Splatoon

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Resenhar um jogo da Nintendo, hoje em dia, é como tentar conversar com o seu amigo sobre uma garota que ele não quer nem olhar porque acha que outra é mais gostosa. O triste é que você tem certeza de que ele acharia a garota menosprezada interessante e simpática, se ao menos desse uma chance a ela. Não que seja obrigatório o cara gostar da garota, mas ele não quer nem dar uma chance a ela, sabe?

Não sei se há uma metáfora melhor, e perdoe-me a delfonauta que achou o negócio ali de cima machista (não é: homens são assim mesmo e não vão mudar), mas voltando ao tema da resenha, a verdade é que é importante discutir o que a Nintendo está aprontando, porque, quando você menos espera, ela volta a ser gostosa de novo, como agora.

Então, vamos lá, delfonauta: pare de pensar um pouco em Metal Gear Solid V: The Phantom Pain e na Konami (aquela milf ingrata que não liga mais para ninguém) e vamos conversar sobre Splatoon, a nova IP da Nintendo.

QUEM É ELA?

Splatoon é um jogo de tiro em terceira pessoa online, com algumas mudanças importantes. Jogos de tiro, sejam eles de terceira (Gears of War) ou de primeira pessoa (Call of Duty), exigem muita precisão para acertar seus oponentes e costumam dar benefícios para headshots, por exemplo, enquanto em Splatoon o objetivo é atirar em todo lugar. Essa é uma gritante diferença: enquanto nos jogos de tiro a sua interação com o ambiente 3D é mínima, em Splatoon todo e qualquer canto do mapa importa.

A sua tinta cobre os cenários, o que permite que você se transforme em lula (sim, é estranho, mas funciona) e se desloque com mais velocidade, além de se esconder em sua própria tinta. Sua munição é recuperada ao se transformar em lula sobre a tinta do seu time. Assim, atirar em qualquer lugar lhe dá muito mais opções de stealth, de mobilidade, de recuperar a sua munição e, além disso, é o principal objetivo no modo online principal, Turf Wars: o time que pintar mais o mapa, ganha.

PARECE LEGAL, FALE MAIS

Para o modo online, você só pode usar o gamepad como controle. Com ele, você tem sempre à disposição o mapa e pode ver as posições dos membros do seu time (não pense em metáforas agora, delfonauta). Tocando em algum deles, você dá um super pulo como lula que o leva diretamente à posição do seu colega de pintura, bem no meio do campo de batalha. Isso pode ser feito a qualquer momento, sem qualquer custo, embora os inimigos possam ver em qual lugar você irá aterrissar.

O modo regular de Turf Wars sempre tem três minutos de duração e você e seus amigos japoneses desconhecidos não podem escolher o mapa – a cada duas horas, as batalhas são feitas em dois cenários escolhidos pelos servidores da Nintendo. Pode parecer chato, mas o fato de os mapas se repetirem permite que novatos conheçam bem o jogo, o que deixa as coisas mais equilibradas.

Splatoon é um daqueles jogos fáceis de aprender a jogar e extremamente difíceis de dominar. A todo o momento, se você estiver atento, aprende algo novo. Pode ser, por exemplo, que você descubra um ponto legal para se posicionar com um rifle de longa distância, ou como escapar escondendo-se em um canto da parede. A experiência é bastante positiva, pois mesmo os jogadores mais experientes podem ser surpreendidos por alguma coisa que você inventar na hora da necessidade.

O QUE MAIS ELA FAZ?

Fora o modo regular, há os modos ranked para jogadores acima do nível 10. São eles:

Tower control: é necessário dominar uma torre e permanecer sobre ela até chegar ao território inimigo. Se você sair de cima da torre, ela começa a voltar ao centro do mapa e deverá ser reconquistada.

Splat Zones: é como o clássico king of the hill, mas você precisa pintar a área (ou áreas) determinada com a tinta do seu time para fazer pontos. Ganha quem fizer todos os 100 pontos ou tiver conquistado o espaço por mais tempo. É o modo mais difícil do ranked, em minha opinião.

Rainmaker: é a mesma ideia do tower control, porém, você precisa pegar uma arma no centro do mapa (a Rainmaker) e carregá-la até a base inimiga. Ela diminui a sua velocidade, você fica exposto no mapa a todos os adversários, mas o seu tiro carregado causa o maior dano do jogo. Dramático, é possível vencer partidas em 15 segundos.

Os modos ranked dão pontuações maiores a quem ganha e punem o time perdedor, retirando pontos de sua classificação (se você perder muito com o rank C, volta a ser C-, por exemplo). Com isso, e o fato de o objetivo não ser pintar todo o mapa, as estratégias são bem diferentes e as partidas, mais agressivas – é muito comum entrar em combate direto e “matar” (no jogo, chamamos de splat) os inimigos.

ELA É SOCIAL

Uma coisa legal e única em Splatoon são os campeonatos online por regiões, chamados de Splatfests. Funciona assim: você escolhe entre dois lados, que são baseados em gostos bem fúteis, por exemplo: “o que você prefere, cachorro-quente ou marshmallow?” ou “quem você gosta mais, Autobots ou Decepticons?”. Escolhendo o seu time, você ganha uma camiseta customizada e no período do evento, irá sempre lutar do lado do time escolhido, com a cor dele e camiseta equipadas. É bem divertido e engraçado. O hub do jogo muda, fica de noite nas fases e o time que ganhar mais batalhas leva mais prêmios ao final do evento.

E QUANDO ELA ESTÁ OFFLINE, O QUE FAÇO?

Para quem não quer pular logo de cara no modo online e quiser aprender a jogar com a didática sempre útil da Nintendo, estes modos são ótimos e, além disso, muito divertidos. O modo single player tem 30 fases que ensinam diversas técnicas do jogo, abordagens de ataque e por aí vai. Ele é muito mais “vertical” do que os mapas do modo online: você precisa escalar muitas paredes, pular bastante e cumprir desafios de plataforma que não ficariam estranhos em um jogo do Mario.

Na verdade, o modo single player parece uma nova abordagem aos Super Mario Galaxy 1 e 2. É uma pena, apenas, que muitas formas de gameplay desse modo (como a esponja, os canos estourados e as plataformas giratórias) não tenham sido usados em nenhuma fase do modo online. De qualquer maneira, o modo single player, embora curto, é uma experiência diferente e complementar ao online.

O modo local multiplayer permite que você e seu amigo disputem quem atira em mais balões para vencer (uma pessoa na tela da TV, outra com o gamepad). É um modo bacana, porque ainda que o objetivo não seja atirar em tudo que é lugar, pintar o cenário garante mobilidade no mapa, já que os balões surgem em lugares distantes. Com apenas cinco mapas e oito opções de personagens com armas pré-definidas, é o modo mais limitado, e espero que a Nintendo faça atualizações com mais sustância para esse modo.

E ELA NÃO TEM NENHUM DEFEITO?

Splatoon é um jogo que tem algumas coisas muito parecidas com Team Fortress 2 e até com MMOs: ele incentiva a busca incessante para evoluir de nível, obter novas roupinhas, itens e armas. São práticas já comuns nos videogames, mas que precisam ser mais discutidas, porque elas aumentam o tempo que você passa no jogo sem necessidade e não lhe ensinam nada de novo.

Para que serve evoluir de nível, de verdade? É apenas uma forma de fazer com que joguemos mais, mas não de jogarmos melhor. Em Splatoon, o nível máximo inicial era de 20, mas agora já está no 50. Você libera novas armas cada vez que aumenta de nível até o 20 e pode comprar equipamentos mais caros, com mais skills (até quatro por peça de vestuário), conforme avança.

É muito, muito fácil perder o foco de se divertir e aprender coisas novas com o jogo para melhorar seus equipamentos (dá até para evoluí-los e ativar mais skills se jogar equipado com eles por um tempo), para subir de nível e melhorar o seu rank nos modos mais avançados. E isso tudo traz uma sensação de recompensa que não é verdadeira e pode fazer você viciar no jogo, o que não é positivo. Sei que bato bastante nesta tecla nas resenhas, mas acho que é uma preocupação que devemos ter com jogos, especialmente porque eles se tornaram muito eficientes em manter você jogando sem querer mais.

Splatoon corre o risco de receber microtransações, mais itens exclusivos (já existem alguns, graças aos fuckin’ amiibos) e diversos DLCs que tornam bem difícil você se acostumar com as atualizações (foi esse tipo de coisa que me afastou de Team Fortress 2 e de League of Legends).

Com 30 horas de jogo, cheguei ao nível 18, terminei o modo single player (o que levou umas cinco horas) e passei um tempo no modo local multiplayer. Talvez eu tivesse passado menos tempo com Splatoon se fosse mais fácil conseguir as novas armas e equipamentos (esses, sim, dão novas possibilidades de gameplay. A dica é: sempre que puder, tente algo novo, uma nova abordagem, novos modos de jogo, armas e estratégias diferentes – há muito espaço para isso em Splatoon e sua experiência vai continuar positiva.

COMO DISSE, É SIMPÁTICA

Splatoon é uma nova franquia para a Nintendo, tão boa quanto Pikmin, mas com muito mais possibilidades. É talvez até o melhor jogo do Wii U, brigando feio com Bayonetta 2, Pikmin 3 e Super Mario 3D World. Se não tivesse essas baboseiras de level up) e um local multiplayer mais robusto, eu não teria dúvidas em conceder o Selo Delfiano Supremo. Splatoon é um paraíso de cores e gameplay, imperdível, se você tiver a chance de jogar (a Nintendo realmente tornou difícil ter a experiência para nós, brasileiros).

CURIOSIDADES E OUTRAS COISAS QUE EU NÃO CONSEGUI ENCAIXAR NO TEXTO:

– A raça dos personagens é inkling, mas todo mundo chama eles de squid.

Splatoon, apesar de colorido, não é um jogo para crianças e o Corrales morre de inveja de quem consegue jogar, Bwa-ha-ha. Mas, poxa, como eu queria jogar The Witcher 3

– Se você é um dos 0,01% dos brasileiros que tem um Wii U e Splatoon, pode ficar à vontade de me adicionar para jogarmos algumas partidas. É só procurar por Mr.nonsense na sua Friend list. ;D

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Nota
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Daniel Villela
Daniel adora heavy metal, rock progressivo e Frank Zappa, jogos de FPS, aventura, plataforma e RPG, é fanático pelo MCU, curte séries de TV como Mad Men, Breaking Bad, Demolidor, 24 Horas, Friends e The IT Crowd. No lado profissional, é formado em Jornalismo, pós-graduado em Comunicação Empresarial e trabalha na área de Marketing.
splatoonAno: 2015<br> Gênero: Tiro em terceira pessoa/plataforma<br> Plataforma: Wii U<br> Fabricante: Nintendo<br> Distribuidor: Nintendo<br>