Street Fighter IV

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Street Fighter III passou quase completamente despercebido. O mesmo não pode ser dito deste Street Fighter IV, hypado como poucos e esperado por muitos. As expectativas eram de que finalmente teríamos um Street Fighter novo fiel ao movimento iniciado pela fenomenal segunda iteração da franquia, aquela considerada por quase todos os gamers (eu incluso) como um dos melhores jogos da história.

Porém, Street Fighter IV é tão fiel ao movimento que ele deveria se chamar Super Street Fighter II Turbo HD Remix, pois, ao contrário do jogo com esse nome, aqui os gráficos estão realmente turbinados. Enquanto isso, a jogabilidade está mais parecida com o clássico do que o supracitado remake. Mas comecemos pelos gráficos.

GRÁFICOS

Tenho sentimentos mistos em relação aos gráficos. Para ser sincero, gostava mais do jeitão cartunesco que a série foi evoluindo ao longo de sua história. Aqui, ela dá uma rebootada para algo um pouco mais realista. Não completamente realista, entenda, mas com cores menos vivas e animação mais séria do que Street Fighter sempre foi.

Sim, existe bastante humor aqui e não se trata daqueles jogos com duas ou três cores que estamos acostumados a ver no mundo dos games atual, mas jogando o HD Remix depois de acostumar com o IV, por exemplo, é possível entender o que quero dizer.

Isso é opção estética e vai de cada um. Você pode gostar mais do design atual dos personagens ou dos antigos, mas uma coisa que não dá para negar é que os gráficos são cabulosos. As animações, as expressões faciais (e corporais) e tudo o mais é simplesmente fenomenal. Até a detecção de colisão é quase perfeita. Repare como normalmente o golpe para exatamente no momento em que encosta na vítima (embora, em alguns casos, chegue a atravessar). Isso mostra apenas o cuidado absurdo da Capcom com a experiência visual do negócio.

Os cenários também são muito legais, cheios de detalhes e coisas acontecendo ao fundo. Parecem até capas do Iron Maiden animadas, de tantos detalhes. O que não dá para entender é porque existem tão poucos ambientes, sendo que vários estão em duas versões, de dia e de noite.

Pois é, ao contrário do que esperávamos da série, não tem mais aquele negócio de cada lutador ter o seu cenário. Os fundos são completamente aleatórios e podem aparecer em qualquer luta. Porém, fãs da franquia hão de reconhecer dois deles: o da Chun-Li e um outro bem parecido (não é o mesmo lugar, é apenas inspirado por ele) com o do Guile.

A decepção maior é que o jogo não roda em FullHD. Poxa, até o HD Remix tinha suporte a 1080p, por que o Street Fighter IV, que tem orçamento bombado e vai vender pra cacildis foi se limitar a 720p?

SOM

Efeitos sonoros, vozes e afins estão perfeitos. Além disso, depois que você terminar o jogo uma vez, pode mudar as vozes de cada personagem entre inglês e japonês, o que é um toque bem legal. Pena que não tem uma configuração automática, que coloque cada um para falar a língua mais apropriada. Afinal, entre Ryu e Ken é fácil, mas o Dhalsim ou o Blanka devem falar inglês ou japonês? Você decide. O automático viria a calhar especialmente porque o lip syncing foi claramente pensado em línguas específicas para cada lutador e, se estiver em qualquer outra, dá aquele jeitão de dublagem tosca sem sincronia.

Nas lutas contra rivais (mais sobre isso em breve), inclusive, os personagens conversam durante a pancadaria. Por exemplo, quando o Ryu briga contra o Sagat e estiver apanhando, ele pode dizer “you are strong as ever, Sagat”. Legal, né? Seria ainda mais legal se esses diálogos acontecessem em várias lutas, não apenas naquelas entre rivais.

O narrador também está mais ativo e, em alguns casos, fica falando a luta inteira. Infelizmente, o famoso “Round 1, Fight” foi eliminado. Agora ele solta coisas aleatórias, tipo “this will be a battle to remember, fight” ou “this is the final round, fight”. Sim, o fight sempre está lá.

Se algumas coisas foram melhoradas e dinamizadas, as músicas estão consideravelmente piores. A série Street Fighter sempre foi conhecidas por músicas extremamente marcantes (o tema do Ryu, por exemplo, é quase tão famoso quanto o do Super Mario) e muito bem compostas. Aqui, as canções são bem genéricas. As únicas que chamam a atenção são justamente os remakes das faixas antigas, que aparecem ocasionalmente (tipo nos finais ou em algumas lutas entre rivais).

JOGABILIDADE

Praticamente igual à do Super Street Fighter II Turbo. Nenhum dos personagens antigos ganhou nenhum golpe novo e os comandos são todos os mesmos, o que é uma pena, já que algumas das simplificações feitas para o HD Remix (tipo o pilão do Zangief) tinham caído bem.

Convenhamos, o importante não é ser difícil dar um golpe, mas usá-lo no momento apropriado. Golpes como o pilão não têm porque ser tão difíceis. E, poxa, o super combo do Zangief, que exige dois 360s no direcional, é praticamente impossível. Para ser sincero, eu não entendo como é possível passar duas vezes pela parte de cima do direcional sem fazer o personagem pular. Eu não entendo nem como isso pode acontecer uma vez, mas o pilão normal eu até consigo fazer. =)

Notei poucas diferenças em relação ao Super Turbo. O Yoga Fire do Dhalsim é uma delas. Agora ele não atravessa mais a tela, some antes, tipo, pouco depois da metade. Alguém me explica porque fizeram isso com o coitado? Será que o Dhalsim já não era ruim o suficiente do jeito que estava? Fico imaginando o diálogo dos desenvolvedores:

– Peraí, pô! O Dhalsim tá pintudão demais!
– É mesmo, né? Se um jogador estiver com o Akuma e o outro com o Dhalsim, o Akuma não vai ter a menor chance.

Poxa vida, o Dhalsim é um personagem mó legal, mas ele é o lutador mais cocô da história da série. E ainda pioram o caboclo, pô!

Outra diferença é que o Ryu perdeu seu Hadouken de fogo. Ou melhor, o Hadouken EX é de fogo, mas não tem mais aquele especialzinho com o mesmo comando do Yoga Flame. A real é que isso não faz muita diferença no personagem, mas admito que eu gostava de usar esse golpe durante os tradicionais duelos de hadouken para fazer meu adversário perceber o nível de quem ele estava encarando. Agora a Capcom tirou minha alegria. Capcom boba!

Mais uma mudança – bem chata, por sinal – é que agora você não agarra mais simplesmente apertando um botão de ataque e para a frente. É necessário apertar ao mesmo tempo soco e chute fraco, o que elimina vários golpes de personagens como o Zangief, que tinham vários agarrões diferentes, além de ser desnecessariamente mais difícil do que era na época de outrora.

Dito isso, vamos às coisas novas. Os personagens agora têm várias provocações (você escolhe qual quer na hora da seleção de lutador) e você usa isso apertando simultaneamente os botões de soco e chute forte. Não serve para nada, mas é um charminho.

Além disso, existe um golpe especial indefensável (segure soco e chute médio). Além de ser indefensável, ele absorve até um golpe – você recebe o dano, mas ele sara depois se ficar alguns segundos sem apanhar. Dois ou mais ataques interrompem a animação, mas se você acertar, o seu desafeto se ajoelha e fica prontinho para receber um Super Combo nas fuças.

O Super Combo continua igual, você enche a barrinha conforme faz miséria com o adversário. A novidade é o Ultra Combo, uma nova barrinha que enche conforme seu adversário faz miséria com você. O Ultra Combo é ativado com o mesmo comando do Super, só que apertando os três botões (de soco ou chute, dependendo do personagem) ao mesmo tempo. Ele é praticamente uma versão pintuda e mais estilosa do SC.

O lado ruim nesses dois ataques penianos é que eles pausam o jogo. O SC por um ou dois segundos enquanto o UC deve pausar por uns cinco segundos. Ok, é estiloso e bonitão pra caramba, mas enquanto seu personagem está fazendo cara de mau, o outro jogador tem tempo mais do que suficiente para colocar o direcional para trás – e defender. Ou seja, se o caboclo não estiver tonto ou no meio de um golpe, é absolutamente impossível acertar um UC. E isso não é legal.

Outra coisa que não é legal é a AI do computador. Mesmo jogando no easiest, o game é incrivelmente difícil (aliás, admito que não vi diferença nenhuma entre o easiest e o medium). Isso porque a AI é desonesta. Se o seu adversário tiver algum golpe anti-aéreo, tipo o shouryuken, é impossível acertar uma voadora nele (em especial em personagens como a Cammy ou o Seth). Lembra no Mortal Kombat, em que o computador era programado para abaixar sempre que você usasse uma magia, o que tornava as magias inúteis? Pois aqui é a mesma coisa, mas o que ficou inútil são as voadoras. E, caramba, Street Fighter sem voadora é muito chato.

PERSONAGENS

Street Fighter IV traz de volta, liberados de cara, todos os doze personagens do Street Fighter II e quatro novos lutadores: Abel, Rufus, El Fuerte e Crimson Viper. Todos eles, tirando a Crimson Viper, são personagens de agarrar, na linha do Zangief. E todos eles, sem exceção, são tão ruins que você nunca vai querer jogar com eles.

Aliás, o equilíbrio deste jogo está pior do que nunca. Personagens que já eram ruins, como o Dhalsim e o Zangief, foram piorados (o primeiro por ter seu Yoga Fire quebrado e o segundo por ter SC e UC praticamente impossíveis de serem usados), enquanto os bons, como o Ryu ou o Ken ficaram ainda mais fortes com seus SCs e UCs entre os mais fáceis (de executar e de acertar) do jogo.

Quem merece um parágrafo só para ela é a Chun-Li, cujas coxas ficaram tão absurdamente exageradas que parecem tumores ou, sei lá, elefantíase. A mina é tipo 5/6 coxas. Normalmente eu gosto de minas desproporcionais (tipo com seios maiores que a cabeça *-*), mas fico me perguntando como seria uma garota com essas coxas na vida real. Assustadora, acredito. Tudo bem que o Zangief aqui está 8/6 músculos, mas aí tudo bem, nenhum gamer que se preze quer fazer miséria com ele. =)

Além desses 16, ainda tem vários para serem destravados conforme você termina o jogo com determinados lutadores. De Super Street Fighter II, temos o divertido Fei Long, o superpoderoso Akuma e a bunda de fora da Cammy (achei bem legal o detalhe de ela ter sotaque britânico). Pena que o Dee Jay e o T. Hawk ficaram de fora ou teríamos todo o time clássico de volta.

Da série Alpha, dão as caras aqui a cartomante Rose, a fantasia sexual japonesa Sakura, o praticamente inútil Gen e o completamente inútil Dan (para você ter uma ideia, pelo menos três dos seus golpes são provocações que não servem para nada – ele tem até um SC que é apenas uma provocação mais longa, que o deixa extremamente vulnerável). Particularmente, gostaria que a turminha do Final Fight (e que aparece no Alpha), como o Guy ou o Rolento também dessem as caras.

Completam o elenco de escondidos dois completamente inéditos. Gouken, o mestre de Ryu e Ken, que vai contra as expectativas e não é uma versão turbinada do Akuma, mas mais um personagem com aquele jeitão forte e lento do Zangief.

Por último, temos o Seth, e esse é a maior decepção, tanto no design quanto nos golpes. Para começar, ele é o Dr. Manhattan, ou seja, um careca azul e peladão. A única diferença dele para a criação do Alan Moore é que ele tem um Ying Yang na barriga, que deve ter sido colocado lá só para evitar processos.

Cobrimos o design, mas nem mesmo nos golpes ele é novo. Ele tem o soco esticado do Dhalsim, a pisadinha da Chun-Li, o pilão do Zangief, o shouryuken e o sonic boom. Poxa, a Capcom já criou tantos personagens legais (Mega Man, Dante e praticamente todo mundo do Final Fight e Street Fighter). Será que a criatividade acabou? O que mais justificaria eles terem que roubar um personagem do Alan Moore e nem sequer inventar golpes próprios para ele?

O JOGO

Temos algumas formas de jogo aqui. Os já conhecidos versus (você contra outro caboclo, online ou offline) e arcade (você contra o computador durante oito lutas).

O arcade tem algumas novidades. Uma bem criativa emula a coisa mais irritante dos fliperamas: você pode ser desafiado a qualquer momento por um anônimo online. Daí você automaticamente aceita o desafio e para a luta atual (esse para é do verbo parar. Maldita rephorma hortográphica que deixa as coisas menos claras!). O lado bom é que, se perder a luta, não perde também a ficha – o jogo continua do início da última batalha. Isso deixa bem chato jogar até o final, pois você fica constantemente sendo interrompido, mas pode ser legal caso queira algum entretenimento enquanto espera o jogo achar alguma pessoa para lutar. E dá para desligar, então é uma opção legal para aqueles que gostam disso.

Além disso, cada personagem tem um animê de introdução e de conclusão de sua história. Esses animês são horríveis, tanto em qualidade gráfica quanto de roteiro. Aliás, vários deles cortam a história no meio, como se não tivessem sido terminados. É bem legal que a Capcom tenha optado por fazer desenhos de verdade ao invés daquelas CGs sem alma que monopolizam os games atuais, mas poderiam ter feito isso com mais capricho, né?

Este modo conta com oito lutas. As primeiras seis são aleatórias. A oitava luta é contra o Seth, o grande vilão. A sétima resgata a ideia do Street Fighter Alpha, em que a última luta de cada personagem era com seu rival. Essa luta é precedida de uma pequena historinha explicando o motivo dessa rivalidade. O lado ruim é que muitas dessas rivalidades não fazem o menor sentido. Por exemplo, no animê de introdução do Ken, fica claro que ele só entrou no torneio para lutar contra o Ryu. Por que diabos o rival dele é o Rufus então?

Parece que a Capcom fez questão de colocar alguma rivalidade entre quase todos os personagens com os quatro novos lutadores. Acredito que pelo menos 60% deles têm seu rival no loirinho Abel que, aliás, é um personagem bem sem graça.

O outro modo de jogo são os challenges. Dentro dele, temos o survival (quantos sacripantas você consegue vencer com apenas uma barra de energia?) e o time attack (quantos filisteus você detona antes do tempo acabar?), ambos bem divertidos.

Tem também o trial, que é basicamente um tutorial. Escolha o personagem e o jogo ensina golpes especiais, SC/UC e até combos. O problema é que a maior parte dos combos é muito difícil de fazer, pois é exigido um timing extremamente preciso e isso não é mostrado no tutorial, que mostra apenas os comandos. Eu mesmo não consegui completar todos os níveis de trial de nenhum personagem.

CONCLUSÃO

Talvez essa resenha pareça negativa, mas não é o caso. Street Fighter IV é um jogo excelente, que chega a ser até melhor do que o classicaço Street Fighter II. Prova disso é que eu estava jogando o IV com um amigo, daí resolvemos ir para o II e, depois de pouco tempo, desistimos e voltamos para o IV.

O que temos aqui é praticamente uma versão turbinada e com gráficos pintudões do Street Fighter II. Nesse ponto, ele é animal e há de render ótimos momentos de diversões com seus amigos. O principal lado ruim é a AI implacável que tira toda a graça de jogar contra o computador e a falta de criatividade e de carisma dos novos personagens. Porém, se você vai jogar contra um amigo com os 12 personagens clássicos e em uma TV de alta definição, provavelmente não existe nenhum jogo melhor do que Street Fighter IV. Já está ao lado de Rock Band como o jogo mais jogado por aqui quando eu recebo pessoas em casa. Portanto, não perca tempo e compre aqui para PS3 e aqui para Xbox 360. Se você tem um Wii e precisa de um abraço por não deixarem você brincar, permita-me confortá-lo: passou, passou…

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