Boy bands surgem e desaparecem com a mesma velocidade que as fãs histéricas levam para sair da adolescência e perceber o quanto estavam sendo ridículas. Por sorte, quando essas crescem, chega uma nova leva de meninas pré-adolescentes com pulmões de aço. E também a próxima onda de bandas formadas por garotinhos de rosto angelical.

O Brasil não é estranho a esse mercado e já teve sua cota de conjuntos formados por garotos que cantam, dançam e arrancam suspiros das tietes. Lembra do Dominó? E do Polegar e o caboclo que engolia as pilhas? Ou mesmo do KLB mais recentemente? Pois Chocante tira sarro dessa tradição de grupos masculinos que emplacam um grande sucesso e desaparecem sem deixar rastros.

O Chocante do título foi um conjunto de muito sucesso nos anos 80 que terminou abruptamente enquanto estava no auge. Atualmente seus ex-membros estão todos decadentes e com empregos nada glamorosos. Eis que eles voltam a se reencontrar justamente quando um deles morre.

Delfos, Chocante, CartazNaquele bate-papo saudosista pós velório bate uma nostalgia e eles decidem voltar, um pouco pela pura farra, um pouco para recuperar aquela antiga emoção da época de estrelato.

A trama é legal e poderia render uma comédia bacana, não fosse ela estrelada por um bando de nomes famosos do humor brasileiro. Daí o que vemos é mais uma comédia nacional pouco inspirada, cujo potencial é arruinado pelos vícios do humor tupiniquim. E olha que esse filme nem chega a mirar um público totalmente popularesco.

Quando o Chocante é inserido dentro de elementos da cultura pop brasileira, rende as melhores piadas, incluindo as imagens da época de glória, com direito a mullets, pochetes e apresentações em programas de auditório reais. Pena que isso acaba sendo mais pano de fundo.

A preferência por retratar as vidas deles agora, longe dos holofotes, é pra lá de manjada e rende piadas igualmente pouco inspiradas, combinada com um roteiro sem polimento e aquela atuação típica que tanto queima o filme do cinema nacional.

Pior que ainda há momentos em que eles levantam coisas que sequer são desenvolvidas depois. Pra quê um deles uma hora mencionar que saiu do armário com toda intenção de ser uma piada recorrente se isso acaba totalmente esquecido quinze minutos depois?

Delfos, Chocante

E o personagem que é o novo membro do Chocante, para substituir o que morreu, uma daquelas pseudocelebridades que passa o tempo todo nas redes sociais, acaba sendo totalmente desperdiçado.

Ainda assim, o filme até que é simpático. Mesmo com os defeitos, ele ainda cria aquela boa vontade. Tivesse um tanto a mais de refinamento no texto, já teria ajudado bastante. Não é uma grande comédia, mas para quem lembra da febre dos conjuntos oitentistas e curte as comédias globais, pode ser que ache este filme chocante. Hah, viu só? Eu também sei fazer piadinhas óbvias!

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
chocante-reviewTítulo: Chocante<br> País: Brasil<br> Ano: 2017<br> Gênero: Comédia<br> Duração: 94 minutos<br> Distribuidora: Imagem<br> Diretor: Johnny Araújo e Gustavo Bonafé<br> Roteiro: Rosana Ferrão, Luciana Fregolente, Bruno Mazzeo e Pedro Neschling<br> Elenco: Bruno Mazzeo, Pedro Neschling, Marcus Majella, Lucio Mauro Filho, Bruno Garcia, Debora Lamm, Tony Ramos e Klara Castanho.