É fato que o cinema de verve comercial anda cada vez mais previsível e repetitivo. Mas de vez em quando aparece um trabalho que foge da caixinha. E mais de vez em quando ainda surge uma película tão fora dos padrões que você fica imaginando como diabos esse negócio foi financiado.

Colossal se encaixa nessa categoria como um dos filmes mais bizarros a que assisti recentemente. E acredite, isso é bom. Para começo de conversa, ele é o tipo de história da qual, quanto menos você souber a respeito, melhor. Então recomendo que você deixe para ler esta resenha só depois de ver o filme. Não se preocupe, ela estará aqui quando você voltar.

Já viu? Doideira, né? Pois bem, Gloria (Anne Hathaway) é uma mina numa fase complicada de sua vida. Seu namorado (Dan Stevens, de Legion) se cansa de suas constantes noites de bebedeira e bota ela pra fora de casa. Sem alternativas, ela acaba voltando para sua cidadezinha natal e reencontra um antigo colega de escola (Jason Sudeikis).

Até aí, nada de mais com essa sinopse. Só que é a partir daí que as coisas ficam interessantes: porque ao mesmo tempo em que isso ocorre, há um monstro gigante que fica aparecendo em Seul e causando pânico e destruição. Eis que Gloria descobre por acaso que o monstrão espelha todos os seus movimentos. E ele só aparece na Coreia do Sul quando ela se encontra em um determinado lugar de sua própria cidade em determinado horário.

A trama é tão absurda e viajandona que não seria de se admirar que o escritor e diretor Nacho Vigalondo (hum, nachos…) tenha escrito este roteiro sob influência de fortes alucinógenos. Ou isso, ou a cabeça dele é maluca normalmente, o que também seria algo admirável.

O filme se escora na mistura entre drama e comédia. Ao mesmo tempo em que Gloria tem de assumir responsabilidade pelo caos em que se encontra sua vida, há também o nonsense do fato de ela controlar um monstro gigante do outro lado do mundo e de tudo que isso acarreta.

No entanto, o filme dá uma baita virada sombria quando se aprofunda mais nessa parte. Para mim foi bem inesperado, e eu gostei bastante do rumo que a história toma, fugindo do que tudo parecia apontar como algo mais leve e divertidão. Este lado mais pesado acaba combinando bem com o começo mais leve e a mistura dá liga.

Contudo, é preciso deixar bem claro que isso aqui não é um filme de ação ou uma ficção científica, e o monstro aparece muito pouco e quase nunca por inteiro. Ele jamais é o foco da narrativa, e sim uma ferramenta. Quem quiser ver criaturas gigantes e destruição em larga escala vai se decepcionar bastante. Melhor procurar por essas coisas em outra produção.

Também é bem decepcionante que um filme com uma história tão doidona se renda ao artifício de explicar o inexplicável. No caso, porque ela controla um monstro gigante, porque só daquele lugar em específico e porque em Seul. Nem preciso dizer que isso é totalmente desnecessário.

Seja como for, Colossal rende no todo uma agradável surpresa, com um filme criativo, divertido, sem medo de trilhar caminhos menos óbvios, porém igualmente satisfatórios. Para quem gosta de histórias mais viajandonas, sem dúvida mais que vale a assistida.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
colossal-e-um-filme-esquisito-que-voce-precisa-verTítulo original: Colossal<br> País: EUA / Canadá / Espanha / Coreia do Sul<br> Ano: 2016<br> Gênero: Dramédia<br> Duração: 109 minutos<br> Distribuidora: Paris Filmes<br> Direção: Nacho Vigalondo<br> Roteiro: Nacho Vigalondo<br> Elenco: Anne Hathaway, Jason Sudeikis, Tim Blake Nelson e Dan Stevens.