Eu confesso que nunca fui um grande fã de FPSs. Acho que em toda a minha vida gamer, o único FPS que eu zerei na vida foi Darkwatch, um game um tanto obscuro lá de 2005.

Ainda assim, é um gênero bastante popular e com certeza tem lá suas qualidades. Basta ver o tanto de gente que joga games como Counter Strike e Overwatch. Então quando High Hell chegou aqui na redação, achei que seria uma boa encarar ele como um desafio para “expandir meus horizontes” e “romper meus limites”, expressões que escuto muito nas palestras motivacionais ditatoriais diárias aqui na redação.

PÉ NA PORTA, TIRO NA CARA

Em High Hell você controla um sujeito que precisa derrubar sozinho uma organização criminosa satânica, liderada pelo terrível Bo$$. Para isto, você precisa passar por 20 missões (mais um tutorial marcado como 00) e derrotar hordas de capangas mascarados, robôs, cães, chimpanzés e mais um monte de absurdos que você mal pode imaginar.

Você tem apenas uma arma com munição infinita e não precisa nem recarregá-la. Você também conta com um chute poderoso que estoura portas. E para deixar as coisas ainda mais divertidas, a maioria dos seus adversários morre com apenas um único tiro em qualquer parte do corpo.

Você tem uma arma e um pé. Precisa de mais?

Cada missão possui ao menos um objetivo primário e uma vez que você o cumpriu, pode terminar a missão pulando de qualquer parte do cenário em direção ao céu aberto. Seu personagem cairá de paraquedas e a mensagem de missão cumprida aparecerá.

Porém sua pontuação também será incrementada se você cumprir outros requisitos, como matar todos os inimigos de uma fase ou cumprir objetivos secundários, que vão de sabotar a Wi-Fi da corporação até resgatar bodes virgens!

Achou que eu estava brincando?

Falando assim parece que é muito fácil, mas a verdade é que o jogo é bem difícil, pois seu personagem morre com apenas três tiros e as salas em geral são lotadas de inimigos atirando freneticamente, com alguns deles posicionados em lugares não muito óbvios. Cada inimigo morto recupera um pouco da sua vida, mas você precisa matar um bocado deles para poder aguentar um novo tiro.

Não há escudos, armaduras ou power-ups. Em algumas fases é até possível encontrar uma bateria que recarrega totalmente a sua vida, mas elas em geral estão muito bem escondidas.

Então, apesar do game inicialmente parecer simplesmente “corra e atire”, com o tempo você vai ver que ele é cheio de rotas alternativas e que há sempre mais de um jeito de se passar pelos corredores infestados de inimigos. Mas se quiser simplesmente chegar chutando e atirando, não tem problema também!

CRIATIVIDADE ENCHARCADA DE NEON

Verdade seja dita, à primeira impressão High Hell parece ser um jogo pitoresco, sem polimento algum: os personagens são quase cilíndricos, não possuem dedos e nem expressão alguma nos rostos. Cores como rosa choque e vermelho neon dominam a paleta de cores. Na verdade, o game parece mais um protótipo do que algo finalizado. Mas não se deixe enganar pelo design proposital, pois o game é cheio de detalhes muito bem pensados.

A ambientação é simplesmente hilária e ao longo do game você vai encontrar um monte de coisas que não fazem sentido algum estarem lá, como bananas, salsichas, piscinas de bolinhas, etc. E para os complecionistas, ainda há colecionáveis muito bem escondidos pelo cenário.

Sempre que você mata um inimigo, o corpo dele sai voando como se fosse um boneco de pano e isso é engraçado pra caramba. Os corpos não somem, o que significa que você pode brincar com eles o quanto quiser.

A maioria dos inimigos usa terno e estão em posição de guarda, mas ao longo do game você vai encontrará alguns distraídos mexendo em churrasqueiras ou só de cueca. Em uma das missões eu encontrei um chuveiro aonde havia alguns capangas totalmente nus. E sem censura alguma!

Entre as missões sempre tem uma espécie de “minigame” interativo hilário. Em um deles você pode tentar acertar uma cesta jogando bolas de basquete, bananas e corpos de inimigos. Em outros você pode ficar atiçando os cachorros levantando uma bolinha pra cima e pra baixo e assim vai.

E como se tudo isso não bastasse, o jogo ainda tem a opção de fazer você customizar o rosto do protagonista com uma imagem à sua escolha!

Provavelmente o protagonista mais bonito de um game.

CHEFE DO CAPETA

Como eu disse no começo desta matéria, eu sou um jogador de FPS iniciante, então é claro que tive uma certa dificuldade em fatores que a maioria das pessoas já está acostumada. Mas mesmo com alguns tropeços, não senti que o jogo é muito difícil e consegui me adaptar bem a ele. Ainda assim, creio que o jogo também apresente uma dose considerável de desafio que agradará aos mais experientes.  Isto é, até chegar ao chefe final.

Em High Hell, a cada cinco missões enfrentamos um chefe. Assim como todo o resto do game, eles são bastante criativos e exigem uma certa estratégia além de pular e agachar. Mas o último chefe, Bo$$, é simplesmente ridículo.

A parada é assim: você está em uma sala pequena cheia de dinheiro. No centro da sala tem um pilar e Bo$$ está no topo deste pilar. Há alguns lances de escada em zigue-zague e você precisa galgá-los para colocar o cretino em sua mira. Até aí não parece nada demais, o problema é que Bo$$ atira mísseis teleguiados sem parar e o pilar em que ele está fica girando com lasers cortantes pra todo o canto.

É realmente desesperador.

Eu tentei, tentei e tentei inúmeras vezes. Procurei algum jeito mais “esperto” de derrotar o chefe, alguma passagem secreta ou algo assim, mas simplesmente não há. É uma batalha que exige um nível de destreza tão perfeccionista que aposto que vários jogadores mais experientes vão se descabelar de raiva. E o pior de tudo: ainda tem mais uma batalha depois disso!

É bem triste ver toda a diversão de um jogo se esvair por causa de um chefe com uma dificuldade absurda e infelizmente este é um caso bem recorrente hoje em dia.

OS 666 VEREDITOS FINAIS

Apesar de um chefe final completamente pentelho, High Hell ainda assim é um jogo bastante divertido, mesmo para quem é péssimo em FPSs como eu. O visual “mal acabado” pode ser estranho pra muita gente no começo, mas a fluidez do controle, o desafio, a trilha sonora bem maneira e, claro, o humor pastelão, com certeza fazem o jogo valer a pena. Só acho que não vai ter muita gente com paciência para encarar o último chefe.