Horizon Zero Dawn

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Se em 2016 faltaram exclusivos bacanas para o PS4, em apenas dois meses de 2017 já tivemos dois grandes jogos: o excelente Nioh e este Horizon Zero Dawn. Lado ruim? São dois RPGs, que fazem com que, ao lado de Bloodborne, o PS4 fique bem limitado nos gêneros de seus exclusivos. Lado bom? Apesar disso são dois jogos bastante diferentes e, quem diria, Horizon Zero Dawn é o mais difícil entre eles.

OLHA QUE COISA MAIS LINDA, MAIS CHEIA DE GRAÇA

Sem exagero, delfonauta, Horizon Zero Dawn é um dos jogos mais bonitos que já vi. Ele é cheio de cores vivas e seus ambientes são detalhados. O visual quando chove, então, é especialmente impressionante. Não dá para jogar Horizon sem exclamar alguns “uaus” a cada 10 minutos.

Isso é especialmente potencializado porque seu mundo, sua ambientação e, especialmente, sua história, são muito bem pensados. O jogo se passa na Terra, mas muitos séculos no futuro. A humanidade que conhecemos é chamada pelos habitantes deste mundo por “os antigos”, e eles vivem em tribos altamente religiosas, que vivem em guerra por suas crenças. O bacana é que cada uma dessas tribos tem uma cultura diferente e é um prazer explorar cada uma delas.

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Horizon Zero Dawn é uma coisinha linda

Além dos perigos humanos, o mundo é repleto de máquinas que lembram animais. Há jacarés metálicos, veados, e até dinossauros. Ninguém sabe de onde essas máquinas saíram, e embora elas vivessem em paz com os humanos até um tempo atrás, elas começaram a se tornar agressivas, tornando o mundo deveras perigoso.

Você controla Aloy, uma ruivinha porreta que foi exilada da tribo dos Nora por ter nascido sem mãe. Ela tem perguntas sobre seu passado e só poderá saber as respostas se for aceita de volta na tribo. Para isso, ela precisa passar por um teste muito difícil que a tornaria uma guerreira dos Nora, e nossa heroína passa a vida toda treinando para isso.

Esta é a toada inicial, que culmina nos testes em si em uma missão muito legal. Claro, este é a apenas o começo de uma longa jornada. Logo, Aloy se vê dividida entre dois objetivos. Um deles envolve a política local, enquanto o outro, bem melhor e mais interessante, é a busca pelo seu passado, que estará diretamente relacionado ao que aconteceu com a civilização dos antigos e com a origem das máquinas.

GUERRILLA GAMES

Se você acompanha a família Playstation há uns anos, com certeza conhece a Guerrilla Games da excelente série Killzone. Killzone 3 em especial, lançado para o PS3, foi um dos melhores jogos da geração, apresentando um jogo de ação direto ao ponto que não perdia tempo com coisas pentelhas como colecionáveis e outros vícios da indústria.

Horizon Zero Dawn é bem mais ambicioso do que Killzone, não apenas por ser um complexo RPG de mundo aberto. Se Killzone também apresentava um mundo com sua cultura própria e gráficos acima do padrão para a época, ainda tinha um gameplay simples e gostoso de jogar. Este é o principal problema de Horizon. Ele é um jogaço em vários sentidos, feito claramente com muito capricho e cuidado. Infelizmente, seu combate é terrível.

LUTANDO PARA SOBREVIVER

O combate de Horizon é tão ruim, mas tão ruim, que durante toda minha campanha, eu fiquei pensando que estava fazendo algo errado. Por exemplo, no começo do jogo, você recebe um arco e flecha. Ok, beleza. Só que o arco e flecha é tão absurdamente fraco que se você der headshots em animais genéricos como javalis, eles não morrem, simplesmente saem correndo.

As máquinas têm diversos pontos fracos, mas não são coisas claras, como a cabeça. Para saber quais são, você precisa apertar o R3, para ativar seu foco, e manter o cursor acima de cada inimigo por um segundo para destacar algumas partes em outras cores. Você pode pensar que uma vez que tenha feito isso, essas partes continuam destacadas por toda a batalha, mas em poucos segundos elas se apagam e você tem que fazer tudo de novo.

Existem dezenas de máquinas diferentes e cada uma delas tem quatro ou cinco pontos fracos diferentes, então não é algo decorável. Especialmente porque após alguns tiros, a parte em questão quebra e você precisa mirar em outro lugar. Você vai precisar usar o foco toda vez que encontrar máquinas e várias vezes em cada encontro.

Você poderia pensar que um tiro do seu arco e flecha no ponto fraco mataria as máquinas de uma vez, mas não. Cada tiro tira pouquíssima energia. Além do arco e flecha, você tem também uma lança, que tem dois ataques, um fraco e rápido e um forte e lento. O fraco é realmente fraco, parece que não faz dano nenhum nos inimigos. Já o forte faz dano leve, mas cada ataque demora uns dois segundos para acertar. E a heroína é tão frágil que em dois segundos a maior parte dos inimigos consegue te matar.

Stealth é sempre uma opção. Você pode se esconder no meio da grama e assobiar para atrair os inimigos e matá-los. Ou pelo menos é assim que deveria funcionar. Acontece que tirando as máquinas bem do início do jogo, todas as outras não morrem com o ataque stealth. No lugar disso, elas levam uns 10% de dano e ao mesmo tempo alertam todas as outras máquinas da sua presença, iniciando o combate aberto. Consegue perceber os problemas se acumulando?

Mesmo quando você está lidando com inimigos vulneráveis ao stealth, o negócio não funciona como deveria. Aparentemente, você precisa estar em uma posição bem determinada em relação ao inimigo para ativar a takedown no lugar do golpe fraco, que é feito com o mesmo botão. E é bem mais comum do que deveria você querer matar uma máquina silenciosamente e ao invés disso dar um golpinho que mal faz cócegas, mas alerta instantaneamente todos os inmigos.

Há outras armas a serem compradas, mas são coisas como estilingues. Quando vi as opções, pensei “tenho um arco e flecha e ele já é fraco, que benefício vai me trazer um estilingue?”. No entanto, estava sofrendo tanto que pensei que tinha alguma coisa errada. A essa altura já tinha mudado a dificuldade para o easy e estava sofrendo muito até nas batalhas mais banais.

QUEM DIRIA QUE ESTILINGUE SERIA MELHOR DO QUE UM ARCO?

Enfim, comprei o estilingue e constatei que ele jogava bombinhas. Era praticamente um grenade launcher. Finalmente uma arma decente, e comecei a usá-la como minha arma principal. Aí o jogo começou a funcionar melhor, e eu comecei a conseguir me defender até das máquinas mais poderosas. No entanto, não demorou para eu perceber que todos os recursos que eu usava para fazer as bombinhas estavam sendo consumidos e eu fiquei totalmente sem munição para ela, voltando a ficar limitado ao arco-e-flecha. Ou seja, o estilingue, que é a única arma que tem um dano aceitável, é também a que tem a munição mais limitada, exigindo que você a use com parcimônia. É tanto erro em cima de erro, que é incrível que o jogo tenha sido lançado com o combate neste estado.

A coisa é consideravelmente melhor quando você está lutando contra humanos. Nestes casos, o stealth funciona, você consegue matar os inimigos silenciosamente sem alertar os outros e inclusive os headshots matam a maior parte deles de uma vez. Isso deixa o jogo bem mais aprazível, ainda que quando a coisa saia do stealth se perca bastante, graças à lança muito mal balanceada, com o único ataque forte o suficiente demorando dois segundos para acontecer e te deixando vulnerável nesse período.

Eu tentei dar um jeito no combate quebrado fazendo as missões estando em níveis muito superiores aos recomendados, mas até nisso há problemas. Por exemplo, você pode fazer uma missão nível 20 estando no nível 30, e nela encontrar um combate obrigatório contra uma máquina nível 35. Em outras palavras, se você realmente fizer a missão no nível recomendado, vai encontrar um inimigo invencível e vai ter que reiniciar o jogo.

Eu fiz uma transmissão ao vivo no dia do lançamento, pegando uma sidemission inteira, desde o diálogo do início até o combate com algumas máquinas enormes. Você pode conferir o arquivo completo aí embaixo e ter uma boa ideia de como é o jogo.

THE WITCHER, FAR CRY E TOMB RAIDER

Horizon traz influências muito claras. Uma das mais claras é The Witcher 3. E veja bem, no jogo do Geraldão, o combate também não é uma de suas melhores características, tanto que sempre que eu tinha opção de completar uma missão sem luta, eu a escolhia.

Aqui nunca há essa opção, uma vez que você não pode dialogar com as máquinas. Se o jogo quiser que você lute, vai lutar e pronto. Ainda assim, as investigações, especialmente das sidemissions, lembram muito o jogo da CD Projekt Red.

Horizon Zero Dawn tem muito de Far Cry também. Você vai passar boa parte do seu tempo coletando recursos para criar munição ou bolsas que aumentam a quantidade de itens que pode carregar. Ele copia também uma função bem útil, que é a possibilidade de marcar os inimigos para saber as localizações deles. No entanto, também faz isso de forma muito errada.

Em Far Cry, basta olhar para os inimigos com os binóculos e eles ficam marcados. Aqui você precisa apertar o R3 para entrar em foco, manter o cursor em cada um dos inimigos por um segundo e só depois apertar o R2 para marcar o maledeto. É trabalho demais para algo que em outros jogos é praticamente automático.

Outro problema é que você precisa mexer no presunto de todos os inimigos para pegar recursos. Se em jogos como Tomb Raider, você faz isso de forma indolor e rápida, aqui você precisa segurar o triângulo por um segundo, para então abrir um menu no qual aparece os itens disponíveis no presunto e então você deve escolher um a um o que pegar ou apertar outro botão para pegar tudo de uma vez. É trabalho demais para algo que deveria ser automático ou quase, e experimente fazer isso no meio de uma batalha contra um dinossauro mecânico. E isso não é opcional, você sempre precisa de recursos.

Completando as decisões questionáveis de design, você precisa consumir um item para realizar fast travels. Sério, Guerrilla? Para ser justo, o item em questão não é raro e você o encontra com frequência, e lá pela metade do jogo, você pode comprar uma versão dele que não é consumível e se torna ilimitado, mas isso demonstra os problemas sérios de design que estão presentes em Horizon Zero Dawn.

Uma coisa que preciso elogiar é que pelo menos não exageraram no efeito RPG. Você não passa metade do seu tempo de jogo comparando estatísticas de armas e roupinhas. Há alguns tipos diferentes de cada uma delas e três versões de cada uma, que são upgrades. Então se você gosta de uma roupa que te protege de fogo, não vai ter que comparar uma com a outra, sabe imediatamente que a roupinha roxa é a que tem a maior proteção. O mesmo pode ser dito de uma arma. Se você gosta do estilingue, o roxo é o melhor, não precisa comparar estatísticas.

WALKING SIMULATOR

O que me deixou cabreiro é que quando não há combate, o jogo é bem legal. Explorar as instalações e revelar os mistérios da história são partes bem fortes do jogo. Muito disso se deve ao capricho absurdo no audiovisual e a um roteiro intrigante e envolvente.

Quando aparecem inimigos, no entanto, especialmente as máquinas, vai tudo por água abaixo. O problema do combate não é ele ser difícil. Nioh é difícil, mas você sempre tem os recursos necessários para sobreviver. Aqui você pode se ver em uma batalha obrigatória contra uma máquina enorme muitos níveis acima do seu sem ter recursos para fazer munições que causem dano nela. E isso é realmente imperdoável. Horizon Zero Dawn foi a primeira vez que eu joguei um AAA torcendo para que ele fosse um walking simulator.

Pela história, pelo visual e pela ambientação, vale muito a pena. Este é um mundo caprichado, feito por uma empresa talentosa que entende do riscado. Infelizmente, para curtir essas coisas, você precisa suportar um combate que nem parece ter sido desenvolvido pela mesma empresa.

Se na parte narrativa Horizon Zero Dawn apresenta o melhor que a indústria dos games pode oferecer, seu combate é quebrado e está na linha das mecânicas de jogos como Surgeon Simulator. É um caso inédito na história dos games, uma combinação do melhor e do pior de uma indústria em um único jogo, então se decidir arriscar, já vá avisado que para curtir o que Horizon tem de bom, você vai precisar sofrer bastante.

As imagens nesta matéria foram capturadas no PS4 standard.

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