Carros 2

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Carros foi um filme que dividiu opiniões. Para muitos, como eu, foi o início da decadência criativa da Pixar, que no ano seguinte nos trouxe ainda outro filme morno, Ratatouille, e só foi se recuperar com Wall-e.

Outros tantos, como nosso amigo Cyrino, que resenhou o filme, gostaram bastante.

Esses dois grupos concordam, no entanto, que Carros não era um filme digno da história da Pixar. Até mesmo as bilheterias corroboram isso, pois não tivemos nenhum fenômeno de público. Então por que diabos foram fazer uma continuação justamente dele, ao invés de tantos outros longas mais interessantes da empresa? Bem-vindo a “Mais uma coisa que você não sabia sobre cinema”.

POR QUE DIABOS FAZER UMA SEQUÊNCIA DE CARROS?

Merchandising, meu amigo. Carros e Ratatouille foram filmes óbvios e sem criatividade cometidos pela Pixar. Ela compensou isso depois avançando a sétima arte com o sensacional Wall-e, onde conseguiram colocar mais de 40 minutos sem diálogos – e mesmo assim não ser nem um pouco chato.

A seguir veio Up. A inovação dessa vez veio na montagem inicial, que mostra toda a vida do casal. Simplesmente não dá para não se emocionar.

Agora analisemos isso comercialmente. Wall-e foi um risco tão absurdo (um desenho de crianças sem diálogos por 40 minutos? Preposterous!) que podemos considerar um milagre tanto que ele tenha sido lançado quanto que tenha tido uma bilheteria considerável.

Up é um filme cujo tema principal é… morte. Tente assisti-lo com crianças bem pequenas. Ou elas vão passar o filme inteiro chorando ou terão um monte de perguntas ao final da sessão. E o protagonista é um velhinho ranzinza, que sequer poderia ser vendido em forma de bonequinhos.

A impressão que dá é que a toda-poderosa Disney deu sinal verde para a Pixar produzir arte, desde que em seguida ela produzisse money, money, money, cash, cash, cash. E quais são os próximos três filmes da Pixar? Toy Story 3, Carros 2 e Monstros S.A. 2. A empresa que antes fazia apenas conteúdo original de repente parece estar limitada a fazer continuações por todo o futuro perceptível.

Toy Story, vá lá. Foi o primeiro longa deles e um tremendo sucesso. Monstros S.A. também é um filmão, divertido e engraçado como poucos. Mas e Carros? Por que diabos fazer uma continuação de um filme que nem fez tanto suce$$o assim?

Pois sabe o que esses três têm em comum? São os filmes da Pixar que mais venderam brinquedos. E, como fãs do George Lucas e Mel Brooks já sabem “merchandising is where the real money from the movie is made”!

Convenhamos: não é lá muito difícil vender carrinhos para meninos. Assim, embora ninguém considere Carros o melhor filme da Pixar, quando adultos estavam escolhendo presentes para meninos, comprar um carrinho é sempre uma opção segura. E se forem carrinhos de um filme, melhor ainda.

E é isso, amigo delfonauta, que explica essa avalanche de continuações da Pixar e, especialmente, a continuação de um filme tão sem sal quanto Carros.

Minha opinião? É triste que uma empresa que avançou o cinema, tanto como arte quanto como tecnologia, tenha se rendido a fazer filmes única e exclusivamente para faturar. E se fosse faturar em ingressos, vá lá, mas em brinquedos? Carros 2 é tão comercial de brinquedos quanto Kung Fu Panda. Será que pelo menos funciona melhor como filme? Bem-vindo à resenha de Carros 2 e do curta que o acompaha.

FÉRIAS NO HAVAÍ

O que despertou o interesse do Pixáiti em Carros 2 foi este prometido curta de Toy Story estrelado por Ken e Barbie. Aqui temos o casal mais famoso do mundo dos brinquedos fazendo uma patetada e perdendo a oportunidade de ir para o Havaí. Para fazer o Ken parar de chorar, os outros brinquedos decidem trazer o Havaí até eles.

É engraçadinho e tão fofo que chega a ser ofensivo. A parte mais legal, no entanto, é poder ver mais de alguns dos brinquedos que apareceram só um pouquinho em Toy Story 3, como o palhacinho deprimido, o grupo de “atores” ou, claro, o Buzz espanhol.

E é basicamente isso. Não é nem de perto o melhor curta “aperitivo” da Pixar, mas rende algumas risadas e muitos “óuns”.

CARROS 2

Após voltar de uma série de corridas, Relâmpago McQueen é desafiado para mais uma, e dessa vez ele resolve levar o caipira Mate na sua equipe. Mate, inocente que só, apronta várias confusões e acaba se envolvendo por acidente em uma trama envolvendo espionagem e conspirações internacionais.

Uma decisão acertada foi mudar o papel de protagonista do Relâmpago “Mé” McQueen para Mate, um personagem muito mais carismático e agradável. Claro, McQueen ainda tem destaque e a conspiração envolve, obviamente, as corridas nas quais ele está participando. Mas Carros 2 é, para todos os efeitos, uma história de Mate. Poderia até ter o subtítulo óbvio “Espião por Acidente”.

As inspirações para os novos personagens, tanto os vilões quanto os espiões bonzinhos, são os filmes clássicos do James Bond. Porém, as patetadas do Mate e o clima de comédia que permeiam a narrativa fazem com que Carros 2 tenha no remake de A Pantera Cor de Rosa sua contraparte mais óbvia. Em outras palavras, o que temos aqui é um filme de espionagem que se torna uma comédia porque seu protagonista é um tremendo patetão.

E sabe o que mais? Isso é bom. Carros 2 tem as características técnicas que esperamos da Pixar, como o visual lindo, a animação bem cuidada e a trilha sonora tremendona, mas felizmente não tem um roteiro tão fraco quanto o primeiro. A inevitável lição de amizade está lá, mas a trama é interessante e divertida, sem dar tanta atenção para a partezinha triste.

Até ação temos aqui. E boa. Várias cenas de perseguição e até uma luta de Carrotê (como é descrito por Mate). Carros 2 funciona tanto como comédia quanto como ação, e esses são dois gêneros que se misturam perfeitamente, não acha?

Como pontos negativos, temos a revelação do vilão, que é clichê e desnecessária (praticamente a mesma coisa de Speed Racer) e a dublagem nacional. O problema da dublagem é que vários dos personagens têm sotaques e os dubladores brasileiros fizeram alguns deles tão pesados que deixa difícil, para não dizer impossível, entender o que eles falam.

Muitos devem querer saber também da participação do tal carrinho brasileiro, uma das novas personagens mais divulgadas por aqui. Pois isso é mais uma semelhança entre Carros 2 e Speed Racer.

Se no filme dos irmãos Wachowski, o alardeado carro da Petrobrás aparece em terceiro plano de forma quase imperceptível, aqui a participação do carrinho brasileiro é igualmente sem importância, mas pelo menos leva uns dois segundos de primeiro plano – e mais nada de tempo de tela.

Acaba sendo aquele caso das pontas que o Rodrigo Santoro fez em Hollywood. Fazemos um tremendo escarcéu com a participação dele, e depois vemos que ele mal aparece. A mesma coisa pode ser dita do carro da Petrobrás em Speed Racer (provavelmente os milhões de reais mais desperdiçados da história) e do carrinho brasileiro em Carros 2. Não afeta a qualidade do filme, mas achei que interessaria à maior parte dos delfonautas, então taí. =D

Apesar de ser um comercial de brinquedos glorificado, Carros 2 pelo menos é um comercial divertido e vale o ingresso. Ainda fico triste em ver a Pixar indo por esse caminho, e este está muito longe do que ela fez de melhor no passado, mas é bem superior ao primeiro filme e especialmente a Kung Fu Panda. Só de não ter o Jack Black no elenco já conta a favor dele, no final das contas. =)