LittleBigPlanet

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Desde que videogame virou brinquedo “de adulto”, muita gente sente falta de algo mais simples, mais voltado à fofura e à fantasia infantil. Ok, o Wii basicamente só tem isso. Porém, donos de Xbox 3RL e PS3 sentem falta de um jogo menos piupiu-centric. Afinal de contas, praticamente todos os jogos desses consoles têm na história uma simples desculpa para ver quem tem a ferramenta lusitana maior.

LittleBigPlanet vai completamente contra isso. Logo no filminho inicial, já vemos crianças dormindo enquanto a doce voz de Stephen Fry (cujo rosto você deve conhecer de V de Vingança, mas que também fez a voz cinematográfica do Guia do Mochileiro das Galáxias) nos explica que todos os sonhos dos seres humanos formam uma energia e essa energia forma um mundo, o LittleBigPlanet. E nós vamos explorá-lo agora.

OS GRÁFICOS

Temos aqui uma das coisas mais impressionantes que um ser humano já viu em um videogame. Lembra aquela sensação de “Mas… Mas… são pessoas de verdade… Oo” que tínhamos quando víamos jogos como Mortal Kombat, Mad Dog McGree e Pit Fighter nos arcades lá pelo fim dos anos 80/início dos 90? Então, essa sensação está de volta. LittleBigPlanet não tem pessoas de verdade, mas tem a maior cara de filme.

Seu personagem, o Sackboy (muito provavelmente o novo mascote da Sony) parece mesmo um bonequinho de pano preso dentro da sua TV. E não só ele, todo o cenário parece criado a partir de fotos. Mas o que deixa tudo ainda mais fofo é que tem todo aquele charme artesanal de brincadeira de criança também presente no Rebobine, Por Favor.

Isso significa que, tirando o Sackboy e uns outros poucos personagens, tudo em LittleBigPlanet parece construído pela imaginação infantil. Vários dos inimigos, por exemplo, são feitos de cartolina e é bem comum ser possível identificar todo o material presente no mundo. E tudo parece que pode ser reproduzido na nossa própria casa. Os cenários são bem criativos e vão levar o jogador do México à Índia, passando até por um treinamento ninja no Japão.

SOM E MÚSICA

Aqui o troço é menos cabulosamente tremendão. Tem algumas músicas que são simplesmente fenomenais (aquelas duas cantadas em espanhol da fase do Dia dos Mortos mexicano são absurdas de tão boas). Infelizmente, também tem outras que chegam a ser irritantes, com barulhinhos eletrônicos ou batidas claramente programadas. Poxa, um jogo tão artesanal tem que ter uma trilha levada ao violão, não ao computador.

Os efeitos sonoros são bons, mas infelizmente a Sony levou longe demais sua proposta “mamãe, eu quero ser a Nintendo”. Ou seja, tirando a narração do Stephen Fry (que some como se nunca tivesse existido quando o tutorial termina), não existem vozes por aqui e todo o diálogo é feito em textos. O pior de tudo, contudo, é que, quando um personagem fala com você, rola uns barulhinhos para simular sua voz. E TODOS esses barulhinhos são muito irritantes, variando de uns ruídos genéricos de nenês até arrotos. Sim, ARROTOS. O troço é tão irritante que várias vezes eu pulo os diálogos só para não ter que ficar ouvindo essas coisas.

O JOGO

LittleBigPlanet não inova apenas na fofura, mas também no gênero, que é tão inovador quanto old-school. Isso porque temos aqui o mais legítimo platformer 2D, na melhor tradição Super Mario/Sonic. Você leu certo, amigão. LittleBigPlanet é um jogo para PS3 usando as mais avançadas tecnologias, cuja jogabilidade consiste simplesmente em andar para a direita e pular em cima dos inimigos. E, assim como Gears of War, é justamente essa jogabilidade roots típica do Mega Drive o que o torna tão especial.

Infelizmente, essa jogabilidade não é perfeita. Manja a série de sucesso Super Smash Bros.? Pois controlar o Sackboy é quase igual aos controles desse jogo. Eu sei que muita gente adora, mas um dos motivos pelos quais eu nunca consegui curtir essa série é justamente sua jogabilidade, que faz com que até o mais simples pulo seja tão difícil quanto a fase do jet-ski no Battletoads.

Tanto em SSB quanto em LBP, os controles são muito soltos e pouco precisos. Um toque na alavanca faz seu personagem correr muitos metros e ele demora para parar. Isso se reflete também em pulos que exigem precisão, tornando-os muito mais difíceis do que a mesma fase seria em um Super Mario, por exemplo.

Falando em dificuldade, os primeiros mundos são tão fáceis que me deram a sensação de que este seria um daqueles jogos relaxantes, para jogar com a namorada, tipo Lego Star Wars. Você tem três vidas para cada checkpoint, e achei que nunca gastaria todas. Só que, do nada, quando você chega no México, o troço dá um salto e fica extremamente difícil. Com um pouco de prática, eu consegui passar de todas as fases sem perder vida (e conseguir o respectivo troféu), mas essa dificuldade prejudica um pouco se você quiser jogar em cooperativo.

Disponível para até quatro pessoas ao mesmo tempo, o cooperativo é bem legal e inclusive existem puzzles que precisam de duas, três ou quatro pessoas para resolver. Dá para jogar online, mas curiosamente, existe bem pouca gente jogando. Você escolhe no início da fase se quer ir online ou sozinho. Na primeira opção, o jogo procura por alguém na mesma fase e, se encontrar, te coloca no meio dela, o que não é legal. Por outro lado, ele normalmente não encontra ninguém, daí você começa sozinho, esperando que alguém entre – o que dificilmente acontece. Boa sorte tentando resolver os puzzles de quatro pessoas se você não tiver quatro controles – e quatro amigos – para fazê-los offline.

Voltando aos checkpoints, eles também são responsáveis pelo mais frustrante defeito do game. Isso porque, quando você morre, volta para o checkpoint mais recente, mas todo o “planetinhazão” (ou seria “planetãozinho”?) está da mesma forma que deixou. Isso é ruim porque alguns itens só podem ser apanhados usando um inimigo de trampolim. Se você errar a mira, o inimigo morre e você tem que começar tudo de novo para pegar o item, nem adianta se matar. Isso também afeta vários outros puzzles, pois é muito fácil fazer algo que não devia e ferrar tudo de vez. A Media Molecule deveria aprender com o lema da Lucasarts, de que não deve ser possível “ferrar seu jogo”.

Aliás, mesmo se você não se preocupa com itens, também há de ficar bravo com isso. Como a física do jogo é toda solta e aleatória, tem momentos em que um inimigo vai subir em cima do outro “sem querer” e ficar preso lá, fechando seu caminho. E não tem nada que você possa fazer, nem se matar adianta, o jeito é reiniciar a fase e torcer para não acontecer de novo. Isso é raro na maior parte do tempo, mas na primeira fase do Japão, prepare-se, pois já aconteceu várias vezes seguidas para mim.

O CRIADOR DE FASES

Para alguns, isso pode ser o mais tremendão do jogo. Para mim, é algo que não faz a menor diferença, tanto que eu nunca nem sequer entrei nele. Pensei em fazê-lo para essa resenha, mas praticamente tudo que li sobre o jogo só fala dele, então não achei necessário.

O lado bom de ter um criador de fases é que você pode jogar fases de outras pessoas. E algumas delas são bem legais, como homenagens a clássicos na linha de Shadow of the Colossus, Metal Gear e até o recente Mirror’s Edge. Também tem fases que são simplesmente uma música (procure pela versão LBP de Sweet Child O’ Mine) e outras que estão lá apenas para distribuir troféus – o que seria como um cheat, mas não dá para negar que é uma boa idéia.

Assim, LBP, cujo modo história é bem curto, fica potencialmente infinito. O difícil vai ser você encontrar fases tão boas quanto as que vêem com o jogo. Principalmente porque o sistema de busca poderia ser muito melhorado, mas também porque poucas pessoas investiriam dias de sua vida criando uma fase que será terminada em menos de dez minutos.

CONCLUSÃO

Se você sente falta de jogos 2D ou acha que o mundo dos games carece de um pouco de fofura e de inocência, LittleBigPlanet é para você. Existem alguns defeitos sérios e o criador de fases não é desculpa para o jogo ser tão curto, porém é tudo tão charmoso e agradável que é impossível não recomendar este game para qualquer dono de PS3.

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