Capitão América: O Primeiro Vingador

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Finalmente chegou a tão esperada estreia do filme do Capitão América. E esse filme era uma incógnita para mim. Afinal, não se trata de um personagem “de verdade”, mas de uma propaganda política criada em época de guerra com objetivos nada nobres (nada relacionado a guerra é nobre).

Ficava em dúvida se o patriotismo exacerbado do personagem seria mantido. Afinal, isso há de afastar boa parte do público internacional médio, já que a maioria das pessoas odeia os EUA. Até a versão Ultimate do personagem acaba levando esse patriotismo como piada.

O próprio nome do personagem é irritante. Afinal, existem três Américas. Eu sei disso. Você sabe disso. E os estadunidenses sabem disso. Mas como os babacas arrogantes que são, eles continuam se considerando a única América. As outras são “do Sul” ou “Central”, mas eles não são “do Norte”. E fazem questão de enfiar essa marmelada no mundo inteiro. E sem lubrificante. Mais dolorido ainda são as pessoas que aceitam isso. Eu morro um pouco por dentro toda vez que vejo alguém se referir a um indivíduo natural dos Estados Unidos como “americano” e pior ainda quando chamam o país de “América”.

SEM MAIS DELONGAS

Parte política à parte, a resposta para a minha dúvida é que, ao contrário da versão Ultimate, o patriotismo original do personagem está aqui não como crítica, mas como uma característica boa, parte do que torna Steve Rogers o candidato ideal para ser a cobaia do soro supersoldado.

Para nós, brasileiros, chega a ser meio imbecil ver alguém tão bonzinho e tão patriótico. Mas até aí, se a ideia é fazer um filme do Capitão América, não tem porque transformarem ele no Wolverine. E essa é a parte boa: Capitão América é, acredito, o filme da Marvel mais fiel à fonte até o momento. Tudo que me lembro da origem do cara está lá, e a única diferença gritante que percebi foi no destino final do Caveira Vermelha. De resto, é uma adaptação direta das primeiras histórias do herói. Como tal, a maior parte dos problemas são da própria fonte, não de uma adaptação malfeita.

Aliás, a adaptação é muito boa, não apenas pela fidelidade. O visual é bonitão e até personagens secundários, como Dum Dum Dugan, estão iguaizinhos às suas contrapartes desenhadas. As piadas também são boas e as cenas de ação são o maior legal.

O próprio Chris Evans está muito bem no papel e convence bem mais como Capitão América do que como Tocha Humana.

POUCOS PROBLEMAS

Nesse aspecto, só acho que exageraram um pouco no tamanho dele antes do soro. Ele está pequeno demais, a ponto de estar quase monstruoso, e a cabeça parece não se encaixar no pescoço. Ficou tão exagerado que não está acreditável. Era possível fazer um cara pequeno e franzino sem exagerar tanto nesse aspecto, vide o Peter Parker do primeiro Homem-Aranha, antes de ele dormir e acordar bombadão. =)

Outra coisa que me incomodou foi o Caveira Vermelha. Ele passa a primeira metade do longa com a cara do Hugo Weaving, o que dá a entender que ainda vai passar pela transformação. Mas daí em uma cena ele revela que aquilo era uma máscara e, depois disso, nunca mais volta a usá-la. Ora, se ele usava máscara tinha algum motivo, o que houve que o motivo desapareceu de uma hora para outra? Era melhor que ele tivesse mostrado sua face real desde o início para não termos um rombo no roteiro desse tamanho.

Felizmente, esses são os únicos problemas que realmente diminuem o filme. Tirando isso, é seguro dizer que quem gosta do personagem vai pirar. Não apenas é a adaptação mais fiel da Marvel, como acredito ser a mais fiel desde Sin City.

Eu, por exemplo, não gosto do Capitão América, mas por gostar de quadrinhos e da Marvel, acabei achando o filme legalzudo por todos os motivos citados acima. É uma HQ na telona, afinal de contas. =)

GOD BLESS AMERICA

As crianças também devem gostar, mas minha dúvida é mesmo quanto ao moviegoer médio. O cara que conhece apenas os heróis mais populares, como Batman, Superman e Homem-Aranha, mas que gosta de ir ao cinema ver os blockbusters. Estamos acostumados a um certo nível de patriotismo nos filmes estadunidenses, especialmente de heróis, mas Capitão América eleva isso a um nível ridículo, que só deve fazer sentido nos EUA mesmo.

Some a isso a antipatia que o país carrega consigo, sobretudo aqui na nossa terrinha, e o resultado será uma incógnita. O filme é bom, exatamente como deveria ser um longa do Capitão América. Mas quem não conhece o herói, pode achar meio ridículo e acabar não entrando no clima.

Assim, se tem algo que pode prejudicar o desempenho do longa não tem nada a ver com o trabalho do diretor Joe Johnston e sua equipe, mas com a criação de Joe Simon e Jack Kirby. Eles criaram uma propaganda de guerra, e isso não dá para mudar (e se fosse para mudar, por que fazer esse filme?). Assim, o principal problema está no próprio personagem e na antipatia que o país que ele defende carrega internacionalmente. Veja, por exemplo, o seguinte diálogo:

Caveira: Eu vi o futuro, e nele não há bandeiras.

Capitão: Esse não é o meu futuro.

Ora, isso faz parecer que o vilão da história é o Capitão, não o Caveira. Afinal, a única utilidade real de bandeiras e nações é geográfica (saber onde fica o quê). Tirando isso, fronteiras, patriotismo e todas essas baboseiras servem apenas para dividir, gerar rivalidades, competições e hostilidades.

São essas coisas que nos impedem de trabalhar como uma única nação, um único povo, visando o bem-estar de toda a humanidade, não apenas de um grupo de pessoas. No final das contas, o Capitão América e seu inimigo, o Adolf Hitler, não são assim tão diferentes. Ambos lutam por uma raça, um povo, e não se importam de destruir todos que se oponham ou pensem diferente.