a seguir. Quem não quiser saber absolutamente nada sobre o filme, só retome a leitura após assisti-lo.

NO INÍCIO…

Sadovski lembrou que o primeiro filme da série está completando 10 anos e pediu para o diretor falar um pouco sobre sua jornada na franquia. Bay respondeu que tudo começou com uma ligação de Steven Spielberg (produtor da série) apresentando-lhe a ideia de um filme sobre um menino que compra seu primeiro carro só para descobrir que se trata de um Transformer.

“Achei uma má ideia. Eu não cresci com o desenho, era um pouco mais velho, mas pensei: se eu fizer os robôs realistas, será muito legal. São filmes bizarros (a série Transformers), são enormes, eles começaram pequeno e foram crescendo cada vez mais. E há o desafio de como manter interessante por cinco filmes.”

Foto: Carlos Eduardo Corrales

A seguir o mediador perguntou a Isabela Moner sua relação com os filmes, visto que ela tinha apenas seis anos quando o primeiro foi lançado.

“Eu tinha nove anos quando assisti aos filmes com meus irmãos”. Sobre atuar num deles: “achei que seria mais fácil, cada explosão é real e fiz minhas próprias cenas perigosas”, onde Michael Bay ressaltou que a segurança é muito importante em seu set de filmagem.

Isabela contou que logo em uma de suas primeiras cenas Michael lhe perguntou se ela sabia usar um extintor de incêndios (há uma cena no filme onde sua personagem precisa apagar um pequeno fogo) e ela disse que seu pai é bombeiro e que portanto ela sabia, mas que o velho ficaria irritado se soubesse o quanto ela chegou perto do fogo.

OS CAMINHOS DO CINEMA

Foto: Carlos Eduardo Corrales

A seguir perguntaram ao diretor o que ele acha de filmes grandes feitos para públicos jovens, o qual está migrando cada vez mais para outras plataformas, como a TV e o streaming, ao que Bay lembrou que também produz muitas séries de TV, então não é um formato ao qual ele não está aclimatado.

“Acho que (o cinema) nunca vai morrer, mas vai diminuir. Esse tipo de filme tem o som, o feeling, o 3D. Filmamos em 3D para Imax. Mas esses outros formatos vão prejudicar o cinema, vai ficar menor, mas ainda tenho esperança para o cinema.”

Também comentou sobre o encurtamento das janelas de exibição: “é bom porque a propaganda custa menos” e também disse que esse tempo menor entre exibição no cinema e chegada aos mais variados meios de home video ajuda a combater a pirataria, que ele considera um grande mal. “Transformers é o filme mais pirateado do ano em que ele sai e esse é um péssimo jeito de se assistir”.

A seguir falou sobre o fato do novo longa ter muitos personagens. “Este (filme) é difícil, pois estabelece novos caminhos para a franquia”. Daí disse novamente que este é seu último no comando, embora já tenhamos ouvido essa história antes. Continuou: “tivemos a sala de roteiristas criando novos elementos para a história e interligando personagens e tramas, além de pensar em derivados. Você vê isso em coisas como Os Vingadores, mas eu adoraria ver algo menor, um estudo de personagem, como o filme solo do Bumblebee.”

Foto: Carlos Eduardo Corrales

Perguntada sobre como é contracenar com o que não está lá, Isabela exemplificou: “estava fazendo uma cena com o Hound, olhava para um ponto (no espaço) e tentava imaginar as feições. Uma vez usaram uma cabeça do Bumblebee para referência.”

Bay recordou uma das cenas mais dramáticas da atriz, quando um robô a que ela é apegada morre: “(na cena em que o robô em questão morre) não tinha nada lá, só as emoções dela”.

Sobre que tipo de heroína gostaria de ser, Moner respondeu: “ia querer ser uma heroína realista, bem desenhada, uma personagem forte”.

REFERÊNCIAS E CROSSOVERS

Foto: Carlos Eduardo Corrales

O filme contém algumas referências a Star Wars, incluindo um personagem, o robô-mordomo Cogman, muito parecido com C-3PO. “Cogman pode se transformar numa cabeça e controlar qualquer corpo, essa é uma habilidade que não foi mostrada aqui, mas poderá ser utilizada nos próximos filmes. Quanto à sua aparência, achei o desenho dele lindo, cresci com o C-3PO, então é algo a assumir e não fingir que não parece com ele“, disse Bay.

Já sobre um possível encontro entre Transformers e GI Joe, que seria o sonho molhado de qualquer menino dos anos 1980, foi enfático: “isso é decisão da Hasbro (fabricante de brinquedos dona das duas marcas), acho que é onde querem chegar”.

Sobre a possibilidade de um Bad Boys III: “logo será Old Boys!”, disse brincando, mas deixando bem claro que caso aconteça, ele não estará envolvido. “Estão tentando (produzi-lo) há 10 anos. Quando fizemos o primeiro, éramos três crianças (ele se refere a ele e aos dois protagonistas) e o estúdio não acreditava no filme, não levavam fé num longa com dois protagonistas negros (Will Smith e Martin Lawrence), eles (o estúdio) não foram legais conosco, não tínhamos dinheiro e nem roteiro.”

Vocês acham que eu me importo em ser indicado a pior diretor no Framboesa de Ouro?

BOMBA! (METAFÓRICA, É CLARO)

Foto: Carlos Eduardo Corrales

Foi nos momentos finais da entrevista que pegaram mais pesado com ele e onde ele se mostrou safo, quando um jornalista perguntou sobre o tempo de pós-produção do longa e sobretudo sobre o processo de edição, numa clara alusão ao fato de que todos os cinco filmes da série são excessivamente longos.

“Este filme levou 18 meses do começo ao fim, o que é rápido para esse tipo de produção. Não fizemos muita tela verde e é assim que eu gosto. A pós no geral foi divertida, todo dia me encontrava via videolink com vários artistas da IL&M em diversas partes do mundo para tratar dos efeitos especiais. Acho que o efeito mais pesado que fizemos foi a destruição da pirâmide. E sim, eu queria ter mais tempo de edição”, desconversou já sabendo bem que aquela não havia sido exatamente a pergunta.

Na última pergunta, um jornalista questionou se a estreia de Carros 3 poderia ser uma ameaça a O Último Cavaleiro e como ele se sentia com seus filmes menores, como Sem Dor, Sem Ganho e 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi, sendo elogiados pela crítica, mas seus filmes maiores não receberem a mesma avaliação positiva e frequentemente lhe renderem indicações ao Framboesa de Ouro. Foi aí que deu para ter um gostinho da versão “sangue nos olhos” do diretor:

“(Sobre a concorrência com Carros 3) Eu não escalo as datas. A franquia Transformers fez mais de quatro bilhões de dólares, e ainda é um grande sucesso”, citando números deste mais recente exemplar, que já estreou nos EUA.

Eu ajudei a formar o blockbuster moderno.

“Vocês acham que eu me importo em ser indicado a pior diretor no Framboesa de Ouro? Estou muito confortável com o que faço, não estou nem aí para a imprensa, eu não leio o que escrevem. Eu ajudei a formar o blockbuster moderno. Uso ‘músculos’ diferentes para exercitar filmes bombásticos como Transformers ou coisas menores como 13 Horas.”

Foto: Carlos Eduardo Corrales

Assim, com pouco menos de meia hora a entrevista se encerrou. Engraçado que, antes dela começar, um monte de jornalistas batia papo sobre o de sempre: como Michael Bay é um cineasta competente, mas excessivo, e como a franquia Transformers é uma grande porcaria. Mas quando foi anunciado o final da coletiva, uma horda deles correu até a mesa dos entrevistados para tirar fotos com ele. Estranho, não?

Após tirar algumas, ele disse que precisava ir, pois estava em cima da hora para o próximo compromisso e retirou-se. Nesse momento outra coisa estranha aconteceu: a sala novamente não explodiu! E assim findou-se a passagem de Michael Bay pelo Brasil, não com um bangue, nem mesmo com um traque de São João, no máximo algumas palavras mais acaloradas e olhe lá!

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