Exclusiva: U.D.O. – Udo Dirkschneider

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Deve ter algum problema com a Alemanha. Todas as (felizmente, poucas) entrevistas que fizemos até agora que ficaram fracas por causa da antipatia do entrevistado foi com um artista alemão. Pois mais uma acaba de ser acrescentada a esse seleto rol: a que você lerá em breve com Udo Dirkschneider, a gloriosa bolinha de queijo (como foi carinhosamente apelidado neste texto clássico delfiano – a segunda resenha de show que publicamos).

Tudo já começou de forma conturbada. Primeiro, o dia originalmente marcado foi cancelado. Depois, por uma confusão interna da gravadora, o baixinho furou. Tentamos fazer, então, por e-mail, mas alguns dias depois, o responsável pela NB disse que o Udo tinha respondido as perguntas de forma monossilábica e que era melhor remarcarmos por telefone para que ficasse uma matéria melhor. Remarcamos e a entrevista finalmente rolou, mas veja só, o cara continuou respondendo de forma monossilábica.

Como sempre fazemos, tínhamos preparado uma cacetada de perguntas abrangendo toda a carreira do cara em ordem cronológica. Mas logo no início do papo, o cara reclamou que essa não era uma entrevista do Accept. Aí, como dizem os amigos do Judão, eu mordi. Se o cara não tem visão e acha que a única forma de divulgar seu trabalho é falando sobre o disco mais recente, não sou eu que vou ensinar isso a ele. Afinal, o MEU trabalho é pesquisar e criar perguntas que sejam interessantes para os fãs, não falar sobre o que o cara acha melhor. Portanto, desencanei completamente de todos os assuntos interessantes e curiosidades que tinha pesquisado, joguei fora todo meu calhamaço de perguntas sobre o passado e falamos apenas do presente e do álbum Mastercutor. Com isso, apenas 15 minutos da meia hora combinada foram aproveitadas, afinal, eu mesmo tenho mais o que fazer com o meu tempo do que conversar com alguém que não quer falar.

E deixo a pergunta a você, caro delfonauta. Qual entrevista você acha que divulgou melhor o trabalho do artista: essa que você lê abaixo, ou essa aqui, onde a Doro fez praticamente uma autobiografia, falando desde a sua infância até exatamente um dia antes da conversa? Sinceramente, não tenho a menor dúvida de que a Doro aproveitou bem mais o espaço oferecido pelo DELFOS, arrecadou muito mais fãs com essa entrevista e vendeu muito mais discos graças a ela do que o Udo fará. Às vezes um pouco de simpatia pode ajudar bastante. E o Udo, sendo um veterano da cena metálica, já deveria saber disso.

Imagino que essa introdução pode causar estranhamento, sobretudo para quem está conhecendo o DELFOS com esse texto, já que é comum os jornalistas elogiarem a entrevista que você está a ponto de ler. Eu mesmo fiz isso no passado, mas agora que nós não somos mais nenhum sitezinho de fundo de quintal, sinto que ficar inventando elogios para algo que está inferior ao que poderia ser vai contra a relação que eu quero ter com o público e contra tudo que lutei para criar nesses anos.

Tem um motivo pelo qual o DELFOS é um dos sites em que o público mais confia e esse motivo é a honestidade com que abordamos todos os assuntos e o fato de não tratarmos os fãs como idiotas ingênuos. Quando o público percebe quão sinceros nós somos em tudo que fazemos, conseqüentemente passa a confiar no site e tem certeza que, quando elogiamos alguém, não é por jabá ou por qualquer outro motivo obscuro. Logo, não vou mentir. Você pode até gostar da entrevista abaixo, mas a julgar pela carreira e importância do cara (e pela pesquisa que eu fiz), essa conversa renderia muito mais e eu estava pronto para que isso acontecesse. Infelizmente, o vocalista alemão optou por uma matéria tradicional, provavelmente quase igual às que você vai ler nas revistas mensais brasileiras. Eu já sabia que a maioria das pessoas se contenta mesmo com a mediocridade. Eu só achei que um vocalista com o currículo desse cara não se encaixaria nesse grupo. A entrevista abaixo não está ruim, está apenas normal – mas o DELFOS sempre tenta ser melhor do que o normal em tudo que fazemos, daí a decepção.

E para aqueles que estão conhecendo o site agora e estão estranhando tamanha sinceridade, digo apenas algo que já disse muitas vezes: um jornalista trabalha para o público, não para a gravadora ou para um artista. Publico essa matéria com a consciência tranqüila de que o meu trabalho eu fiz bem. O chato é que, ao contrário da maioria dos textos que faço, que é algo individual, em uma entrevista é preciso da colaboração de uma outra pessoa. Que, no caso, não tinha muito a falar. De qualquer forma, divirta-se com a entrevista abaixo (no final, como sempre, você confere uma mensagem em áudio do Udo para o público do DELFOS – só que infelizmente, quando fui editá-la para cortar o resto da conversa, a qualidade sonora diminuiu muito, e não consegui descobrir o motivo). E depois dê uma navegada no restante dessa seção e veja o que uma conversa com um artista simpático e consciente de como divulgar bem seu trabalho pode render. Recomendo, principalmente, as entrevistas com Edguy, Hammerfall e W.A.S.P.. Vamos ao Udo:

Oi, aqui é o Udo Dirckschneider.

Oi, Udo, aqui é o Carlos, como vai?
Ah, estou bem, muito obrigado.

Então, como foi seu primeiro contato com o Rock e o Heavy Metal?
Ah, isso foi há muito tempo (risos). Foi no final dos anos 60, quando o Hard Rock começou, com os Rolling Stones e, alguns anos depois, Jimi Hendrix e coisas assim.

Você pode contar um pouco sobre o começo do Accept, os primeiros shows, primeiros contratos?
Puxa, vou tentar dar uma resumida (Nota: ele realmente conseguiu). Nós entramos em uma competição da Alemanha que dava uma chance de fazer uma demo. Era uma produtora que mandou para uma gravadora e daí a gente teve nosso primeiro contrato.

O que você lembra desse início, quando o Metal estava começando a aparecer na Alemanha?
Ah, sim. Não tinha muitas bandas de Hard e Heavy Metal. Tinha praticamente só o Scorpions e o Accept. Tinha muito Hardcore e outras bandas mais pesadas, mas não era Metal, era algo mais experimental. Acho que o Scorpions e o Accept foram as primeiras bandas a fazer sucesso no exterior e a serem chamadas de Metal alemão ou Hard Rock ou como você quiser chamar.

Por que vocês decidiram usar trechos de música clássica em Metal Heart?
(pausa) Nós vamos fazer uma entrevista sobre o Accept ou sobre o U.D.O.? (ri sozinho)

Eu estou seguindo uma ordem cronológica e vamos chegar logo ao Mastercutor, mas se você quiser podemos ir direto a ele.
Ok. (gaguejando e deixando difícil de entender o que fala) A música clássica na Metal Heart não foi nada especial. O guitarrista estava procurando por solos e achou que se encaixava bem na música. Não foi por acidente.

(Nota: a partir daqui, passei a riscar a maior parte das perguntas e a colocar na roda apenas as que abordavam assuntos mais recentes e menos obscuros) Ok. E por que você decidiu chamar a banda com o seu nome?
O nome Udo já era bem conhecido, eu não queria um nome de banda.

As letra U.D.O. têm algum significado individual ou é apenas o seu nome mesmo?
Não, é só o meu nome, mas você pode dizer que é United Democratical Organization (risos).

Por que o nome Mastercutor?
O nome originalmente era Master Executor, mas Master Executor não era legal para cantar. Aí tem sempre um consultor das letras e ele sugeriu que eu cantasse apenas Mastercutor.

Qual é o lado errado da meia-noite? (referência à música The Wrong Side of Midnight)
É sobre esquecer os significados, as culturas, tipo Egito, Maia e tal. É disso que fala a letra dessa música.

O álbum começa com uma introdução bem humorada. Por que você decidiu fazer isso?
O Mastercutor é um showman e isso aconteceu meio por acidente, só durante as gravações, quando pensamos, “ok, ele é um showman” e nós queríamos um conceito para o álbum e daí achamos que seria interessante de abrir o álbum como um programa de TV.

Você gosta de misturar humor com música?
Sim, quer dizer, por que não? Se tiver um assunto interessante para colocar no CD.

Crash Bang Crash parece mais um Hard Rock e tem uma melodia mais pegajosa. Por que você decidiu terminar o álbum com uma música tão diferente das outras?
É, essa música fala que enquanto você está vivo você não está morto, sabe? Esse é o sentido da música. E o Mastercutor também fecha o disco, tipo dizendo “até a próxima”. Normalmente você fecha com uma balada ou algo assim, mas decidimos fazer algo diferente dessa vez.

O encarte também tem um conceito bem interessante. Como surgiu a idéia?
Essa idéia foi da menina que fez a capa. Ela fez um ótimo trabalho. Ela teve essa idéia do Mastercutor parecer bravo, mas os reality shows estúpidos da TV eram a idéia principal e ficamos bem satisfeitos com isso.

O encarte que a gente recebeu tem as letras fora de ordem. Isso é intencional ou é um problema da nossa versão?
Fora de ordem? Não, elas não estão fora de ordem. Não na Alemanha (risos).

Deve ser um problema com a versão que recebemos então.
É, acho que sim.

Como você escolhe as músicas que vai tocar ao vivo?
Não sei ainda. Até agora fizemos Mastercutor, The Wrong Side of Midnight e We Do – For You. Quando começarmos a turnê oficialmente, no meio de setembro, vamos ver. Mas é claro que vamos tocar Mastercutor e The Wrong Side of Midnight, que são ótimas músicas. Mas também vamos tocar Tears of a Clown, One Lone Voice, Vendetta e coisas assim. (Nota: acho que ele não entendeu a pergunta).

Você tem uma cota para músicas do Accept, tipo tocar só quatro ou cinco músicas ou isso varia de show para show?
A gente não toca muitas músicas do Accept. Quando fizermos a turnê oficial, vamos tocar só umas duas ou três.

Você tem planos de vir ao Brasil nessa turnê?
Não nesse ano, mas no começo do ano que vem vamos fazer uma turnê grande pela América do Sul e daí devemos ir para o Brasil.

Isso já está confirmado?
Que nós vamos para a América do Sul sim, mas não posso dizer exatamente quando. Talvez a gente comece pelos EUA e daí descemos para o Sul ou o contrário. Não sei ainda, estamos planejando tudo.

Como foi regravar Head Over Heels com o Hammerfall?
Eles me convidaram. Eu conhecia os caras muito bem, então foi muito divertido.

Há alguns anos, a Nuclear Blast lançou alguns álbuns tributo ao Accept. O que você achou deles?
Foi muito divertido ouvir aquelas versões para músicas do Accept. Eu gostei bastante deles.

Que álbuns você recomendaria para um novo fã que está conhecendo seu trabalho agora?
Ah, essa é uma pergunta difícil (risos). Tem muitos deles. Nós sempre dizemos que os últimos são os melhores. Nós demos tudo que pudemos em todos eles, mas eu diria que o último é o melhor.

Balls to the Wall foi anunciada como parte do jogo Guitar Hero: Rock the 80’s. O que você achou disso?
(longa pausa) Balls to the Wall o quê?

Vai fazer parte do jogo Guitar Hero. Você conhece esse jogo?
Não.

É um jogo onde você toca a guitarra em algumas músicas de Rock. É bem divertido.
Ah, eu não sabia. Mas o que eu posso dizer? Balls to the Wall foi o álbum que trouxe sucesso mundial ao Accept, até nos EUA. É uma música muito forte e a gente a toca até hoje com o U.D.O.. Tem um riff muito pegajoso, sabe?

Você sabia que tem um mangá japonês com um personagem que homenageia o seu nome?
Não, não sabia (risos).

O mangá chama Bastard!! e o personagem chama Dark Schneider.
Ok (risos). Interessante.

Qual você acha o ponto mais alto da sua carreira?
O ponto mais alto é o momento atual. Estou muito feliz hoje com o U.D.O. Nós estamos, de novo, há 10 anos na estrada e fazendo álbuns. (Nota: infelizmente não consegui entender o que ele respondeu como sendo o ponto mais baixo).

Você vê o U.D.O. como uma continuação natural do Accept ou você acha que se a banda tivesse ficado junta teria ido em uma direção diferente?
Acho que teria suas semelhanças, mas o Accept tinha cara de banda. Hoje o Stefan Kauffman está comigo, então eu diria que sim, de certa forma o U.D.O. é uma continuação do Accept.

Quais são as suas músicas favoritas, tanto no geral, quanto nas bandas das quais você fez parte?
Isso é muito difícil. Do Accept eu gosto de Metal Heart, mas do U.D.O., teria que dizer que gosto de todas. Já no geral, eu gosto de Judas Priest, Ozzy Osbourne. Não consigo escolher só algumas músicas. Também gosto de Dio. Eu gosto de tantas coisas, não consigo dizer só algumas, são muitas.

Para terminar, queria que você deixasse uma mensagem para o público do Delfos.
O que posso dizer, estou ansioso para voltar ao Brasil no começo do ano que vem. Nós já fizemos dois shows no Brasil que foram muito bons e espero que possamos fazer mais. Vejo vocês lá. (Baixe o áudio dessa mensagem aí embaixo).