Crepúsculo

0

De todas as criaturas do cinema e da literatura fantástica, os vampiros são, provavelmente, os mais fascinantes. Isso porque são os únicos que conseguiram uma façanha: são ao mesmo tempo assustadores e românticos. Desejados, porém temidos. E, pensando dessa forma, não dá para não estranhar o quanto demorou para vermos um simples romance entre uma garota e um vampiro, sem traços do terror ou do suspense que permeiam a maioria das produções do gênero.

É exatamente isso que Crepúsculo propõe. Aqui vemos simplesmente uma garota do colegial se apaixonando – e sendo correspondida – por um colega vampiro. Pela sinopse, poderia ser uma daquelas comédias divertidas da Sessão da Tarde, estilo Um Garoto do Futuro, mas na verdade está bem longe disso. Temos aqui um excelente romance que junta tantas fantasias femininas em um só lugar que parece até um filme pornô para mulheres.

Saca só: Edward, o vampiro em questão, é o cara mais gatão da escola, mas nenhuma menina consegue se aproximar dele. Ele acaba protegendo Bella (a protagonista) em algumas situações e, para completar, ainda tem todo o clima de perigo que as moças adoram, sabe-se lá por qual motivo. Afinal, ele é um vampiro e fica bem claro que a qualquer momento ele pode sucumbir aos seus instintos e papar a moçoila. Completa o clima de pornô feminino o fato de que sexo nunca é um assunto entre eles. Quando estão juntos, estão ouvindo músicas, olhando o pôr-do-Sol ou então ele está assistindo ela dormir.

Se fosse um filme para homens, provavelmente o mais próximo de unir tantas fantasias masculinas que veríamos seria se um cara chegasse em casa, encontrasse uma enfermeira e uma cheerleader se pegando, entrasse no meio e, ao fundo, ficariam rolando explosões, perseguições automobilísticas e zumbis. Aliás, alguém deveria fazer esse filme, não acha?

Voltando a Crepúsculo, o clima de clube da Luluzinha impera até no time criativo. Veja só, a roteirista é mulher, a diretora idem e a autora do livro, Stephenie Meyer, também. E não poderia ser de outra forma. Se este longa fosse feito por homens, teria um clima completamente diferente – e com certeza não seria tão bom. Seria mais ou menos como se uma mulher tivesse escrito o roteiro de Mandando Bala, manja? Simplesmente não seria a mesma coisa.

O filme é bem divertido e se dá bem tanto no romance quanto no humor. Mas é tudo feito pensando nas mulheres. Inclusive, na sessão de imprensa, sempre que rolava uma piadinha na história, eu e os outros caras sorríamos, mas as moças presentes gargalhavam. Estava na cara que era um filme feito por e para mulheres. E eu achei isso sinceramente legal, pois quando pensamos em chick flicks, sempre vêm à mente aquelas comédias românticas bobas e Crepúsculo está bem acima disso. Talvez pelo fato de ter sido feito basicamente por mulheres, senti que foi o primeiro filme a que assisti que realmente entendia as mulheres. Claro, nós, homens, por mais que tentemos, nunca vamos entender esses indivíduos bizarros do sexo feminino, então o melhor é nos concentrarmos em criar cafafilmes cheios de explosões enquanto as moças cuidam do romance, não é mesmo?

Em qualquer história de amor cinematográfica, sempre tem aquela parte chata onde os dois brigam e se separam. Era óbvio que teria algo assim por aqui, mas ao invés de briga, acaba sendo um trecho praticamente de ação. Ok, já era esperado, mas a forma com que tudo é conduzido a partir desse ponto é extremamente clichê e acabou diminuindo a nota. Poxa, o longa estava indo tão bem, não precisava de um último ato tão óbvio.

Ainda assim, fiquei satisfeito com o final. Todas as pontas são amarradas e temos um típico happy ending, mas fica claro que ainda vão acontecer outras coisas que merecem ser contadas. A relação entre os índios e os vampiros, por exemplo, promete ótimas histórias. Dessa forma, fiquei curioso para a continuação, sem rolar aquela frustração tradicional dos cliffhangers hollywoodianos. Mais um ponto positivo para o time criativo.

Se você é mulher, Crepúsculo é um filme imperdível. Se você é um caboclo, a não ser que seja realmente orgulhoso do seu piupiu, ainda pode se divertir bastante levando a sua namorada. E se alguém duvidar da sua masculinidade, tenho a desculpa perfeita para você. Selecione o espaço em branco abaixo para ler. Mas só os homens, ok? As moças podem passar direto para as curiosidades.

É só dizer que foi por causa das mulheres bonitas. Pela mãe do Santiago de Compostela, eu não vejo tanta moça bonita junta desde que estive na ESPM pela última vez. E, garotas, eu sei que vocês selecionaram aqui também. Que feio, achei que podia confiar em vocês. 😛

Curiosidades:

– A continuação, Lua Nova, já está em pré-produção e a estréia está marcada para 2010.

– Se você duvida que isso é um filme pornô para mulheres, saca só esses comentários lascivos das clientes do Submarino. E aí elas estão sonhando com o Edward da literatura. Imagina depois de verem o cara interpretado no cinema por um galã.

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorFrank Miller fala sobre The Spirit e Sin City 2
Próximo artigoCentury Media lança calendário fruta
Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
crepusculoPaís: EUA<br> Ano: 2008<br> Gênero: Romance / Pornô feminino<br> Duração: 122 minutos<br> Roteiro: Melissa Rosenberg<br> Elenco: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Ashley Greene e Nicky Reed.<br> Diretor: Catherine Hardwicke<br> Distribuidor: Paris<br>