Exclusiva: Anneke Van Giersbergen

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Era uma tarde cinzenta de trabalho. E como não seria? Era meu dia de levar o Alfredo às compras no mercado negro! Ele é muito exigente, prefere escolher os próprios bodes e geralmente o passeio leva horas até que ele escolha entre o bode com o pelo sedoso levemente ondulado e o bode de pelagem mais lisa e brilhosa. Acredite, existem várias diferenças entre eles e ensaios completos para explicar cada uma delas. E o Alfredo sabe todas.

Cheguei ao Oráculo com a cabeça estourando e a missão cumprida. Alfredo feliz, Corrales feliz. E logo veio a recompensa. O Ditador me recebeu em sua gloriosa sala e bradou que estava contente com o desempenho do dia e que portanto me recompensaria. “Ó céus, terei a Irlanda!”, pensei eu. “Tenho um novo trabalho para você”, disse Ele. Estava ingratamente desanimada quando ele estendeu a foto de uma simpática loira de sorriso largo e reconheci de imediato uma das minhas cantoras favoritas, Anneke Van Giersbergen! “Sim, cara serva, pode celebrar, você irá entrevistá-la por e-mail”, disse ele.

Eu sei, parece pouco, mas imagine a emoção de ler as respostas escritas pelo seu ídolo às perguntas que você mandou! Carambolas, eu ainda estou um tanto boba!

Mas chega de enrolação! Confira aí embaixo a entrevista com Anneke Van Giersbergen (ex-The Gathering, Anathema e Agua de Annique) por intermédio da Shinigami Records.

Como foi seu primeiro contato com o rock e o heavy metal? Quem são seus ídolos?
A história de sempre: meu irmão mais velho tocava muito do Savatage e Iron Maiden quando eu era adolescente. Eu gostei da energia e das trevas, mas ao mesmo tempo eu era fã de Madonna e Prince. Eu realmente curto a melodia e a intensidade, e isso pode ser encontrado em muitas músicas, de Mozart a Tool. Hoje ouço muito Deftones e Mastodon.

Entrar para o The Gathering foi algo planejado ou apenas uma coincidência que deu certo?
Quando entrei no The Gathering em meados dos anos 90, as mulheres da música pesada eram as duronas que usavam couro, como Joan Jett e Doro. Tenho orgulho de ser uma das primeiras que combinou guitarras distorcidas com jeito de menina. Devo confessar que nunca foi uma decisão consciente, nem da minha parte, nem dos guris do The Gathering. Fazíamos o tipo de música que todos nós amávamos e por alguma razão não havia muitas mulheres envolvidas naquele momento. Hoje temos um cenário totalmente diferente e isso é ótimo.

De onde veio o desejo de seguir carreira solo?
Sempre tive interesse de trabalhar com várias pessoas diferentes. Isso não era algo que o pessoal do The Gathering estava querendo, mas eu também queria estar um pouco mais no comando da minha própria agenda. Naquele momento eu era a única pessoa com um filho e eu queria ter tempo para cuidar um pouco mais da minha pequena família. Também tinha o desejo de gravar minhas próprias músicas algum dia sem mais ninguém envolvido. De certa forma, tudo veio ao mesmo tempo e eu sabia que precisava de uma mudança. Foi a decisão mais difícil da minha vida.

Foram 13 anos de história com o The Gathering. O que você aprendeu durante esses anos e o que você trouxe para as suas composições solo de hoje?
Bem, ser parte do The Gathering foi uma experiência diferente. Claro que eu aprendi como fazer álbuns e como tomar conta de mim durante as turnês, mas decidíamos tudo juntos como um grupo. Hoje eu sou a responsável no fim e isso é bom, mas diferente. Como disse, tinha o desejo de escrever Air e In Your Room sem ninguém mais se envolvendo, mas desde Everything is Changing tenho escrito com a colaboração de vários músicos novamente e estou amando.

Agua de Annique era um tipo de pseudônimo, certo? Por que só agora você decidiu usar seu próprio nome? O que exatamente mudou?
Acho que muitas pessoas não entenderam o motivo de eu trabalhar sob um apelido de qualquer modo. Acho que eu estava com medo de ser a capitã do meu próprio navio, e a ideia de “estar em uma banda” parecia lógica para mim, mas agora eu me sinto confiante o suficiente para mostrar ao mundo: “essa sou eu!”.

Como você define a música que faz hoje?
Haha, eu realmente tenho um amplo gosto musical e com Everything Is Changing eu quis fazer um álbum que combinasse todos estes aspectos do meu gosto. Eu costumo brincar chamando isso de “Madonna encontra A Perfect Circle”. 😉

Ouvindo seu mais recente álbum, Everything is Changing, senti uma dose alta de otimismo e experimentalismo, o que você realmente quis dizer com ele?
Para mim, a vida em geral é sobre mudar e lidar com as mudanças. Acredito em movimento, não em estagnação. Algumas vezes as mudanças acontecem devagar, mas em seguida parece que tudo aconteceu muito rápido. Posso ver isso no mundo ao nosso redor, por exemplo, cada vez mais pessoas estão ficando menos tolerantes a injustiças.

Quando eu comecei a trabalhar nesse álbum havia muita coisa acontecendo na minha vida profissional. Encontrei e comecei a trabalhar com novas pessoas e novos parceiros. Isso foi inspirador também.

Sabemos que você está gravando um novo álbum, você pode nos contar o que os fãs podem esperar dele?
Já escrevi um monte de músicas com várias pessoas diferentes nos últimos meses e começamos algumas sessões de gravações no último mês. Não tenho certeza de como tudo vai se desenvolver, mas o som vai ser muito orgânico e animado! Estou gravando com a minha banda de apresentações ao vivo, o que é bastante empolgante.

O que você acha do mercado musical de hoje e sua relação complicada com a internet?
Acho que a experiência que o álbum traz pode desaparecer eventualmente. Aquelas 10, 12 músicas reunidas, não tenho certeza se isso vai durar. Por outro lado, quem sabe? Estamos usando guitarras e baterias dos anos 60 e 70, então posso ver facilmente bandas lançando álbuns completos no futuro, mas assim que houver streaming de alta qualidade disponível para que as pessoas acessem de qualquer lugar, a cena toda vai mudar de novo. É tanto estranho quanto empolgante, devo dizer.

Você está preparando algo especial para o seu show no Brasil este ano?
Vou trazer minha banda inteira, então teremos seis pessoas no palco se divertindo bastante, porque sempre nos divertimos. 😉 Vou tocar várias músicas do meu último álbum Everything Is Changing e uma ou duas que escrevi com o The Gathering.

Nossos leitores são grandes amantes de bacon, música, games, quadrinhos e filmes. Você gosta de algo nessa lista?
Ah, sou uma grande amante de música, é claro, e assisto muitos filmes. Recentemente gravei a música tema de um grande filme holandês que será lançado na próxima semana, então isso é bem emocionante. Não tenho tido muito tempo para games, mas jogo Mario Kart Wii com meu filho algumas vezes por semana. 😉

Por favor, deixe uma mensagem para os seus fãs lendo o Delfos agora?
Olá, gente querida, fiquei realmente chateada quando a nossa turnê latino-americana com o Anathema em 2011 não rolou no Brasil, portanto estou muito, muito feliz que vamos retornar em 2013! Amo vocês!
Beijos da Anneke

E assim foi minha primeira entrevista como delfiana! Espero fazer muitas outras e melhorar as perguntas no futuro. Agora me deem licença, preciso correr em círculos enquanto falo sobre o quanto ela é simpática e cuti-cuti, embora não seja nerd, não seja mais ruiva (para a tristeza do Frodrigues) e não tenha comentado nada sobre bacon.