Fortaleza Impossível: um delicioso Sessão da Tarde da literatura

Quando games cabiam num disquete.

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Delfos, Fortaleza Impossível

Sabe aqueles livros que, embora não sejam grandes obras da literatura, são tão gostosos de ler que você não consegue soltá-los? Que não contam uma história necessariamente excelente, mas que te envolvem tanto, de uma forma tão familiar, que deixam um sabor de Sessão da Tarde versão literária? É exatamente este o caso com Fortaleza Impossível.

O livro de Jason Rekulak utiliza de sua ambientação e trama para causar uma grande identificação em quem foi adolescente nos anos 80, tornando-se irresistível, ainda que, analisando friamente, não esteja tão longe assim do descartável.

Passado numa época sem internet, onde garotos com os hormônios em ebulição tinham de cortar um dobrado para ver uma simples mulher pelada, é impossível, para quem passou por essas dificuldades de tempos menos conectados, não se identificar e solidarizar com essa dura situação.

Na trama, passada em 1987 numa pequena cidade de Nova Jersey, um grupo de garotos está louco para colocar suas mãos numa edição da Playboy onde saíram fotos de uma apresentadora de TV para a qual eles pagam um pau. Eles têm 14 anos e não podem comprar a revista. Passam então a elaborar planos mirabolantes para conseguir uma cópia.

Ao mesmo tempo, temos a história paralela de Billy, um dos garotos. Ele tem um Commodore 64 e usa suas habilidades com o computador para programar seus próprios games. Ao conhecer a filha do dono da loja onde a Playboy é vendida, ele descobre que a mina também manja de programação.

Delfos, Fortaleza ImpossívelE juntos passam a trabalhar para melhorar um dos games de Billy para inscrevê-lo numa competição de jovens talentos da programação. Só que os amigos de Billy ainda querem muito ver a mina pelada, o que vai levar a um esquema para invadir e roubar a revista da loja da nova amiga de Billy. Isso pode colocar sua nova amizade em risco e ainda gerar uma encrenca bem maior do que poderiam imaginar.

Há o fator nostalgia, é claro, principalmente para quem curtia computação e os primeiros anos dos computadores pessoais, que tinham uma memória e capacidade de processamentos menores que qualquer calculadora de bolso atual.

Os personagens são muito bem construídos, os diálogos são espertos e os capítulos são, em sua maioria, curtos, aumentando a dinâmica da leitura.

Também há muitas referências pop a músicas, séries e filmes, mas elas nunca tomam o centro das atenções. E claro, a trama de aventura juvenil que não faria feio se fosse transformada num filme para passar nas tardes da década de 80. Ainda ganha um bônus por nem sempre tomar caminhos óbvios e ter uma reviravolta que a deixa ainda mais bacana.

Não há muito mais o que falar. A trama e sua condução têm toda essa pegada de um bom Sessão da Tarde das antigas. E ainda tem a temática e as referências para fisgar qualquer nerd que aprecie a boa cultura pop.

É uma leitura ligeira. Eu me envolvi tanto com a história que acabei por matá-lo, de cabo a rabo, em poucas horas. E quando um livro faz você não querer largá-lo até chegar ao fim em uma única sentada, é sempre sinal de coisa boa. Logo, pode gastar umas horinhas com Fortaleza Impossível sem medo, a diversão é garantida.

CURIOSIDADE:

– Como parte da campanha publicitária do lançamento do romance, Fortaleza Impossível, o jogo que Billy está desenvolvendo dentro da história, foi criado de verdade e com a mesma estética audiovisual como se tivesse sido realmente programado num Commodore 64. Você pode jogá-lo no site do autor, jasonrekulak.com.