É, delfonauta, hoje é dia de felicidade. Estamos estreando um quadro mitológico, misantrópico e mediterrâneo: o Duelo de Titãs!

A premissa é simples. Aqui nós faremos uma análise completa sobre duas figuras, colocando-as frente a frente e comparando suas qualidades e defeitos. E assim, após garantir uma visão completa do panorama, apenas um fator garantirá que um saia vitorioso em cima do outro: e esse fator são vo-cêêêêêêês!

E hoje, aproveitando o clima comemorativo do nosso especial do Dia do Rock, faremos um Duelo de Titãs estrelando o Andre Matos e Bruno Sutter. De um lado, o vocalista original do Angra, maestro e pianista que já emplacou música em novela global e já estrelou uma adaptação da ópera-rock Tommy, do The Who. De outro, o faz-tudo do Filhinho do Deus Metal, que vem se firmando não apenas como referência de empreendedorismo no mundo do heavy metal nacional mas também como um dos grandes vocalistas do meio. E, já que se tratam de dois vocalistas, você já sabe por onde nós vamos começar.

1º ROUND: OS VOCAIS

Falar dos dois nos vocais é chover no molhado, pois todo mundo sabe como ambos são extremamente precisos em suas performances. A perfeição técnica de ambos só é Andre Matoscomparável à facilidade que eles têm de garantir uma execução vocal de alto nível. Mas é claro que as diferenças estão lá e fazem uma grande diferença. Estamos falando, afinal de contas, de um vocalista que tem muita experiência e de outro que, ao longo da carreira, tem se mostrado verdadeiramente versátil.

Se contarmos a experiência acumulada de Andre Matos desde o primeiro EP do ViperThe Killera Sword, lá se vão mais de 30 anos de carreira. Vale a pena prestar atenção que, ao longo dessas três décadas, Andre não se manteve preso a apenas um estilo de cantar, já tendo passado por fases em que investia em uma sonoridade mais limpa, como no disco Theatre of Fate e em outras, com mais drive na voz, como nos dois álbuns do Shaman.

No entanto, ainda que tenha variado bastante, Andre se tornou conhecido por cantar agudo. Não obstante suas tentativas de se dissociar de tal imagem – seja gravando músicas com vocais graves pontualmente, como Lisbon, ou investindo completamente em linhas não tão focadas nas notas altas, como em The Turn of the Lights -, a verdade é que é muito difícil vê-lo de forma diferente. Sutter, ao contrário, tem como principal marca justamente o fato de não se prender a um único estilo de vocal.

Bruno SutterVejamos. Canta gutural no Death Tribute? Check. Usa falsete e voz de cabeça como Detonator? Check. Usa voz de peito em sua carreira-solo? Check. E se simplesmente pararmos por aí, os três estilos absolutamente distintos de cantar já garantem que Bruno Sutter possa pedir música no Fantástico. E digo mais: eu acho que ele pediria Metaleiro.

O curioso é que tamanha versatilidade não se traduziu em performances fracas. Pare para pensar, variar do gutural para o falsete tinha tudo – TUDO – para dar errado, mas não foi o que aconteceu. Basta ver qualquer vídeo do Detonator, do Death Tribute e até mesmo em outras bandas cover, como o Children of the Seven Keys. Nessa pluralidade de estilos pelos quais Sutter passeia, “consistência” se tornou a palavra-chave. E vamos ao 2º round.

2º ROUND: FORA DOS PALCOS

As carreiras de Andre Matos e Bruno Sutter possuem grandes diferenças entre como foram conduzidas, e isso também deve entrar no bolo para que haja um verdadeiro Duelo de Titãs. Matos pode ter, sem dúvida, alcançado o maior sucesso entre os dois, mas também teve a carreira mais marcada por irregularidades, ao contrário de Sutter, que pode não ter tido uma ascensão tão contundente, mas tem sido mais sólida até então.

É verdade que o ex-vocalista do Viper se firmou como um dos grandes vocalistas do Metal nacional de forma exemplar. Mesmo após a implosão do Angra pós-Fireworks, Andre continuou como um grande nome do meio por conta do Shaman, e até então a grandeza parecia ser uma constante em sua carreira. No entanto, foi na carreira-solo que as coisas começaram a desandar, e o início estupendo com Time To Be Free não se manteve com o lançamento do Mentalize.

Andre MatosMuitos já sabem dos problemas internos ocorridos à época do lançamento do segundo álbum-solo – e muito disso se deve a uma grande entrevista de Fabio Ribeiro, tecladista da banda no período -, e tais problemas acabaram gerando um verdadeiro marasmo na carreira. E, ainda que o lançamento de The Turn Of The Lights tenha trazido novos ares ao vocalista, o fato é que não foi o bastante, e atualmente vemos uma nova reformulação interna que muitos esperam ser definitiva.

Por outro lado, com Bruno Sutter foi diferente. Não vou citar aqui a sua carreira com o Massacration, muito porque o sucesso e posterior fim da banda se devem ao caminho que o Hermes e Renato trilhou na telinha. Afinal, assim como o grupo pôde investir pesado no Massacration durante a MTV e até criou um programa próprio da banda, o lançamento do disco Good Blood Headbanguers acabou sendo engolido pela posterior ida dos humoristas para a Record.

Assim, se começarmos a contar do lançamento do primeiro single-solo do Detonator, Saci, veremos que o caminho foi definitivamente linear. Desde lá, tivemos o lançamento de um disco do Filhinho do Deus Metal, o EP Detonathor, um CD e DVD ao vivo, o disco-solo de Sutter, e a vitória em duas eleições do Whiplash de Melhor Vocalista do Brasil. Ademais, a cada dia mais o vocalista se firma com a Lojinha do Detonator e tem expandido sua carreira em uma pletora de bandas-cover, como o mais recente Yngwie Malmsteen Tribute.

ÚLTIMO ROUND: INFLUÊNCIA NO MUNDO DO METAL

Finalmente, vamos avaliar a influência dos dois no cenário heavy metal nacional. Este quesito é bastante importante, não apenas porque é um grande fator para medir a importância de um artista, mas também porque, afinal de contas, o verdadeiro titã é aquele cujas conquistas se prolongam ao longo das eras.

E neste ponto, Andre realmente sai na frente. Não existe um fã do Heavy Metal brasileiro que não tenha ouvido falar de Andre Matos. Sua carreira longeva sempre esteve sob os holofotes, e não raramente o maestro fez aparições em televisões, tanto aqui em terras tupiniquins quanto no estrangeiro. Do programa francês Blah-Blah Métal até em entrevistas com Marília Gabriela e Funérea, o vocalista se firmou, sem dúvidas, como um dos maiores nomes do cenário. E já que falamos de televisão, quem aqui não se lembra da icônica entrevista do Angra na TV Mulher?

Aliás, eu não falei um programa estrangeiro à toa. A influência de Andre se estende facilmente para o mundo. Seu nome possui uma importância grande no cenário Power Metal do mundo, o que o levou a inclusive formar um dream team com outros grandes
nomes, o Symfonia. E, olha que curioso, um dos nomes que admite ter como grande influência o ex-vocalista do Shaman é justamente… Bruno Sutter!

Bruno Sutter

Mas, nesse ponto, não posso deixar de citar as conquistas do faz-tudo do Detonator. Nos últimos dois anos, Sutter tem conquistado o público de forma crescente. Ao gerir o seu próprio empreendimento e estabelecer um modelo sólido de trabalho, mostrando diariamente suas remessas aos Correios e vendendo seus produtos pessoalmente na Lojinha física, aos poucos ele vem conquistando um público cada vez maior e sem o apoio de nenhuma grande empresa por trás.

Indo além, mais do que Andre Matos ou qualquer outro músico, Sutter é provavelmente a figura com maior potencial de fazer o Heavy Metal prevalecer e se estender às próximas gerações. A capacidade de conquistar as crianças, bem como a abordagem bem-humorada e na nossa língua-mãe, faz com que ele tenha um potencial de penetração alto –
o que explica muito bem suas aparições tanto no canal do Youtube da Ubisoft quanto em eventos de animê e no legalzudo comercial do McDonald’s.

RESULTADO FINAL: QUEM GANHA?

Chegamos ao impasse. De um lado, Andre Matos, voz de algumas das maiores bandas da música pesada no Brasil, que fez seu nome e está em busca de se estabelecer novamente no panteão do heavy metal nacional. De outro, Bruno Sutter, versátil vocalista e focado empreendedor, que vem galgando a passos largos o caminho rumo ao topinho. E a pergunta que não cala: quem ganha esse Duelo de Titãs? Agora é você quem decide! Comente aí embaixo e nos diga quem é seu favorito!