Bayonetta

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Recentemente eu falei aqui que adoro games que não se levam a sério.

Conforme eu expliquei, não tenho nada contra aqueles jogos onde heróis truculentos partem em aventuras épicas em busca de algum artefato místico. Pelo contrário, adoro este gênero, mas de vez em quando, um joguinho mais descompromissado, que foge um pouco do lugar comum supracitado, é tudo o que a gente precisa para se divertir, não acha?

Pois bem, o que se faz quando se encontra um jogo que se encaixa nas duas categorias mencionadas?

Resposta: detona o jogo e redige uma resenha um pouco atrasada para o DELFOS! o/

Sim, meu caro delfonauta, Bayonetta consegue a difícil façanha de ser uma enorme aventura épica, ao mesmo tempo em que não se leva a sério, brindando-nos com personagens caricatos e situações deliciosamente nonsense. =D

Aliás, se você tem um Xbox 360 ou um Playstation 3, eu recomendo que você pare de ler esta resenha agora mesmo e vá correndo adquirir uma cópia deste jogo. Não viu a nota ali em cima? Cinco Alfredos, cara! Vai fundo!

Na real eu só não recomendo Bayonetta para quem gosta de games hiper-realistas. Aqui, meu amigo, motos (e pessoas) andam pelas paredes, bruxas usam mísseis como se fossem pranchas de surf, e nossa protagonista tem um par de pistolas acopladas ao salto de seus sapatos. Ah, e a roupa dela é feita com seu próprio cabelo!

E isso só para citar o básico! =D

Enfim, sem mais delongas, vamos dissecar o jogo em ordem crescente de tremendice!

HISTÓRIA LEGALZINHA

O roteiro não é nada assim digno de um Oscar, mas consegue entreter. Especialmente depois que a adorável Cerezita entra na história. Sério, ela é a criança fictícia mais adoravelmente cuti-cuti desde a Boo, de Monstros S.A.. =]

A parada começa quando Bayonetta, a exuberante bruxa do título, acorda de um sono forçado de 500 anos, sem saber quem é, onde está, ou porque está ali. Ok, personagens amnésicos são um dos grandes clichês do mundo dos games, mas neste caso a trama se desenrola de maneira interessante. E, conforme ela vai relembrando de seu passado, vai reaprendendo a utilizar algumas habilidades sagazes!

Bayonetta é meio que jogada no meio de uma batalha milenar entre as Umbran Witches e os Lumen Sages. Cada clã tem em sua posse uma pedra mística, “os Olhos do Mundo”. Esta divisão é o que mantém as coisas balanceadas no plano sobrenatural, pois unir as duas pedras poderia desencadear eventos catastróficos.

Logicamente, nossa curvilínea bruxa carrega a tal pedra do seu clã, e é isto que faz dela o alvo principal das criaturas angelicais. Sua missão irá levá-la de Vigrid (cidade fictícia da Europa), ao Paradiso (céu), passando por algumas dimensões paralelas extra-corpóreas, até os confins do espaço sideral. o.O

GRÁFICOS ÓTIMOS

Os gráficos de Bayonetta são ótimos. A arquitetura das fases é caprichada, com visuais únicos e texturas bem trabalhadas. Por ser do mesmo diretor do primeiro Devil May Cry, há certa familiaridade com o que vimos no jogo do Dante, mas aqui tudo é mais vibrante, luminoso e colorido.

E os cenários não são só bonitos, como também são repletos de detalhes. Em alguns jogos preguiçosos de hoje em dia, temos áreas enormes praticamente vazias, o que eu acho um desperdício. Mas Bayonetta não sofre deste mal. Há muitos (muitos, mesmo) elementos nos cenários, e boa parte deles são destrutíveis!

Com isso, a quantidade de coisas acontecendo simultaneamente na tela consegue ser atordoante, às vezes. Exemplo: lá pelas tantas você está em uma batalha feroz contra sua rival, na asa de um avião em movimento (?!?). Dá uma pane e o avião começa a cair. Quando ele cai (no meio do oceano) levanta um turbilhão de água. As ondas revoltas explodem na fuselagem em milhões de gotículas, relâmpagos cortam o céu, a chuva cai ininterruptamente… E no meio disso tudo você continua sua luta, em tempo real! o.O

Nesse caos todo, vez ou outra o jogo tem uma queda de frame rate, que gera alguns slowdowns, mas isto é só em casos extremos. No geral, a jogatina flui em 60fps.

Os efeitos de iluminação em Bayonetta também merecem destaque. Fagulhas, raios de sol, tiros, explosões, tudo é muito bem executado. A simples sombra da personagem principal já é um espetáculo: sempre que é possível vê-la, sua silhueta apresenta delicadas asas de borboleta. Mas, na bruxa de carne e osso estas asas não aparecem (só quando se faz um pulo duplo). É um detalhezinho, eu sei, mas demonstra o carinho e atenção que o tremendão Hideki Kamiya e seu Little Angels Team teve na produção do jogo.

Por fim, mas não menos importantes, os personagens: tanto mocinhos quanto bandidos são muito bem modelados, e possuem designs estilosos e até um pouco extravagantes. Bayonetta, como você já deve saber, é provavelmente a protagonista mais gostosa gata do mundo dos games desde Lara Croft! o/

Vejamos: longos cabelos pretos, olhos azuis, pele branquinha, pintinha no canto da boca, óculos de armação grossa, busto avantajado, cinturinha fina, quadrilzão, pernas longas… Tá bom para você? =D

Os chefes também merecem destaque, pois são belíssimos. Além de gigantes, eles geralmente possuem centenas de pequenos mimos e bijuterias que lhes conferem um ar nobre e imponente. Fortitudo, o enorme dragão de duas (ou seriam três?) cabeças é deslumbrante. Seu ser imenso parece uma estátua viva de mármore, revestida com uma carapaça de ouro e pedras preciosas. É de encher os olhos!

E já que falamos nos detalhezinhos ali em cima, coisinhas mínimas como dobras em roupas, brilhos em jóias, e reflexos em vidraças e lagos contribuem ainda mais com a riqueza gráfica do jogo.

PERSONAGENS & SOM EXCELENTES

É difícil falar dos personagens deste jogo sem falar do som, pois eles estão intimamente ligados. O time de dubladores merece ser aplaudido em pé, pois garantiu boa parte do “charme” que o jogo tem.

Bayonetta, claro, é a mais tremendona, com uma personalidade marcante e singular. Ela é sexy ao extremo, mas o seu lado badass do tipo “atiro antes de perguntar” é o que realmente se destaca.

A dublagem contribui muito com isso: é forte, mas ao mesmo tempo provocante e misteriosa como deve ser. Ah, e ela fala com aquele inglês carregado de sotaque britânico, que eu, particularmente, acho demais! =D

Se colocássemos num liquidificador um pouco de Lara Croft, mais uma dose de uma stripper bem safada, com uma porção de Dante, do Devil May Cry, o resultado seria Bayonetta. E esta, meu caro, é uma receita tremendona!

Mas nem só de Bayonetta é feito este jogo. O elenco de apoio também dá um show de personalidade, com excelente atuação nos diálogos. Novamente, ponto para as ótimas escolhas do elenco de voz.

Os seres angelicais, por sua vez, falam um “dialeto” estranho, tipo aquela entidade mística que te passa as missões em Shadow of the Colossus, manja?

Os efeitos sonoros, tiros, gritos, explosões, e tudo o mais também são muito bons. Tudo tremendamente compatível com a pintudice de um sistema de som 5.1. Precisa de mais?

E já que estamos falando de áudio, não podemos deixar de fora a trilha sonora. Ela é… Questionável. Veja bem, não estou dizendo que é ruim, mas também não estou dizendo que é boa. Vai ter quem ame, vai ter quem odeie… Pessoalmente, eu mais odeio do que amo. =D

Há lindas composições instrumentais (destaque para a música em piano que toca na primeira vez que você passa por Vigrid), que contribuem para criar aquela atmosfera épica nos momentos mais tremendões.

Se ficasse só nisso estaria perfeito, mas o que você mais vai ouvir durante o jogo é a maldita música tema da personagem, Misterious Destiny. Esta consiste em um J-Pop grudento, que fica bem irritante depois da terceira ou quarta vez que você escuta. Ouça abaixo e tire suas próprias conclusões.

HUMOR SAGAZ

Logicamente, como bom representante dos “jogos que não se levam a sério”, Bayonetta diverte, e muito!

Seja pelos diálogos cuidadosamente ambíguos, seja por situações totalmente absurdas, seja pela breguice extravagante que o jogo abraça sem medo de ser feliz, você inevitavelmente vai se pegar rindo enquanto joga.

Há muitas situações cômicas no jogo: pole dance no meio de uma luta, trocadalhos do carilho com as palavras witch e bitch, pausas categóricas para posar para fotos no meio de uma batalha contra uma dúzia de inimigos, o desdém com que ela trata bosses que têm 200 vezes o seu tamanho, ou ainda, personagens que esquecem de todo o resto enquanto admiram o generoso decote da protagonista. =]

Há quem diga que o jogo é sexista, que Bayonetta degrada a imagem das mulheres, e coisa e tal. Tudo frescura! Sexista pode até ser, mas de um modo extremamente divertido e que, no fundo, tira um sarro da própria cultura pervertida pop japonesa, com suas personagens de animê/mangá peitudas em trajes mínimos.

JOGABILIDADE SUPREMA

Esta, meus caros, é definitivamente a cereja do bolo deste jogo. Sem exagero, há tempos eu não via uma jogabilidade tão elaborada quanto em Bayonetta. Ela é sólida o bastante para os iniciantes pegarem a manha rapidamente, e ao mesmo tempo é profunda o suficiente para os jogadores hardcore sofrerem um pouco para acertar o timing dos botões em combos mais elaborados.

Cada nova arma que você adquire abre um imenso leque de novas combinações e possibilidades. E o melhor, você pode deixar até dois kits de armas equipados (digo kits porque você pode equipar armas nas mãos e nos pés), bastando apertar um botão para alternar entre eles.

Há também os movimentos especiais com os cabelos, que são um show à parte. Sério, o cabelo desta gata faz tantas coisas que se as madeixas da Sindel, de Mortal Kombat (lembra dela?), vissem, entrariam de volta na cabeça de vergonha. =D

Com Bayonetta, os cabelos entram por um portal (?!?) e quando saem, adquirem as mais variadas formas: um punho gigante para socar os inimigos, um pé gigante (de salto alto, claro), para pisoteá-los, ou, em situações específicas, variados tipos de monstros para dar “aquela” finalizada nos adversários!

E, como a roupa dela é feita com os próprios cabelos, nestas horas boa parte da vestimenta se esvai, então podemos ter um vislumbre rápido da bruxa em (quase) toda sua exuberância!

Mas espere! Ainda não acabou: temos também os movimentos especiais de tortura. Quando você enche o medidor específico, lhe é concedido o poder de dar cabo dos inimigos de algumas maneiras que até o mestre Jigsaw, da série Jogos Mortais, teria uma pontadinha de inveja. Donzelas de ferro, guilhotinas e até uma motosserra gigante são alguns dos “brinquedinhos” utilizados.

Ah, sim, o Witch Time é o que torna a jogabilidade ainda mais divertida! Funciona assim: esquive-se de um ataque no momento certo e todo o mundo, com exceção de você, ficará em câmera lenta por alguns segundos. É neste intervalo que você faz a festa e destroça quem estiver no caminho! Domine esta técnica e será possível linkar vários Witch Times consecutivos, o que é deveras útil para conseguir uma medalha (quiçá um troféu) de platina.

Esta habilidade também é empregada fora das batalhas de maneiras bastante engenhosas. Exemplo: há uma série de chafarizes expelindo jatos de água na sua frente. Com o tempo desacelerado, você pode “andar sobre a água” e usar os jatos como plataformas! Aliás, os momentos de câmera lenta envolvendo água resultam em composições belíssimas, com gotículas suspensas no ar no melhor estilo Matrix.

Por ter uma jogabilidade tão rica, Bayonetta é o tipo de jogo que inevitavelmente maltrata um pouco o controle. Os famigerados button mashings estão presentes, bem como situações onde você deve girar loucamente a alavanca analógica.

E, em algo herdado de Resident Evil 4, há vários momentos em que, no meio de uma cutscene legalzuda, um comando aparece de surpresa na tela por meio segundo. Conselho de amigo: nunca largue o controle de lado enquanto assiste às ceninhas.

Por fim, as batalhas contra os enormes bosses são muito criativas e bem distintas entre si. Se em uma há o típico esquema de um game de plataforma, em outra você estará surfando em um pedaço de fuselagem no meio do oceano, tentando chegar perto o bastante para esmurrar o bicho.

CONCLUSÃO DELFIANA

Aí você pergunta: “Rodrigo, se o jogo é tão tremendão, porque você não deu um Selo Delfiano Supremo pra ele?”.

Simples: eu ainda sou novato no DELFOS, e não tenho a pintudice necessária para dar um Selo Delfiano Supremo! o.O

Brincadeirinha… Na real, eu não brindei o game com a glória máxima do Selo por três motivos: primeiro, o chapter VIII, Route 666. O nome é true, eu sei, mas a fase é sofrível. Alguém na produtora achou que Bayonetta ficaria ainda mais pintuda em cima de uma moto. O resultado é uma fase chata, cheia de bugs, com comandos imprecisos e que não acrescentam nada ao game. É tipo aquela parte de moto em Final Fantasy VII, do fossilizado Playstation 1: parece legalzuda, mas na prática é bem tosca.

Segundo motivo: chapter XIV, intitulado Isla Del Sol. Problema parecido com o ali de cima. Alguém achou que Bayonetta surfando pelo ar em um míssil seria legal. Fail. Além de absurdamente longa e chata, a fase não é recomendável para pessoas de estômago fraco. Quando você esquiva, a tela toda gira! E acredite, você vai ter que se esquivar muito! O resultado é algo tipo este jogo aqui (te desafio a jogar por 15 minutos sem passar mal), mas dez vezes mais nauseante!

Terceiro motivo: a lojinha The Gates of Hell é muito careira! Sério, o Rodin é um tremendo amigo da onça, pois os preços do seu estabelecimento são absurdos. Pirulitos, golpes, e tal, até são acessíveis; mas os acessórios (que conferem novos poderes à bruxa) e os upgrades das armas são caríssimos! Deve haver, sei lá, uns 30 acessórios diferentes, e eu consegui comprar míseros dois no jogo inteiro. Sei que isso é para aumentar o fator replay do game, mas mesmo assim é uma sacanagem! =P

Aliás, reza a lenda que a versão Xbox360 do jogo é tecnicamente superior à do Playstation 3, que foi adaptada meio “nas coxas”. Eu só joguei a do XCaixa, então não posso afirmar. Mas, clicando aqui você pode ler um texto falando exclusivamente sobre isso, bem como ver alguns vídeos comparativos entre as plataformas.

Enfim… Bayonetta é um jogo singular, excelente em praticamente todos os aspectos, salvo os três probleminhas supracitados. Se tivesse que compará-lo com algo já visto, eu diria que ele é uma versão melhorada de Devil May Cry. Parece que o Hideki Kamiya pegou tudo o que funcionou bem no jogo dos demônios chorões e deu uma polida de mestre!

Este game é mais do que recomendado para quem curte aqueles “jogos que não se levam a sério”, para os fãs de gigantescas aventuras épicas, ou simplesmente para quem quer um jogo de ação acima da média!

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