Exclusiva: Rellyk – Carluno Corchez

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Introdução, digitação e condução da entrevista por Bruno Sanchez. Perguntas por Carlos Eduardo Corrales e Bruno Sanchez.

Durante esses mais de três anos de DELFOS, uma entrevista com o Rellyk, o maior nome do Metal nacional e uma das bandas mais influentes do mundo, sempre esteve em nossa lista de prioridades.

Amado por todos os verdadeiros fãs de Heavy Metal, o Rellyk começou em 1967, em São Paulo, e estourou como a primeira banda do gênero. Detentora de vários recordes ao longo da carreira, os caras foram grandes pioneiros em tudo e entrevistá-los, além de uma grande honra, é uma terrível responsabilidade, pois ficamos cara a cara com Carluno Corchez, vocalista e fundador, que ao lado do parceiro Alarico Aritnem (guitarrista) criou e forjou esse estilo que tanto amamos.

Conheci o Rellyk ainda no colégio, durante a adolescência, e este foi um dos motivos que me aproximou do Carlos Corrales, o criador do DELFOS. Eram intervalos e madrugadas conversando longamente sobre o som da banda, os principais álbuns, o mascote Tibúrcio (um simpático morcego criado antes mesmo de um certo Eddie) e o sonho para que a banda voltasse após sua parada em meados dos anos 90, graças à terrível onda grunge que vitimou tantas bandas de Rock. Divido com vocês agora, esse sonho adolescente realizado: poder conversar de perto com um dos meus ídolos.

Muitos citam o Black Sabbath como a primeira banda de Metal, mas o Rellyk começou alguns anos antes, em 1967. Como foi esse começo?
O Brasil ainda era um país muito ligado ao Rock dos anos 50, aquela baboseira de Jovem Guarda e tudo mais. Nós viemos para acabar com toda essa palhaçada mostrando qual era a verdadeira alma do Rock ‘n’ Roll para a playboyzada. Na época, não existia um som tão pesado quanto o nosso, nem o Black Sabbath existia. Basicamente ligávamos nossas guitarras nos amplificadores e o Alarico Aritnem, o primeiro guitarrista, tinha um pedal de distorção Squirrel FX, daqueles primeiros modelos que os caras do Kinks usavam, então nosso som saía poderoso, nada parecido com o que os brasileiros conheciam. Começamos tocando em festivais de colégios, fomos expulsos de vários inclusive (risos). Depois fomos para os barzinhos e a banda começou a estourar. Tocávamos sempre no Algazarra, na Augusta (famosa rua de São Paulo), até que gravamos nossa primeira demo e as coisas começaram a acontecer.

Já existia uma cena roqueira em São Paulo?
Na época, a TV Record tinha um programa voltado para a Jovem Guarda e na Bahia, tinha um começo do movimento dos Novos Baianos, mas nada era parecido com o nosso som e os primeiros fãs que conquistamos, ainda nos anos 60, são fiéis até hoje. Foram os primeiros headbangers da história (risos).

Aliás, é verdade que vocês foram os primeiros a utilizar esse rótulo no refrão da música Bangin’ To Rell, que dizia “Headbangers know it well / Bang your head to Rell”?
Bom, o termo headbanger não era algo muito conhecido. Para ser sincero não me lembro de ninguém utilizando antes da gente. Mas o público sempre acompanhava nossos shows balançando a cabeça para frente e para trás, eram os famosos “bate cabeças”, como os chamávamos nos anos 60. Então o nome headbanger surgiu naturalmente, já que cantávamos em inglês e tal. A gente nunca pensou que fosse pegar.

Por que a escolha do nome “Rellyk”?
Bom, originalmente, nossa banda se chamaria “Killer”, uma palavra forte, mas meio clichê dentro do Rock, basta ver quantas bandas existem com esse nome por aí hoje em dia (risos). Malditos posers sem criatividade! (mais risos) Então em uma conversa por telefone com o Alarico, invertemos a palavra e chegamos ao Rellik, com “i” mesmo. O “y” veio por causa de uma namorada minha na época, que era chegada em numerologia e achava que o nome daria mais sorte. Ela tinha razão! Obrigado, Adelina!

Em 1968, vocês gravaram a demo Just Put The Nail On, talvez a demo mais famosa da história, ao lado da Soundhouse Tapes do Maiden, pois continha as hoje clássicas Straight To Eternity e Dark Fog. Como foi a gravação e composição desse clássico?
Basicamente foram as primeiras músicas que escrevemos, ainda na época do colegial. Colocamos a idéia no papel, viabilizamos os custos e foi isso. Gravamos em um estúdio perto de casa, onde o Sérgio Reis gravava também quando ele ainda era um cantor de Rock (risos). Como as pessoas mudam, né? Mas quem ama mesmo o Rock, sempre permanece fiel ao estilo. Straight to Eternity foi inspirada pelo medo que eu tinha de ter que ir à guerra, coisa que sempre achei extremamente estúpida. Muita gente considera a Straight to Eternity o primeiro Metal Melódico da história, por causa dos acordes abertos no refrão e daquela melodia bonitinha, tipo (cantando) “Spread your wings and fly / Straight to Eternity”, manja? Dark Fog foi uma idéia do Alarico. Ele era apaixonado por uma garota chamada Larissa e ela nunca deu muita bola para ele, então ele fez essa relação com uma névoa escura. Aliás, essa foi a música que influenciou toda uma geração e tocava em várias rádios. Hoje em dia, tá cheio de banda de Metal que usa “Dark” nas composições e boa parte deles nem sabe porque isso foi relacionado ao Rock. E foi por nossa causa.

Por que a idéia de não cantar em português?
Que me desculpem os puristas, mas o idioma do Rock é o inglês. Rock em português soa estranho, perde a poesia, é difícil explicar, mas a coisa não funciona. Desde o começo, pensamos que nossas músicas deveriam ser em inglês e assim foi. Se Deus é brasileiro, Satã sem dúvida é americano! (risos)

Na música “In Rell We Trust”, de 1970, vocês utilizaram pela primeira vez a palavra Heavy Metal no sentido musical da coisa. De onde veio a inspiração?
Das notas de dólar que tem aquilo de “In God We Trust”. Sempre achei aquilo uma grande bobeira e se tem que confiar em alguém, tem que ser na música, saca?

Mas de onde veio a inspiração para o termo “Heavy Metal”?
Ah, sim, bom, nosso som era pesado, então a palavra “Heavy” surgiu naturalmente. O termo Metal soava como algo que complementava essa experiência. Na tabela periódica, são os termos mais extremos, o limite aonde o ser humano poderia chegar. Digo mais, era o limite onde Deus poderia chegar e nós ultrapassamos esse limite. Portanto, nada mais justo do que batizar nosso som de “Heavy Metal”. Se Deus é quem cria algo, nós somos os verdadeiros deuses do Metal, já que criamos o estilo.

Como foram as reações ao lançamento do primeiro álbum, Welcome To Rell, em 1969?
Foram bem distintas. Lógico que os falsos não entenderam a nossa proposta e logo torceram o nariz para a banda. Não conseguimos tocar nas rádios porque ninguém nunca tinha ouvido nada parecido e os ouvidos de algumas pessoas sangravam quando ouviam nosso som. Mas acho que no geral foi um belo começo. Éramos jovens imaturos, achávamos que poderíamos mudar o mundo. Bom, para falar a verdade nós mudamos, mas na época éramos apenas moleques utópicos.

Vocês tiveram problemas com o regime militar e com a censura?
Olha, para falar a verdade, nesse começo não. Os militares gostaram da música The March Of Sgt. Death (risos). Não sei porquê, mas eles achavam que apoiávamos o regime militar, mas em nossas letras sempre deixamos bem claro que a liberdade de expressão é um fator fundamental para o desenvolvimento cultural de uma nação. Desafio alguém a procurar alguma letra a favor da ditadura ou dos militares em nossos álbuns. Essas acusações são daqueles falsos babacas que se perderam pelo caminho. Bando de posers que nem aprenderam a falar inglês.

Em 1971, vocês fizeram um show para 77.000 pessoas no extinto estádio das Araucárias, no Tremembé, como foi esse show?
Nessa época já estávamos bem mais profissionais e a coisa começou a tomar forma mesmo. Reservamos o estádio com um mês de antecedência e a venda de ingressos esgotou em dois dias. Pessoas de todas as Américas vieram ver o nosso show e somos muito orgulhosos por isso. Naquela época, não era comum as bandas brasileiras darem shows fora daqui. Fomos no Chacrinha fazer a divulgação, avisamos que seria a primeira super produção em território nacional e, de fato, foi. Que show foi aquele, bicho? O exemplo perfeito de interação entre banda e público. Tocamos nossos primeiros dois álbuns na íntegra, levamos o público ao delírio. Eles cantaram junto até as músicas do nosso terceiro disco, Rell Awaits, que ainda não tinha saído. Como eles conheciam eu não sei (risos).

Naquela época não tinha Internet para o pessoal baixar as músicas antes de sair.
É, bicho. Bons tempos.

Você é contra a Internet?
Contra a Internet não, sou contra roubos, seja de propriedade intelectual ou material.

Aliás, o Slayer baseou o Hell Awaits no seu Rell Awaits, não foi?
Sim, na verdade o Rell Awaits foi um álbum muito famoso no Brasil, mas que não teve um lançamento adequado no exterior. Só em 1993, quando nossos álbuns foram relançados mundialmente com os bônus é que o grosso do público o conheceu. O álbum do Slayer saiu em 1985, se eu não me engano e, pôxa, encaro esse nome como uma homenagem, tanto que nem pensamos em algo na esfera judicial. Espero estar certo (risos).

Uma das lendas sobre o Rellyk, diz respeito à música PHD, que muitos julgavam ser alguma sigla para algo obscuro como Praise Hell Devil ou algo do gênero. Já ouvimos diversos significados. Afinal de contas, o que significa PHD?
Era por aí mesmo. PHD significa Personal Hell Dementia. Eu tava numas de misticismo naquela época e acreditava que, se existisse algum tipo de inferno, seria um inferno pessoal, criado especificamente para fazer VOCÊ sofrer, ou seja, seria uma demência. Daí foi só traduzir e eu dei sorte que deu essa sigla bonitinha. Mas quando eu estava gravando os vocais, comecei a ouvir vozes atrás de mim, tipo um backing vocal demoníaco e fiquei morrendo de medo. Nunca mais quis falar de inferno depois disso. Aliás, esse backing fantasmagórico acabou entrando na versão final da música.

Por que a idéia de lançar um álbum triplo ao vivo?
Precisávamos registrar esse momento né, Bruno? Não é sempre que você faz um show para 77.000 pessoas. Até hoje, esse público é um absurdo, o Brasil nunca tinha visto nada igual. Esse foi o show que possibilitou a vinda do Alice Cooper nos anos seguintes. Saímos na revista Rolling Stone inglesa como um dos recordes de público, só perdíamos para os Beatles mas aí também não dava porque éramos muito feios e nunca atraímos as menininhas (risos). Foram 77 mil machos no estádio! (mais risos) O importante sempre foi o nosso som e não nossa aparência. Os ingleses que fiquem com as suas boy bands roqueiras.

Como surgiu a idéia de usar maquiagem e de não deixar ninguém ver seus rostos reais?
A inspiração veio do teatro Kabuki japonês. Acho que quando subimos nos palcos, temos de nos transformar, criar um personagem ali para encantar e divertir o público. Nós trabalhamos para eles e sempre temos que dar 101% de nós sobre os palcos. A verdade é que éramos tímidos no começo, não sabíamos como lidar com o assédio dos fãs, então era mais fácil criar um personagem, vestir uma máscara, do que viver uma vida de Rock Star. Desta forma, poderíamos passear na rua sem que nos reconhecessem.

É verdade que Gene Simmons estava presente no show do Araucárias e ficou impressionado com a pirotecnia e a réplica do King Kong que vocês lançavam de um helicóptero?
Sim, na época Gene estava começando com o Kiss e o produtor deles sugeriu que ele viesse ao Brasil conhecer o Secos & Molhados pela maquiagem e todos os efeitos que eles usavam nos shows, mas quem impressionou o cara fomos nós mesmo. O número do King Kong até hoje é um dos pontos altos de nosso show. Muitas pessoas nos perguntam como fazemos e esse segredo vai morrer conosco (gargalhadas). Verdade seja dita, o único King Kong material realmente grande já feito foi o nosso. (risos)

Em 1974, vocês processaram o KISS pela utilização de maquiagens, o que deu esse processo?
Bom, você passa cinco anos utilizando maquiagem nas apresentações e depois aparece um cara copiando a idéia do morcego. Você sabe, nosso mascote Tibúrcio (o morcego que ilustra quase todos os álbuns da banda, com exceção do debut Welcome to Rell), foi criado em 1970 mais ou menos, então era meio óbvio que eu usasse uma maquiagem de morcego nos shows. Aí o cara aparece com uma maquiagem semelhante? Não rola, pô. Depois fizemos um acordo milionário e retiramos a queixa.

Aliás, como surgiu a idéia de criar o Tibúrcio? E por que esse nome bizarro?
O Tibúrcio surgiu como se fosse um mascote de time de futebol. O Corinthians tem o seu, o Palmeiras também, então por que não uma banda, já que o fã também vestia nossa camisa e muitas vezes era até mais fanático que pelos times? A idéia do morcego veio meio como uma piada. Queríamos algo que fosse ao mesmo tempo marcante e simpático, mas que também refletisse o nosso som, ou seja, fosse meio malvado (risos). Os esboços iniciais pareciam saídos de um livro de bruxaria. Essa imagem mais simpática foi uma sugestão minha mesmo, mais ou menos na linha dos desenhos do Pernalonga, mas sem perder o charme. Já o nome… Puxa, cara, eu nem lembro, mas era o nome de um amigo nosso do colégio que era engraçado pra caramba e o primeiro esboço do morcego era orelhudo, bem parecido com o bom e velho Tibúrcio (risos). No final, ele levou a coisa na brincadeira.

Como vocês lidavam com as acusações de satanismo?
Isso sempre foi uma grande bobagem. Bastava alguém aparecer com um som mais pesado, que as pessoas já falavam que você tinha pacto com o capeta. Com o Alice Cooper foi assim, com o Kiss, o Sabbath, etc. É assim até hoje. Nunca ligamos, cada um acredita no que quiser.

Por que a mudança para a Inglaterra no final dos anos 70?
Sentimos que as possibilidades por aqui estavam esgotadas. A cena cultural brasileira na segunda metade da década de 70 era um horror. A Disco chegou com força total, entrava em trilha sonora de novela e nossa música, que era verdadeira, feita com o coração, ficava de fora. Fazíamos shows para 100.000 pessoas e não conseguíamos tocar na TV ou na rádio por puro preconceito. Nessa época, a censura do governo militar também estava começando a incomodar, então era melhor sair antes que fôssemos expulsos. (risos) Com o sucesso mundial da Love Hurts, nossa primeira balada (que não tem nada a ver com aquela água com açúcar do Nazareth), sentamos e conversamos durante uma tarde toda sobre o próximo passo e, como a Inglaterra era bem receptiva ao nosso estilo sonoro, o verdadeiro Heavy Metal, achamos que o óbvio era o crescimento para o mercado europeu e assim aconteceu. Saímos daqui no final de 1977 e chegamos na Inglaterra a tempo de impulsionar todo um novo movimento que surgia, a NWOBHM. Éramos os “tiozões” do negócio, ao lado do Black Sabbath. Aliás, uma das grandes honras de nossa vida é poder dizer que o Iron Maiden abriu alguns de nossos shows em 1979 e 1980. Até hoje somos amigos e volta e meia saímos para tomar umas com o Dave Murray e com o Steve Harris. Eles sempre dizem por aí que o Eddie foi inspirado pelo Tibúrcio.

Vocês não ficam tristes por grande parte da molecada brasileira não se lembrar do nome Rellyk?
Olha, sendo bem sincero, fico chateado sim. Começamos bem moleques, nos anos 60, criamos todo um estilo musical, fomos pioneiros em tudo e de repente essa molecada vem e adora ídolos falsos, bobeiras comerciais. Cadê o verdadeiro Heavy Metal para essa molecada? Mas é por isso que decidimos agora, depois de tantos anos, voltar ao Brasil e mostrar a verdadeira cara do Metal nacional, aquele que criamos há 40 anos.

Sério? O Rellyk vai voltar?
Pois é, bicho! E você vai ser o primeiro veículo a publicar isso.

Que honra!
Pois é, a gente sabe reconhecer quando alguém está fazendo algo realmente inovador. E eu acredito que o DELFOS vai mudar o jornalismo brasileiro como o Rellyk mudou a música.

Puxa, valeu!
É verdade, cara. E a gente vai voltar com um festival chamado Rellyk Monsters of Rock. Vai ser do caralho!

Beleza, depois a gente volta a esse assunto. Falando em pioneirismo, é verdade que vocês foram os primeiros a utilizar camisetas pretas, tachinhas e coturnos em shows?
Sim, isso foi algo bem simples, complementava toda nossa performance no palco e foram inspirados em alguns adereços que o Mick Jagger usava no palco nos shows dos Rolling Stones. Quanto à camiseta preta, lançamos nossa primeira em 1968 apenas com o nosso logotipo. Era algo bem simples e fizemos em preto simplesmente porque era mais barato. Hoje em dia, virou um uniforme do Heavy Metal, né? (risos) É engraçado pensar como alguns ícones culturais começaram. Depois, o Rob Halford veio com a idéia do quepe e aquele chicote estranho, mas no começo era coisa de macho (gargalhadas). O Rob é um grande amigo até hoje, foi uma das pessoas que nos ajudou bastante quando chegamos na Inglaterra.

Como vocês se sentem como pioneiros da NWOBHM ao lado de nomes como Iron Maiden e Saxon?
É uma grande responsabilidade, né, cara? Sabemos como o Metal estava estagnado e aquela molecada do Saxon e do Maiden ergueu novamente o estilo ao topo, de onde ele nunca mais saiu. Até hoje as pessoas sempre citam o nosso When Rell Freezes Over, de 1978, como um dos álbuns fundamentais para o movimento, ficamos muito honrados. Fomos a única banda não-inglesa a ser considerada parte do movimento.

O fato da banda ser brasileira gerou algum preconceito no exterior?
Pergunta difícil. Olha, nos anos 70, quando chegamos lá fora, as pessoas pensavam que por aqui só tinha índio. Ninguém imaginava que tinha uma banda de Heavy Metal. Mas quando Love Hurts foi eleita pela Rádio CTT de Londres como o “hit da década”, as pessoas começaram a nos olhar de maneira diferente e nossos shows sempre mostraram que o Brasil tinha mais a oferecer do que mulher bonita e carnaval. Nossos discos de platina e recordes de público não nos deixam mentir.

Como você acha que a NWOBHM foi influenciada pela BNWOBHM (Brazilian New Wave of British Heavy Metal, movimento que influenciou a NWOBHM inglesa e que apresentou o Metal para o mundo)?
Bom, quando começamos, sempre pensamos em levar o nosso som a patamares estratosféricos e nossa característica principal sempre foi a energia. O próprio movimento Punk, tanto o inglês quanto o brasileiro, tinham um pouco do nosso som, mas lógico que tentávamos fazer algo complexo, não eram simplesmente três acordes. O Alarico era um guitarrista muito técnico, mas não tão firulento como se vê hoje em dia. Os ingleses sempre curtiram muito o nosso som e é meio óbvio que bandas como Iron Maiden, Saxon e o próprio Def Leppard, se espelhavam na nossa música para os seus primeiros álbuns. Ninguém queria ouvir um solo de 20 minutos do Blackmore, mas todos queriam ouvir um de dois minutos e meio do Alarico. Essa influência foi apenas uma questão de evolução.

Em 1982, vocês lançaram o álbum “Rell ´n´ Thrash” e novamente revolucionaram toda uma geração. Como foi isso?
Novamente tivemos a idéia de ir além. O que mais poderia ser feito? Que campo poderia ainda ser explorado? Nossa música poderia ficar ainda mais agressiva? A resposta era sim e expandimos para este lado da agressão, o “Thrash” mesmo, que alguns posers analfabetos sempre confundiram com “trash” (lixo). Sempre tentamos fugir da mesmice. Era hora de nos reinventarmos. Ficamos felizes que bandas como Metallica e Slayer expandiram ainda mais o som e criaram o Thrash Metal no ano seguinte. Eles entenderam nossa mensagem.

Como vocês se sentem quando bandas como Metallica e Megadeth citam o Rellyk como principal influência na carreira?
Absolutamente natural. O som que eles ouvem, curtem e desenvolvem, vieram da gente, do Sabbath e do Priest. São grandes caras e eles sabem que nossa admiração para o trabalho deles também existe.

E em 1986, por que lançar um álbum chamado Carluno Corchez´s Rellyk?
Pois é, cara. A formação do Rellyk nunca foi exatamente estável. Nós trocamos tanto de bateristas que até o Spinal Tap tirou um sarro da gente naquele filme. Mas quando o Alarico saiu foi foda. Embora o nome da banda estivesse registrado no meu nome, eu não achava certo usar sem ele. Mas, por outro lado, sem o poder da numerologia ao meu lado, achei que nunca poderia fazer sucesso sem esse nome. Então chamei o disco de Carluno Corchez’s Rellyk porque era tipo a minha metade da banda. E se o Alarico quisesse, poderia criar o seu Alarico Aritnem’s Rellyk. Mas ele nunca fez isso. Foi mais corajoso que eu, o desgraçado (risos).

Por que vocês decidiram encerrar a banda no começo dos anos 90?
Por quê? Por causa do maldito Grunge, bicho. Aquela doença que acabou com tantas boas bandas de Rock e ferrou tantas outras. Graças ao Nirvana e companhia, um som técnico e trabalhado deixou de ser valorizado e nosso último disco, 90’s Rell vendeu só 20 milhões de cópias mundialmente. Isso pode parecer muito, mas lembre-se que nós vendíamos bem mais antes e sabe como é, a gravadora esperava lucrar bastante, já que nesse disco fomos acompanhados pela Orquestra Sinfônica de Londres.

E o Rellyk Monsters Of Rock?
Nossa volta à ativa precisava ser de alguma maneira diferente, portanto nada melhor do que a organização de um super festival para que isso acontecesse. A gente escolheu o DELFOS para ser o primeiro a divulgar por causa dos motivos que falei antes. Mas o festival deve acontecer com nomes de peso no segundo semestre desse ano no Maracanã. Teremos muitos convidados e participações especiais. Tenho certeza que todos vão curtir. Se preparem!

Vocês já sabem que bandas chamarão para o festival?
Sim, mas eu não posso ainda falar muito sobre isso. Podemos adiantar que teremos grandes nomes do Metal escandinavo e uma surpresa inglesa. Aguardem! Aliás, também vamos fazer um festival fluvial itinerante.

Como assim?
É uma loucura, né, bicho? Mas é uma loucura que funcionou muito bem nos anos 70. A idéia é passear de navio de porto em porto, por vários países, com um festival realizado em cima de um navio para um público aquático (risos). É uma idéia louca, que já fizemos há 30 anos e gostaríamos de repetir. Vamos ver se dá certo.

Após 40 anos de carreira, como você resume a carreira da banda?
Uma longa escalada para o sucesso. Sinto-me plenamente realizado profissionalmente e o conselho que posso dar para a molecada é: sigam os seus sonhos! Acredite, quando você quer mesmo alguma coisa, o universo conspira para que você atinja seu objetivo.

Qual o ponto mais alto da carreira?
Um show na Inglaterra em 1982 para 340 mil pessoas. 340 mil pessoas pulando ao som de suas músicas não podem estar erradas (risos).

E o mais baixo?
A saída do Brasil foi um momento muito difícil para todos nós, mas foi necessário. O nosso álbum de covers The Neighbour’s Rell is Always Greener também não se saiu tão bem como deveria.

Deixe uma mensagem para o seleto público do Delfos.
Internautas, valorizem esse site que está fazendo algo realmente valioso para a imprensa brasileira. Eu torço para que você dêem muito certo no futuro. Aliás, já fizeram uma análise numerológica da palavra Delfos?

Discografia
1968 – Just Put The Nail On (Demo)
1969 – Welcome To Rell
1970 – In Rell We Trust
1971 – Rell Unleashed (ao vivo)
1972 – Rell Awaits
1974 – From Reaven to Rell
1976 – From Rell to Reaven (coletânea)
1978 – When Rell Freezes Over
1980 – The Neighbour’s Rell is Always Greener
1982 – Rell ´n´ Thrash
1986 – Carluno Corchez´s Rellyk
1992 – 90’s Rell

Formação original:
Carluno Corchez – Vocal
Alarico Aritnem – Guitarra
Godofredo Guitarra – Guitarra
Brian Bass – Baixo
Paulinho Polvo – Bateria

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