Maestrick – The Trick Side of Some Songs

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Vou começar esta resenha com uma história legalzuda. Eu conheci o Maestrick em uma das minhas andanças pela internet, mais ou menos no mesmo período em que eu conheci o DELFOS. Na época, eu fiquei bastante curioso pela proposta da banda – que, na palavra dos próprios, é criar uma “‘aquarela sonora’ entre as mais diversas facetas artísticas, como música, pintura, cinema, literatura, teatro e dança”.

Aliás, não apenas conheci a música deles como tive a oportunidade de conversar com Fabio Caldeira, vocalista do Maestrick, pelo Facebook. Eu me lembro que passei uma bela hora falando das coisas mais diversas, sobre o ato de cantar, sobre a banda, sobre Heavy Metal em geral… Enfim, falei sobre tudo. Depois, nunca mais importunei o músico, mas guardei essa memória, que não só foi um dos primeiros contatos que eu tive com um músico profissional, mas – principalmente – foi a primeira vez que vi como nossos ídolos eram pessoas normais, como eu e você.

E por que eu falei isso? Oras, porque a minha maior surpresa ao receber a cópia de imprensa de The Trick Side of Some Songs foi justamente uma carta que a acompanhou. Nesta carta, a banda fala diretamente com a gente, da imprensa, agradecendo o apoio dado, além de se mostrarem genuinamente felizes com a oportunidade de viver o sonho que é o Maestrick. E eu digo “genuinamente” com conhecimento de causa, pois, muito antes de sonhar estar na imprensa, eu já sabia que essa felicidade era real. O mundo dá voltas, não dá?

STILL MY GUITAR GENTLY WEEPS

E o disco que caiu nas minhas mãos é justamente um EP de covers feito pela banda para preencher o espaço entre o já lançado primeiro disco – Unpuzzle! – e o vindouro novo álbum. The Trick Side of Some Songs, portanto, se mostra como uma homenagem aos artistas que mais influenciaram a banda ao longo de toda a sua história, bem como uma forma de mostrar como o grupo se sai ao tentar imprimir sua autenticidade em outras vertentes além da própria.

Com três integrantes, o Maestrick é composto por Fabio Caldeira nos vocais e no piano/synth, Renato “Montanha” Somera no baixo e nos vocais de apoio e Heitor Matos na bateria.Curioso é notar que a banda, atualmente, não conta com guitarrista – o que não os impediu de incluir guitarras no disco, obviamente. As guitarras foram gravadas por Rubinho Silva, guitarrista que já havia acompanhado a banda em sua apresentação no festival argentino La Plata Prog Festival.

Falando do músico, Rubinho garante uma performance absolutamente competente. Como guitarrista apaixonado que sou, a primeira coisa que me chamou atenção ao ouvir o disco foi realmente os timbres diferenciados que ele utiliza, tanto em momentos limpos como com distorção. A tendência do Heavy Metal atual é utilizar um som de guitarra um tanto quanto pasteurizado, e foi um alívio ver que Rubinho conseguiu fugir disso sem, no entanto, soar desconexo do resto da banda.

HE’S A FAIRY FELLER!

As performances de Montanha e Heitor também são sólidas. Gostei especialmente da forma imponente como o baixista se manifesta nas músicas, não se deixando esconder atrás de uma mixagem desfavorável ou de linhas fracas. Pelo contrário, Montanha se mostra extremamente importante para trazer o som característico do Maestrick – importância essa que apenas rivaliza com a de Heitor, que garante linhas de bateria bastante distintas das originais e que imprimem a identidade da “aquarela sonora” do grupo.

Além deles, Fabio Caldeira também se destaca deveras. Não só pela sua performance corajosa nos vocais (afinal, fazer cover de Queen e Jethro Tull no mesmo álbum não é para qualquer um), mas também no piano e no synth. Aliás, lembra quando eu falei que as linhas de teclado de Juninho Carelli eram subaproveitadas no Noturnallporque ficavam escondidas? Pois The Trick Side of Some Songs é o contraponto perfeito para mostrar que, com a mixagem certa, elas fazem com que as músicas consigam ser excepcionais, ao invés de “boas”.

I’VE LOST MY WAY, SHE HAD RAINBOW EYES

No entanto, algo que me chamou a atenção foi a presença de não um nem dois, mas três medleys. Um deles é um medley do Yes – chamado Yes, It’s a Medley! -, enquanto as outras duas são medleys do Queen, sob o nome The Ogre Fellers Master March – Part I e II (combinando as faixas Ogre Battle, The Fairy Fellers Master Stroke e The March of the Black Queen). Isso é uma escolha um tanto quanto incomum, mas faz sentido do ponto de vista da homenagem em si: desta forma, você tem a oportunidade de fazer algo muito mais grandioso justamente por não se limitar a apenas uma música.

Isto, no entanto, não quer dizer que a banda não se saia bem tocando canções únicas, como Aqualung e Rainbow Eyes (esta gravada originalmente para um tributo e reaproveitada neste EP) provam, a banda tem a mais perfeita capacidade de extrair o máximo da emoção proporcionada de cada uma delas. E diga-se de passagem, valeu bastante a pena incluir Rainbow Eyes no EP, pois a presença de uma orquestra de fato traz vida nova à canção.

E já que falamos de trazer vida nova, deixo aqui a música que mais me surpreendeu, de longe: While My Guitar Gently Weeps. A faixa chamou minha atenção por se distanciar bastante da versão original e possuir aquelas que são, possivelmente, as linhas de guitarra e synth mais legalzudas do álbum. É sério, você tem que ouvir.

Com tantas boas razões, não é de se assustar que The Trick Side of Some Songs ganhe cinco Alfredos nesta resenha delfiana. Não só se mostra mais um excelente trabalho da banda, como ainda permite que conheçamos o Maestrick em diferentes roupagens. Se você gosta de Metal Nacional, este disco é pra você.

CURIOSIDADE

– O Maestrick distribuiu gratuitamente o seu EP internet afora. Se você ficou curioso e quer conferir o disco (algo que eu recomendo fortemente, como você já leu), é só baixar aqui.