Assassin’s Creed Rogue

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Eu não conheço ninguém, na imprensa gamer ou no público, que achou legal o fato de termos dois Assassin’s Creed em disco este ano. Convenhamos, com títulos lançados anualmente todo ano desde 2009, a série não carece de novos jogos. Se tanto, as pessoas costumam é reclamar da quantidade de Assassin’s Creed lançados.

Pois se Assassin’s Creed: Unity ainda ganhou uma recomendação delfiana, infelizmente o mesmo não vai acontecer com Rogue, o lançamento menor e focado na geração passada, pois este cheira a um caça-níquel bem sem vergonha.

Antes de elaborarmos este aspecto, no entanto, falemos um pouco do que ele apresenta.

UM ASSASSINO TEMPLÁRIO

Rogue acontece na mesma época histórica dos jogos III e IV. Ou seja, nos arredores dos EUA por volta do século 18. Este é o período menos interessante dentre todos os abordados na série, o que foi bastante discutido quando conversamos com o roteirista da série. Ainda assim, esta época e local ganhou três jogos, mais até do que a Itália renascentista.

A história, no entanto, é bem legal. Aqui você joga com um assassino chamado Shay Cormac. Ele cumpre missões ordenadas por um Achilles Davenport jovem, que você deve lembrar como o mentor de Connor no terceiro jogo. O problema é que as missões, que envolvem ir atrás das famosas Pieces of Eden e de templos dos precursores, vão ficando cada vez mais perigosas e com menos consideração com a humanidade, o que faz com que Shay se afaste da irmandade.

Ele é acolhido pelos templários, e acaba se identificando bem mais com a forma que eles estão abordando a caça pelas mesmas relíquias. Lá, ele conhece Haytham, o pai de Connor e filho do Edward, que acaba sendo seu novo mentor. Ter se tornado um templário o torna um alvo dos assassinos, colocando-o diretamente contra aqueles que o treinaram.

O legal é que os templários nunca foram mostrados na série como vilões, de forma pura e simples. Assassin’s Creed sempre teve muitos tons de cinza, e a principal diferença entre assassinos e templários é muito mais nos meios usados para se atingir o mesmo objetivo.

Essa viradinha, de assassino para templário, até demora para acontecer. Das seis sequências do jogo, as duas primeiras ainda mostram Shay como um assassino. A história não traz grandes novidades, e você já viu coisas parecidas muitas vezes, mas ela é bem contada e interessante, além de trazer de volta vários aspectos (como os precursores) que foram esquecidos em Unity.

Unity foi basicamente um recomeço, enquanto este continua a história contada até o momento. Com isso, acaba até sendo melhor e mais interessante do que a que vemos na iteração next-gen deste ano. Do jogo, no entanto, não se pode dizer o mesmo.

EU JÁ VI ISSO ANTES

Unity tinha problemas. Muitos até. Mas ele parecia ser de fato um novo Assassin’s Creed, inclusive com novos controles e outras novidades. Já Rogue, bem… tem o escopo de um DLC.

Isso fica claro desde o início, já que seu menu é exatamente o mesmo de Black Flag. As fases no tempo atual também se passam no estúdio de games da Abstergo, que é igualzinho ao que era ano passado, com a diferença de que algumas salas nunca são abertas. A principal cidade do jogo, Nova Iorque, também é a mesma que tinha aparecido antes, com a mesma distribuição de prédios e tudo mais.

Seus movimentos, desde a animação até o controle ou o feeling são iguais ao do jogo anterior. Os controles do navio são os mesmos, e as batalhas navais continuam como sempre foram, com a única novidade de que agora seu navio também pode ser abordado. Até as músicas que sua tripulação canta no mar são as mesmas. Não apenas as mesmas composições, mas as mesmas gravações.

Tem algumas coisas que Unity abandonou e que fizeram falta. Coisas como a história dos precursores, as telas de load onde você pode correr rumo ao infinito, a energia que recarrega sozinha e mesmo a conversa com suas vítimas são bem-vindas aqui. E o mundo atual também faz falta, ainda que tenham escolhido repetir logo a versão menos interessante já apresentada, especialmente se comparadas às fases do Desmond, que sempre foram muito boas.

Tem tão poucas novidades aqui que eu consigo falar delas em um parágrafo. Quer ver? Olha só: tem uma espécie de tirolesa horizontal, que permite que você vá de uma construção a outra de forma bem legal. Além disso, tem um tipo de escalada nova, que envolve um poço de elevador. Se você encontrar um, sobe automaticamente, tipo aquelas cordas que já são antigas na série. A diferença é mesmo a animação. E é isso.

Todo o resto é Black Flag. Se tinha no Black Flag, tem aqui. Não é nem o caso de o jogo ser mais do mesmo, ele é literalmente o mesmo, com algumas missões novas. E são poucas, já que seis sequências é o menor número apresentado pela série até o momento. Para você ter uma ideia, o Unity tem 12, e eu o critiquei por ter uma história curta demais.

MAS TEM MAIS

Embora tenha apenas seis sequências, tem bastante coisa à parte para fazer. O jogo tem três mapas, sendo dois de navegação e um de cidade (Nova Iorque). Os mapas de navegação funcionam como no Black Flag, com várias ilhas, naufrágios e pontos de interesse. Você vai até um ícone e lá encontra algumas coisas para fazer, tipo alguns colecionáveis ou sidemissions. Daí é hora de ir para outra.

Particularmente, não acho que a exploração por navio é tão agradável quanto correr pelos telhados e considero um tanto chato navegar até uma ilha, descer do barco, pegar umas porcariazinhas e voltar para o navio para fazer tudo de novo. Por causa disso, este acabou sendo o Assassin’s Creed que eu terminei com a menor taxa de plenitude, e especialmente por isso, em menos tempo.

Tem alguns tipos de sidemissions como tomar esconderijos de gangues e coisas assim, mas nada muito especial. A principal novidade é que, como agora você é um templário, é comum ter assassinos te caçando, escondidos nos mesmos lugares do cenário que você costumava se esconder. É uma inversão de papéis divertida, mas não foi implantada com muito carinho e é bem pouco usada na história.

Além disso, em todos os jogos anteriores, fica claro que os templários são uma organização enorme que praticamente domina toda a sociedade. Os assassinos, por outro lado, são os rebeldes que lutam contra o status quo e contra um inimigo muito mais poderoso.

Seria legal se na história de Rogue tivessem seguido isso, te colocando desta vez no papel do mais poderoso. Ao invés disso, as missões (tanto de história quanto as sides) são no mesmo esquema de sempre, e agora os assassinos é que parecem uma organização enorme e infiltrada em todos os campos da sociedade.

MOMENTOS EXCELENTES

Tem alguns momentos em Rogue que lembram porque essa série fez tanto sucesso, no entanto. Desde os pequenos, como um grupo de pinguins pulando ao mesmo tempo na água quando você se aproxima; até a missão que permite que você controle um Man O’ War. Não, não falo da banda, mas daqueles navios de guerra enormes e poderosíssimos. É uma pena que não seja possível você transformar o seu próprio navio em um desses.

A trilha sonora, uma constante na série, também é excelente, com um monte de músicas muito bonitas. E tem uma fase logo no início, que se passa em uma igreja de Portugal, que lembra os melhores momentos do Brotherhood. Pô, eu realmente gostava de explorar aquelas igrejas.

Outra fase que é muito boa é a “última”, chamada de “Non Nobis Nomine”, que tem momentos de plataforma que infelizmente se tornaram muito pouco usados na série. Alguns dos seus alvos também são personagens importantes dos jogos anteriores, mas não vou citar exemplos para não estragar a surpresa.

A campanha no começo parece que vai ser totalmente focada em navegação, mas depois muda e foca no stealth tradicional da série. Daí, depois de um tempinho, volta para a navegação. Ela acaba tendo um timing muito bom, variando bastante os tipos de missões e aproveitando as duas jogabilidades totalmente diferentes: a terrestre e a náutica.

E o final é muito bom, com um gancho para Unity muito legal, mostrando que as duas histórias estão bastante interligadas.

EI, ROGUE NÃO É O NOME DA VAMPIRA DOS X-MEN?

A sensação que dá ao jogar Assassin’s Creed Rogue, com todo o material aproveitado dos capítulos anteriores, é que ele foi originalmente programado para ser um DLC de Black Flag. Fosse isso, ou um joguinho baixável à parte, como Far Cry 3: Blood Dragon, eu provavelmente o avaliaria muito bem.

No entanto, a ganância foi maior e resolveram vendê-lo como um jogo completo, coisa que ele não é. Assim fica difícil recomendar, ainda que sua campanha tenha momentos muito legais e avance mais a história do que Unity.

O FIM DE UMA ERA

Com esta resenha, encerramos a cobertura delfiana da geração do PS3, Xbox 360 e Wii. Claro, ainda vamos analisar jogos multiplataformas que saem também para esses consoles, mas dificilmente veremos outro lançamento exclusivo, que não saia também para a nova geração. Então aí vai umas curiosidades para encerrar esta era.

– A primeira resenha que publicamos desta geração foi de Gears of War, em 2007.

– Também foi nessa geração que começamos a fazer resenhas de consoles, iniciando pelo Xbox 360 e eventualmente resenhando também os outros dois. Na época que escrevi a resenha do 360, eu nunca tinha lido uma resenha de console antes e, pelo que eu sei, o DELFOS foi o primeiro (ou pelo menos um dos primeiros) site do mundo a fazer resenhas de consoles, coisa que se tornou bem comum na nova geração.

– De 2007 a 2014, publicamos 94 resenhas de games desta geração, além de algumas da geração anterior (PS2, etc) e da nova geração (PS4 e afins) que foram intercaladas aí no meio, especialmente este ano e em 2007. Espero que nossa cobertura tenha sido satisfatória, e continuaremos com ela, agora na nova geração. Mantenha-se delfonado!

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