Mad Max: Estrada da Fúria

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E lá se vão exatos trinta anos desde que Max Rockatansky adentrou a Cúpula do Trovão em sua até então última aventura cinematográfica. O diretor George Miller passou os anos seguintes envolvido com um porquinho atrapalhado (sim, o Babe) e um pinguim dançarino e o astro Mel Gibson acabou se revelando mais louco na vida real do que o personagem que o tornou famoso.

Seja como for, trinta anos é simplesmente tempo demais sem uma das minhas franquias cinematográficas favoritas. Dado meu enorme apreço por histórias de cunho pós-apocalíptico, é óbvio que Mad Max e suas sequências têm um lugar especial no meu coração (a terceira, nem tanto). E também por isso, este era o filme pelo qual eu estava mais ansioso para assistir neste primeiro semestre de 2015.

Pois a espera acabou. Mad Max: Estrada da Fúria chegou e fez valer o longo hiato, já sendo sério candidato a levar o Troféu Testosterona Total do Ano, com algumas das cenas de ação mais alucinadas já feitas. E olha que apenas alguns meses antes também tivemos o absurdamente divertido e exagerado Velozes e Furiosos 7. Que ano para quem gosta de sequências de ação envolvendo automóveis, delfonauta!

O longa é tão acelerado e explosivo que não perde tempo com detalhes como história (completamente inexistente), pausas entre uma explosão e outra (tá, elas até existem, mas são pouquíssimas) ou mesmo em explicar se este quarto exemplar é uma sequência direta, um remake, reboot, ou se ele simplesmente joga qualquer continuidade pela janela em prol de poder usar os elementos mais legais possíveis, mais ou menos como acontece na trilogia Evil Dead de Sam Raimi.

Baseado na presença do último Interceptador V8 e no fato de que Tom Hardy parece mais jovem do que o Max de Mel Gibson em Além da Cúpula do Trovão, tudo aponta para essa última opção. O que, visto se tratar de uma franquia bem antiga, que talvez as novas gerações desconheçam, é uma boa sacada para reapresentar o personagem e seu mundo como algo novo. Não é preciso ter assistido à trilogia anterior para poder ver Estrada da Fúria. Mas aqueles que assistiram sem dúvida vão sacar um monte de pequenas referências aos filmes antigos, em especial ao segundo, o mais tremendão.

TESTEMUNHEM

Como eu disse, simplesmente não há história. É apenas uma gigantesca perseguição entre o vilão Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne) – chefe de um povoado no deserto – e seus capangas, e a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), que foge do lugar em busca de algo melhor. Max acaba entrando no meio da confusão sem querer, mas é óbvio que logo ele tomará a frente da ação.

E, ironicamente, este filme é justamente este o que mais desenvolve o pano de fundo da “civilização” pós-apocalíptica, mostrando um monte de elementos da sociedade criada por Immortan Joe e sua cultura, algo nunca tão explorado na série. Tudo pano de fundo e tudo apresentado entre uma explosão e outra, o que torna ainda mais impressionante a maestria com que George Miller apresenta esses detalhes sem diminuir o andamento da película.

Poucos longas têm um ritmo tão acelerado e vertiginoso. Mesmo dentro do gênero ação, é difícil encontrar um que não para, que quando parece que vai dar um descanso, resolve pisar com tudo no acelerador a 200 quilômetros por hora. A série já era famosa por suas coreografias e capotagens de veículos. O diretor conseguiu elevar isso a um patamar insano. E o melhor de tudo, usando pouquíssimo CGI. Praticamente tudo que você vê envolve efeitos práticos e uso de dublês, feito à moda antiga e muito mais realista e impressionante.

A impressão que eu tive durante toda a projeção era de que estava vendo um filme B feito com o maior orçamento do mundo. Geralmente, quando esse tipo de produção mais alternativa recebe muita grana, abrem-se duas possibilidades. Ou o grande orçamento acaba por tirar o charme trash e criativo da coisa, ou os realizadores usam a bufunfa para conseguirem passar para a película toda a loucura que eles conseguem imaginar. Este aqui é, sem qualquer dúvida, um representante desta segunda possibilidade, e com louvor.

Visualmente, é idêntico a seus antecessores, com os designs exóticos dos veículos e o visual das gangues que povoam o longa trazendo muita familiaridade para os fãs da série. Porém, numa escala gigantescamente maior, principalmente na fotografia árida do deserto em planos abertos. A cena da tempestade de areia, particularmente, é um espetáculo.

MEU NOME É MAX

Agora que já falei muito bem da película, é preciso dizer o que não ficou muito legal, e na minha opinião são duas coisas. Vou começar pela menos grave, que é uma cena já lá para o final (envolvendo um volante e um instrumento musical, você saberá do que estou falando quando assistir) feita claramente para o uso do 3D e ficou tão horrorosa que me espanta que o estúdio tenha permitido que ela entrasse no corte final.

É uma daquelas cenas totalmente gratuitas de coisas voando na sua cara que bem poderiam estar naqueles primeiros longas que tentavam popularizar o formato, mas que não faz o menor sentido para uma produção atual. O pior é que ela não tem a menor importância para a narrativa e poderia ter sido facilmente cortada, não precisaria nem de remendo na montagem.

O segundo elemento, e este sim mais grave que uma reles picuinha com o desfecho de uma cena, é o protagonista. Ok, o papel de Max não é o que se poderia chamar de desafiador. É o típico anti-herói taciturno que fala uma meia dúzia de palavras o filme todo. No entanto, Tom Hardy me deu a impressão de estar entediado durante todo o longa, enquanto o mundo explodia à sua volta.

Não que ele tenha optado por uma atuação blasé, mas sim que ele, o ator, parecia não querer estar ali e se limitou apenas a imitar os trejeitos de Mel Gibson. Só que, ao fazer isso, acabou é me lembrando que ele não é Mel Gibson, o qual interpreta um maluco como ninguém (provavelmente, como já estabelecido antes, por ele também ser um na vida real). Na comparação entre os protagonistas, perde feio para seu antecessor.

Por sorte, este não é o tipo de filme que se escora em atuações, e portanto, mesmo essa grande pisada de bola pode ser relevada numa boa, que não tira a força das sequências cheias de adrenalina que permeiam fácil uns noventa por cento das duas horas de duração do longa.

Mad Max: Estrada da Fúria retoma as aventuras do guerreiro das estradas para os saudosos ao mesmo tempo em que o apresenta como algo novo para toda uma nova geração em um dos filmes mais insanos e absurdamente divertidos dos últimos tempos. Para ver na maior tela que você encontrar, com o sistema de som bombando. Já para o cinema, delfonauta.

CURIOSIDADE:

– O ator Hugh Keays-Byrne, que faz o vilão Immortan Joe, interpretou também Toecutter, o líder da gangue de motoqueiros no Mad Max original de 1979.

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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
mad-max-estrada-da-furiaPaís: Austrália/EUA<br> Ano: 2015<br> Gênero: Testosterona Total<br> Duração: 120 minutos<br> Roteiro: George Miller, Brendan McCarthy e Nick Lathouris<br> Elenco: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult, Rosie Huntington-Whiteley, Zoë Kravitz e Hugh Keays-Byrne.<br> Diretor: George Miller<br> Distribuidor: Warner<br>