Humor nonsense

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Hoje é dia de uma Pensamentos Delfianos diferente, amigo delfonauta. Hoje não vou reclamar, não vou brigar, não vou escrever nada polêmico (ou, pelo menos, eu acho que não). Pelo contrário, o texto de hoje tem como objetivo fazer uma introdução e dar algumas explicações sobre esse tipo de humor tão rico e genial que chamamos de humor nonsense. Falarei um pouco sobre os estilos diferentes, os principais representantes, cenas inesquecíveis, etc. Aí, quando você quiser mostrar para alguém como o humor nonsense é legal, pode simplesmente passar o link dessa página. E eu idem, pois estou cansado de explicar seu valor artístico para as pessoas que insistem em negá-lo.

Na verdade, já há alguns meses venho me interessando por “estudar” o humor, seus gêneros, o que faz as pessoas rirem e por aí vai. Aliás, se eu não fosse tão não-acadêmico, é muito provável que eu fizesse um mestrado ou algo mais formal baseado nisso. Por enquanto, o máximo que vou fazer é esse texto, mas quem sabe um dia?

Pois então, em todos os campos das artes, talvez o humor nonsense seja um dos mais incompreendidos. E aí está o principal erro daqueles que começam a assistir algo do gênero: tentar compreender o que intencionalmente não faz sentido (e que tem até o nome “nonsense” por causa disso) já é, por si só, uma atitude errada, não acha? De qualquer forma, para realmente compreender todas essas coisas absurdas que acontecem nos representantes do gênero, você precisa, antes de mais nada, esquecer a realidade e coisas que fazem sentido (se é que algo faz sentido na sua vida, porque a minha parece aqueles trechos tragicômicos e absurdos de O Guia do Mochileiro das Galáxias). Depois você precisa ir além das piadas, pois na maior parte dos casos, elas são apenas as formas encontradas para discutir temas muito sérios, que vão desde críticas sociais e idéias filosóficas a sentimentos e, por que não, mostrar que a vida e a sociedade realmente não fazem sentido para ninguém. E, para chegar a esse nível, você precisa ter repertório, pois, no humor nonsense, nada é dado de mão beijada e boa parte das piadas são referências, sátiras e paródias.

Muitos dizem que humor nonsense é coisa de intelectual (normalmente esses se referem ao estilo como “humor inglês”, termo que eu não gosto, já que muita coisa boa foi feita fora da Inglaterra). Outros acham simplesmente bobo. Sim, meu amigo. Esse gênero é bobo, mas não confunda “ser bobo” com “ser burro”, pois para ser bem sucedido no humor nonsense, é necessário ser muito inteligente e ter pensamentos críticos. E esse é justamente o motivo pelo qual um pedaço de mim morre cada vez que alguém chama o estilo de “besteirol” ou quando vejo traduções esdrúxulas, como Corra que a Polícia Vem Aí (Naked Gun), Uma Família da Pesada (Family Guy), Kung-fusão (Kung-fu Hustle), S.O.S. Tem um Louco Solto no Espaço (Spaceballs), Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead) ou um dos piores e mais ofensivos, O Império do Besteirol Contra-ataca (Jay and Silent Bob Strike Back) e tudo mais “da pesada”, “do barulho”, “pra cachorro” e “muito louco” que você vê por aí.

Fala sério, tem muita gente que diz não gostar de humor nonsense sem nunca ter assistido, só por causa dessas traduções estúpidas. E com razão! Imagina o que os artistas que fizeram os filmes diriam se soubessem do desrespeito que as distribuidoras tupiniquins têm com o trabalho deles? E note que, no original, nenhum deles é tão infame ou imbecil, isso é coisa de brasileiro mesmo. E, na verdade, é algo que todos os fãs brasileiros do gênero têm engasgado e já estava mais do que na hora de alguém falar alguma coisa! Afinal, ninguém gosta de ter um DVD com o título O Império do Besteirol Contra-ataca na estante, mesmo sabendo que se trata de um filme muito legal e inteligente.

Em breve falarei mais sobre os diferentes estilos de humor nonsense, mas antes vamos falar do público, que se divide basicamente em alguns poucos grupos. Os nerds são provavelmente os mais ecléticos dentro do nonsense e, ao mesmo tempo, os fãs mais hardcore. É praticamente impossível conversar por mais de 10 minutos com um nerd sem que alguma referência, piadinha ou situação nonsense surja na conversa, o que contribui muito para que as demais pessoas nos achem indivíduos estranhos. Os intelectuais já são um pouco mais radicais. Monty Python é basicamente uma unanimidade entre eles mas, por algum motivo que ninguém até hoje conseguiu explicar, eles dificilmente acham graça em qualquer coisa humorística que não venha da Inglaterra, mesmo que seja até mais “pitonesco” do que o próprio sexteto inglês. Finalmente, temos as crianças que têm sua introdução no gênero através de desenhos animados infantis (sobretudo os da Warner, especialmente dos Looney Tunes) e que, alguns anos depois, serão os grandes fãs de suas contrapartes filmadas (e bem mais pesadas). Claro que existem aqueles “fãs de final de semana”, que até se divertem com alguns filmes e desenhos, mas não sabem nada sobre isso, não entendem as referências (e muito menos as críticas) e nem sabem que se trata de um tipo muito específico de humor.

Do outro lado, temos também as pessoas que não gostam. A maior parte delas comete o erro de ficar tentando ver algum sentido (desista! Não há sentido, ou melhor, o sentido só é compreendido se você entrar na lógica da obra, o que é parte da graça) ou então confunde “bobo” com “burro”. Agora o mais bizarro são aquelas pessoas que adoram desenhos animados e assistem a todas as animações que saem no cinema, mas se as mesmas piadas forem feitas em live action não vêem graça nenhuma. Esse é um grupo que eu venho tentando entender faz tempo, mas que, para mim, é mais nonsense do que os próprios comediantes, só que sem a graça.

Acho que isso é o suficiente para a introdução. Agora vamos falar um pouco sobre cada um dos estilos dentro do humor nonsense, dar exemplos de representantes de cada um e comentar algumas cenas e piadas clássicas (então fique avisado que o restante desse texto terá alguns spoilers). Mas antes, um esclarecimento: eu mesmo classifiquei esses estilos baseados na minha própria experiência. De forma alguma, isso deve ser visto como um “tratado definitivo”, é mais uma “divisão pessoal”, até porque é bem capaz de eu ter esquecido de falar de alguma categoria tão legal quanto as outras. Isso sem falar que, às vezes (quase sempre, na verdade), um representante de um deles pode flertar com outro. Claro que também é possível que você prefira dividir de forma completamente diferente ou discorde da minha classificação. Se for o caso ou se você sentir falta de algo, o espaço para comentários é todo seu. Vamos lá!

O HUMOR NONSENSE CRÍTICO

Alguns representantes: Monty Python, Charles Chaplin, Simpsons, South Park, Uma Família da Pesada.

Ícone do estilo: os filmes Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (que você pode comprar baratinho aqui) e Tempos Modernos.

Como é:
O humor nonsense crítico é aquele que, obviamente, faz seu humor em cima de críticas sociais, grupos, situações do dia a dia, celebridades, etc. Talvez seja o mais difícil de entender. Muitas pessoas, por exemplo, assistem South Park ou Simpsons achando que é simplesmente mais um desenho fofinho e inofensivo como os da Disney (é só ver que, na TV aberta, Simpsons sempre passou de manhã, junto com outras animações infantis quando, na verdade, deveria passar tarde da noite) e nada está mais longe da verdade. Outros, ainda, se sentem ofendidos pelas opiniões apresentadas e acusam-no de ser grosseiro, polêmico e coisas do tipo. Algumas vezes nem as pessoas que participam do negócio entendem qual é a idéia. Qualquer um que lembra da palhaçada armada por Isaac Hayes quando o South Park zoou a sua religião vai concordar comigo. Aliás, vale lembrar que esse estilo só existe ainda hoje graças ao sucesso dos Simpsons, que possibilitou que outros desenhos semelhantes habitassem a nossa TV. Resta torcermos para que apareça algum representante em live-action em um futuro próximo, já que não me lembro de nenhum desde o último filme do Monty Python (O Sentido da Vida, de 1983).

Esse é o gênero mais perigoso e não deveria ser visto por crianças. É um humor baseado em ideologia, opiniões, é quase uma revolução de idéias, um espaço para discussão. Ele incomoda mesmo e é feito justamente para incomodar. Isso faz com que muitas pessoas se afastem antes mesmo de conhecê-lo direito. Não se deve tomar o que é falado por seus representantes como verdade absoluta, nem se sentir pessoalmente ofendido, mas entender os assuntos abordados como algo a ser pensado, a levantar uma discussão (muitas vezes de cunho político, mas sempre social). A polêmica serve justamente para levar as pessoas a discutirem sobre o assunto. Ninguém discute sobre algo que não incomoda. É um tipo de humor que pode ser muito mais perigoso que uma arma e, justamente por isso, é melhor ser visto apenas por pessoas que não tenham mente fraca e que não sejam facilmente manipuladas ou, muito menos, ofendidas. É preciso ser assistido com muita atenção e, se você se ater às piadas superficiais, sem se aprofundar na discussão, não estará aproveitando-o em toda sua glória. Aliás, talvez esse seja o estilo de humor nonsense mais utilizado nos textos e críticas delfianas, como você pode constatar clicando aqui.

Algumas cenas marcantes:
Em Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, o Rei Arthur se encontra com um plebeu que começa a questionar seu direito de rei, dizendo que não votou nele e apresentando idéias anárquicas e revolucionárias, expondo o mítico personagem ao ridículo no momento em que pergunta como ele subiu ao poder e Arthur responde algo como “A Dama do Lago me deu a Excalibur, que me dava o direito de ser rei dos bretões”.

Em A Vida de Brian, o povo de Jerusalém, insatisfeito com o império romano, organiza uma resistência para derrubar o governo. Devido a diferenças internas, ele se separa em vários grupos com nomes e objetivos muito semelhantes. Ignorando a máxima “a união faz a força”, alguns grupos de um homem só são formados. Em um determinado momento, eles decidem invadir o castelo de Pôncio Pilatos e, ao chegar lá, encontram um outro grupo de resistência com exatamente o mesmo plano e os mesmos objetivos. Ao invés de agirem juntos, eles começam uma discussão argumentando que um deles tinha pensado primeiro e coisas do tipo. Terminam se matando e, por causa disso, o plano falha. Isso simboliza o fato de a oposição (o que pode ser muito bem visto na história da esquerda brasileira) tender a se dividir por coisas estúpidas e sem importância, mesmo todos querendo basicamente a mesma coisa. Isso faz com que o establishment fique cada vez mais forte.

No longa South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes, logo no início, Stan está cantando sobre como este é um belo dia. Na letra, entre coisas como “os passarinhos estão cantando”, ele fala uma frase muito boa: “nós vemos mendigos e nem nos importamos”. Isso me tocou profundamente um dia que, ao passar de carro por uma rua de grande movimentação, vi um mendigo bebendo a água da sarjeta, algo que nunca tinha pensado que seria necessário (será que se ele pedisse água num boteco, o cara não daria?). Todo mundo estava vendo essa cena tristíssima, mas as pessoas continuavam dirigindo ou andando rumo aos seus destinos. E o que elas poderiam fazer? No máximo comprar algo para ele beber, o que seria apenas um paliativo, não uma solução. Em várias outras cenas desse mesmo filme, são feitas críticas ao sistema de censura cinematográfica estadunidense, que permite que violência explícita seja mostrada, desde que as pessoas não falem palavrões. Aliás, esse é um dos longas de comédia mais críticos que eu já vi, pois sobra para o sistema educacional, para os pais e até para as crianças. É aquele tipo de coisa que você ri para não chorar, pois dependendo do seu estado de espírito, você pode assistir a esse filme e se sentir encurralado em uma sociedade podre e sem sentido e querer se matar. Então cuidado quando for assistir. 🙂

HUMOR NONSENSE SENTIMENTAL/FILOSÓFICO

Alguns representantes: O Guia do Mochileiro das Galáxias, Scrubs.

Ícone do estilo: A trilogia de cinco partes, O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams. Aliás, aproveite para comprar toda a trilogia clicando aqui e divirta-se por semanas.

Como é:
Quando eu era criança, minha mãe comentava que ia assistir aos filmes do Charles Chaplin no cinema e que, enquanto todos saíam rindo, ela saía chorando. Segundo ela, as pessoas riam porque não entendiam o que o filme queria passar (aliás, isso aconteceu comigo após a sessão de Pequena Miss Sunshine e até hoje não entendi como podem classificar aquilo como comédia). Embora tenha classificado o bom e velho Carlitos na categoria anterior, acho que essa definição dela se encaixa muito bem no Humor Nonsense Sentimental.

Este é, na minha opinião, o estilo mais difícil de ser feito. É preciso muito talento e muito tato para saber dosar drama e comédia nonsense na medida certa. Um exagero em qualquer um dos dois pode fazer o barco desandar, sem contar que juntar dois gêneros completamente opostos é MUITO complicado. Na verdade, este é o meu estilo preferido mas, como todas as boas coisas da vida, é raro encontrarmos um bom representante e, justamente por causa disso, consegui dar apenas dois bons exemplos, mas devem existir mais por aí (e, se você lembrar de algum, me diga).

O que separa este gênero do anterior é que este não é feito com o cérebro, mas com o coração. Ele é maravilhoso, pois deixa o receptor com as emoções à flor da pele. Em um momento, você está gargalhando alto por causa de uma lógica ou uma situação esdrúxula e, trinta segundos depois, você está se segurando para não chorar. E não se engane, você vai chorar! Desde que você seja meio manteiga derretida como eu, é claro.

Para conseguir ser perfeitamente usufruído, você deve se identificar com os personagens, pois precisa se transportar para o lugar deles e, assim, viver todas as emoções que a história apresenta. Aliás, essas emoções, por mais específicas e esdrúxulas que pareçam, devem ser universais. E, pelo menos nos exemplos que eu dei, isso não será um problema. Ou existe algum nerd por aí que não se identifica com o J.D. (protagonista de Scrubs), por mais distante que esteja do ramo da medicina?

Assim como no Nonsense Crítico, aqui também as obras são bem opinativas e muitas vezes podem incomodar aqueles que assistem. Uma dose bem caprichada de filosofia e de pensamentos variados sobre “a vida, o universo e tudo mais” ajudam no lado intelectual deste gênero tão especial.

Outra coisa essencial é que a história não seja criada com a única intenção de vender. É preciso ter sentimento, ser algo realmente artístico (ou então ter um talento sobrenatural para que aparente isso), pois só assim o público vai se emocionar e a obra vai se tornar especial nos corações dos admiradores do estilo. Um verdadeiro representante do Nonsense Sentimental deve retratar os sonhos, aspirações, desejos, medos e frustrações do autor. E, se der certo, elas encontrarão eco no público. Como, aliás, deveria ser em qualquer forma de arte.

Algumas cenas marcantes:
No episódio My Old Lady, da primeira temporada de Scrubs, J.D., um médico iniciante, tem que lidar com a morte de um paciente (uma velhinha pra lá de simpática) pela primeira vez. Ele fica chocado quando ela recusa o tratamento dizendo que está pronta para a morte e tenta convencê-la a viver fazendo uma lista de coisas boas da vida. Só que a velhinha já fez tudo que ele escreveu e retruca “e você? Quantas dessas coisas você já fez? Aliás, há quanto tempo você não deita na grama e fica sem fazer nada?”. A cena termina com J.D. abraçando ela, pois quem realmente precisava de consolo e ajuda para lidar com a situação, era o médico, não a paciente. Na minha opinião, esse é um dos episódios mais tremendões de todas as sitcoms de todos os tempos e só de lembrar dessa cena, meus olhos já se enchem de lágrimas. Se você ainda não assistiu, vá atrás AGORA (ou depois que terminar de ler esse texto)! Mas não se engane, embora essa cena descrita aqui seja, essencialmente, dramática, a série também vai fazer você morrer de rir com as fantasias esdrúxulas do protagonista.

O prólogo de O Guia do Mochileiro das Galáxias tem três páginas. Essas três páginas são, na minha opinião, algumas das melhores de toda a história da literatura, além de serem verdadeiras pérolas da filosofia, graças ao distanciamento permitido pelo fato de “o guia” não ser um personagem humano, possibilitando mostrar quão estranha é nossa vida na Terra. Colocarei aqui dois trechos dos quais gosto muito. “A Terra tem o seguinte problema: a maioria de seus habitantes estava quase sempre infeliz. Foram sugeridas muitas soluções para esse problema, mas a maior parte delas dizia respeito basicamente à movimentação de pequenos pedaços de papel colorido com números impressos, o que é curioso, já que no geral não eram os tais pedaços de papel que se sentiam infelizes”. E, um pouco mais à frente: “E, então, quase dois mil anos depois que um homem foi pregado num pedaço de madeira por ter dito que seria ótimo se as pessoas fossem legais umas com as outras para variar, uma garota, sozinha numa pequena lanchonete em Rickmansworth, de repente compreendeu o que tinha dado errado todo esse tempo e finalmente descobriu como o mundo poderia se tornar um lugar bom e feliz. Desta vez estava tudo certo, ia funcionar, e ninguém teria que ser pregado em coisa nenhuma. (…) Esta não é a história dessa garota”.

Ainda em O Guia do Mochileiro das Galáxias, uma das cenas mais queridas é a da baleia que surge, do nada, no meio do céu. Ela tem pouco tempo de vida, já que está caindo rumo à morte certa e, durante esse período, ela tenta criar sua identidade, nomeando coisas e pensando para que elas servem. Tudo inútil, pois todos sabemos que o chão (e, conseqüentemente, a morte) está cada vez mais próximo. Seus pensamentos ocupam poucas páginas mas são, para mim, um verdadeiro tratado sobre a efemeridade e inutilidade das nossas vidas. No fim das contas, nada que você faça ou pense fará alguma diferença…

No livro O Restaurante no Fim do Universo, a segunda parte da trilogia do Guia, Arthur Dent e seus amigos vão para o restaurante do título, onde conhecem o “prato do dia”, uma criatura que amigavelmente oferece partes do seu corpo para serem comidas. Arthur diz algo como “isso é nojento, eu não vou comer um bicho que quer que eu o coma”, ao que Zaphod responde “você prefere comer um que não quer ser comido?”. Não é exatamente a atitude padrão do ser humano?

HUMOR NONSENSE VERBAL

Alguns representantes: Seinfeld, os filmes do Kevin Smith.

Ícone do estilo: Seinfeld.

Como é:
Diga adeus a situações estapafúrdias. Aqui você não vai encontrar nenês que querem dominar o mundo, cachorros intelectuais ou pessoas que se machucam ao ouvir a palavra “Ni!”. Aqui a realidade aparece e o humor visual dá lugar a um humor predominantemente verbal. Se existe algo absurdo nos representantes desse gênero, não está no “mundo” em que os personagens vivem, mas na lógica e nas atitudes de alguns personagens (como o tremendão Kramer, de Seinfeld).

Assistir a um representante deste gênero é muito semelhante a participar de uma Reunião Delfiana Secreta ou até mesmo de estar no meio de um grupo de nerds. Referências a filmes, filosofias e dúvidas sobre o mundo nerd (quadrinhos, por exemplo) e até mesmo os sonhos, aspirações e frustrações comuns deste grupo. É muito difícil uma pessoa que não tenha nada de nerd se divertir assistindo a um filme do Kevin Smith, por exemplo, mas é diversão garantida para quase todos os que têm pelo menos um pezinho na tribo.

Algumas cenas marcantes:
Em O Balconista 2, há um diálogo discutindo qual trilogia é melhor, Star Wars ou O Senhor dos Anéis. Falar mais estragaria a cena, mas mais nerd que isso só discutir qual videogame da próxima geração é mais legal.

É até difícil destacar algo do Seinfeld, pois praticamente todos os diálogos são muito bem construídos. Lembro de um em que George e Jerry discutiam se o Homem de Ferro usava cueca por baixo da armadura. Aliás, essa é uma das coisas que eu perguntaria se um dia tivesse a oportunidade de entrevistar Stan Lee.

HUMOR NONSENSE DIVERTIDO

Alguns representantes: Todos os filmes do trio Jim Abrahams, David e Jerry Zucker, especialmente Corra que a Polícia Vem Aí.

Ícone do estilo: Leslie Nielsen, cara!

Como é:
Esse é basicamente o gênero que fez a introdução de muita gente (e me incluo aqui) ao humor nonsense. É o mais fácil de entender, já que não exige discussões profundas ou um repertório muito extenso. São praticamente desenhos animados filmados e costumam fazer muito sucesso entre a criançada justamente por causa disso.

É o mais inofensivo, mas também o mais divertido. É ideal para quando você quer apenas dar umas gargalhadas gostosas com seus amigos ou para se alegrar em um dia em que esteja mais deprê.

Embora já tenha conhecido pessoas que não gostem desse estilo, eu sinceramente não consigo entender o porquê, já que é um gênero deliciosamente descompromissado, cujo único objetivo é o humor e a diversão. Dane-se história, ideologia e frescuras do tipo. Aqui o negócio é disparar uma piada depois da outra e, às vezes, várias ao mesmo tempo. Como não gostar disso?

Sem falar que o ator Leslie Nielsen mostrou na trilogia Corra que a Polícia Vem Aí que é um verdadeiro gênio da comédia. O cara fala e faz as coisas mais absurdas, mas tudo isso com a maior seriedade, como se estivesse interpretando Shakespeare ou algo do tipo. Para mim, já se tornou impossível olhar para esse cara sem dar risada! Ele é, na minha opinião, um dos maiores comediantes da história! Um tremendo tremendão!

Se você quer se aventurar no maravilhoso mundo do humor nonsense, esse é um bom lugar para começar. Se você gosta dos desenhos animados do Pernalonga ou do Pica-Pau, é diversão garantida.

Algumas cenas marcantes:
Praticamente todos os momentos de todos os filmes Corra que a Polícia Vem Aí (até os trailers são legais). Vou dar alguns exemplos. Uma bomba explode. Quando Frank Drebin (Nielsen) chega ao local, vemos aqueles desenhos que marcam as posições que as pessoas morreram no teto, nas paredes, em posições egípcias e por aí vai.

No segundo filme, Corra que a Polícia Vem Aí 2 ½, Drebin interroga um moribundo que morre antes de falar tudo. Ele olha ao redor e pergunta “quem mais está morrendo?”. Uma mão se levanta, ele vai até lá e o moribundo repete o mesmo texto do anterior. Drebin fala “Ele já me falou isso” e o moribundo responde “Ah, tá. Onde que ele parou?”.

Em Top Gang, toda vez que alguém vai sentar em algum lugar, ouvimos um gemido de um cachorrinho. A pessoa pega o bichinho, faz um carinho e o solta. É o tipo de coisa que fica engraçado pela repetição. Ninguém ri da primeira vez, mas na quinta todo mundo já está gargalhando, pois aquele cachorrinho vai de um país a outro mais rápido que os protagonistas e aparentemente consegue habitar todas as cadeiras ao mesmo tempo.

CUIDADO: HUMOR NONSENSE GROSSEIRO

Alguns representantes: Todo Mundo em Pânico, Uma Comédia Nada Romântica.

Ícone do estilo:
Os filmes dos irmãos Wayans, do Chris Rock, do Martin Lawrence, etc.

Como é:
Isso é humor nonsense gone wrong. NÃO confunda esse estilo com nenhum dos anteriores. Algumas vezes, até pode apresentar boas piadas e mesmo ter ícones de um dos estilos “do bem” participando da obra (como a série Todo Mundo em Pânico que tem o Leslie Nielsen, por exemplo), mas contém principalmente piadas grosseiras, tratando de fluidos corporais e coisas do tipo. Esse estilo acaba afastando as pessoas do bom humor nonsense, então não é recomendado de forma alguma que você comece sua incursão por aqui. No geral, só acha graça nesses filmes aqueles adolescentes que ficam arrotando ou peidando e morrendo de rir disso. Então, como você provavelmente não é um desses, evite.

Algumas cenas marcantes:
Não dá para negar que existem algumas piadas boas por aqui. A cena que parodia Menina de Ouro em Todo Mundo em Pânico 4, especialmente, é muito boa. Infelizmente, são muito poucas para valer a pena.

CONCLUSÃO

Ufa, não esperava que esse texto fosse ficar tão grande. Espero que com esse meu pequeno trabalho, eu tenha conseguido esclarecer um pouco melhor esse estilo de humor tão genial e tão mal compreendido. Indique esse texto para todos aqueles que você quer “doutrinar” nesse mundo e torça para que, com isso, a pessoa consiga ver além das palhaçadas e dos esdrúxulos títulos brasileiros. E fico na torcida para que surja aqui no Brasil um verdadeiro representante do bom humor nonsense! E que faça muito sucesso!

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